Olhe para longe.
Os olhos de safira escureceram quando travaram com os dela. Sua respiração quente bateu contra sua bochecha áspera.
Afaste-se.
Ele se aproximou. Seus cílios escuros abaixaram quando seus olhos desceram para os lábios rosados dela.
Só um beijo. Um abraço.
Bear latiu.
Ele parou, chocado com o que quase fez, mas seu coração estava pesado porque não tinha feito. Ele olhou para Bear, agradecido por ela ter visto o que Naomi obviamente não podia ou se recusara a ver.
— Eu não posso — disse ele, afastando-se de seu alcance.
— Por favor, Jeremy. Deixe-me te ajudar. Apenas fale comigo, você pode me dizer qualquer coisa. Você é meu…
— Pare! — Doloridos olhos correram para os dela antes que ela pudesse dizer a palavra que iria matá-lo. — Não me pergunte o que está errado. Você não tem o direito de perguntar.
No segundo em que sua expressão mudou, ele desejou que pudesse pegar as palavras de volta. A fachada do arcanjo feliz que ele construiu cuidadosamente, estava rachando. Ele não sabia quanto tempo poderia aguentar.
Então, quando seu rosto se transformou de mágoa para raiva e seus olhos se iluminaram com um fogo azul, ele soube que estava a segundos de puxá-la em seus braços e levá-la até a cama, que estava a apenas alguns passos de distância.
— Eu tenho todo o direito de perguntar. Eu me preocupo com você. Você é meu irmão...
— Droga, Naomi! Você não consegue ver o que está fazendo comigo?
— Estou tentando ajudar você.
— Você não está ajudando. Eu não posso estar aqui com você assim.
— Assim como? Me importando com você?
— Sim! Você não consegue ver que isso me machuca mais do que qualquer outra coisa? Você se importar comigo como uma irmã.
— O que há de errado com isso?
— Nada… tudo. Eu sei que deveria ser grato por qualquer pedaço de você que eu possa ter. Ter você como minha irmã deveria ser o suficiente. Ter meu irmão e minha família comigo deveria ser suficiente. Eu quero que seja, mas não é porque eu...
Ele cerrou os dentes antes de deixar as palavras saírem de seus lábios. Se as deixasse ir, não haveria como voltar atrás.
— Oh, Jeremy, já falamos sobre isso antes. Eu pensei que você havia concordado.
— Eu sei. Eu sei. Você acha que esses sentimentos que tenho por você estão na minha cabeça. Mas não estão, Naomi. Estão aqui. — Ele bateu a mão no peito nu. — Está tudo aqui. Tudo por você, porque você é tudo o que posso pensar, tudo o que eu sonho. E eu não deveria pensar em você... não desse jeito. Eu não posso mais fazer isso.
— O que você está dizendo?
— Eu preciso ir embora.
Ela piscou, incrédula. — Você não pode. Vai magoar o Lash. E seus pais? Você não pode simplesmente ir.
— Não há outra maneira. Gabrielle me concederá licença de longo prazo na Terra se eu precisar, tenho certeza disso. — Ele olhou para o rosto devastado dela e se perguntou quanto tempo ele poderia viver uma vida separada dela e de sua família. — Eu tenho que me afastar por tempo suficiente para que quando voltar, eu possa amar você como uma verdadeira irmã.
Se isso sequer é possível . Ele engoliu o nó na garganta ao pensar em nunca mais a ver ou a sua família.
Ele foi até a beirada da janela, colocando as asas perto do corpo, pausou. Virando-se para Naomi, ele se aproximou dela. Sua mão gentilmente acariciou sua bochecha.
— Diga ao meu irmão que vou sentir falta dele.
— Não. Diga você mesmo. — Uma lágrima rolou por sua bochecha, molhando seu polegar.
Ele baixou a mão e balançou a cabeça, afastando-se dela antes de mudar de ideia. — Será melhor para todos nós se não fizer. Por favor, faça isso por mim, Naomi.
Sem ouvir sua resposta, ele saltou da borda, caindo livre no céu. Quando seu corpo disparou pela montanha, o vento passou, enchendo seus ouvidos com ruído branco e bloqueando os soluços de Naomi. Quando ele estava prestes a bater no chão, abriu suas asas e levantou seu corpo para cima, evitando o chão por apenas alguns metros. Ele foi para o Salão do Julgamento, o único lugar quieto onde poderia ficar sozinho e pensar em como iria convencer Gabrielle a deixá-lo ir.
Abrindo as pesadas portas de mogno, ele entrou na sala escura. Velas se alinhavam nas paredes. No outro extremo da vasta sala, situada no alto de uma plataforma de três andares, havia uma alta cadeira feita de madeira. A almofada de veludo vermelho brilhante reluzia sob as dezenas de velas que cercavam o Salão do Julgamento. Ele esteve na sala dezenas de vezes com Lash, e às vezes com outros anjos que tinham caído. Ele sempre ficava de lado, observando Michael realizar o julgamento, imaginando como seria se ajoelhar na frente do poderoso arcanjo, vulnerável, pedindo perdão e sendo levado de volta ao céu. Embora ele ignorasse as regras de tempos em tempos, nunca pensara em ir contra a lei celestial ao ponto de ser banido. Por que faria? Ele tinha tudo o que ele precisava ou queria… até agora.
As chamas cintilaram quando ele caminhou rapidamente para a cadeira de Michael e se ajoelhou diante dela. Sua cabeça caiu em direção ao peito. Ele não precisava mais se perguntar como os outros se sentiam nessa posição, ele sentia em cada parte de seu corpo. Seu peito ficou pesado quando as últimas semanas passaram por sua mente. Lutando contra Lash, desejando a esposa de seu irmão, sonhando com uma vida em que seu irmão não existisse para que pudesse tê-la.
— Perdoe-me, irmão.
Sua voz pesada ecoou na câmara silenciosa. Ele lutou tanto para reconquistar a confiança de Lash, não queria perder seu irmão novamente. No entanto, o pensamento de sair e nunca mais ver sua família ou Naomi novamente estava rasgando seu coração, arrancando seu coração pedaço por pedaço. Ele não podia ficar, mas também não podia ir.
— Ajude-me a encontrar um caminho.
Uma brisa fresca passou por sua nuca, seguida por um toque em seu ombro. Ele ficou de pé e girou ao redor.
— Gabrielle! — Por que ela estava aqui? Anjos não entravam na sala a menos que precisassem.
— Eu estava… eu estava... — Ele passou a mão pelo cabelo enquanto examinava a sala, procurando por uma desculpa. — Eu estava procurando por uma vela extra.
Ele pegou uma na prateleira, xingando quando a cera quente espirrou em sua mão. Esfregando a mão, ele olhou para Gabrielle. Seu estômago se contorceu com a expressão em seu rosto. Era o mesmo olhar que Naomi lhe dera... pena.
Naomi lhe contara o que havia acontecido? Ele não conseguia pensar em nenhum outro motivo pelo qual Gabrielle, que sempre era toda focada nos negócios, olharia assim para ele. Que patético. Até o arcanjo mais forte sentia pena dele.
— Ah, droga, desculpe por isso.
Por que ela estava parada ali?
Diga algo. Me repreenda. Me jogue para fora. Qualquer coisa.
— Faz um tempo desde que este corpo teve cera quente sobre ele. — Ele piscou suas covinhas, esperando que ela entendesse a sua insinuação e chutasse sua bunda deplorável para fora da sala.
— Jeremiel. — Ela soltou um suspiro lentamente. Seus cílios escuros se fecharam por um momento, depois se levantaram. Olhos esmeralda suaves o olhavam com ternura. Ela estava com medo de que ele se partisse.
Ele deu um passo para trás, sorrindo com tanta força que seus dentes estalaram.
Vamos, Gabrielle. Me mande parar com isso. Me castigue. Só não olhe para mim assim. Eu não posso aguentar isso de você também.
O silêncio encheu a sala. Seu coração batia em seus ouvidos, o tempo passando enquanto esperava Gabrielle responder.
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