O ridículo, a falsidade, o insulto acumulados sôbre êle, provocaram indignados protestos, mesmo por parte da imprensa secular. "Tratar um assunto de tão imponente majestade e terríveis conseqüências," com leviandade e linguagem baixa, declaravam mesmo homens mundanos ser "não meramente brincar com os sentimentos de seus propagadores e advogados," mas "fazer zombaria do dia de juízo, escarnecer da própria Divindade, a desdenhar os terrores de Seu tribunal." - Bliss.
O instigador de todo mal procurava não sômente contrariar o efeito da mensagem do advento, mas destruir o próprio mensageiro. Miller fazia aplicação prática da verdade das Escrituras ao coração de seus ouvintes, reprovando-lhes os pecados e perturbando-lhes a satisfação própria; e suas palavras claras e incisivas despertaram inimizade. A oposição manifestada pelos membros da igreja à sua mensagem, animava as classes inferiores a irem mais longe; e conspiraram alguns dos inimigos para tirar-lhe a vida quando saísse do local da reunião. Santos anjos, porém, estavam na multidão, e um dêles, certa vez, sob a forma de homem, tomou o braço dêsse servo do Senhor e pô-lo a salvo da turba enfurecida. Sua obra ainda não estava terminada, e Satanás e seus emissários viram seus planos frustrados.
A despeito de tôda a oposição, o interesse no movimento adventista continuou a aumentar. As congregações cresceram das dezenas e centenas para milhares. Grande aumento houve nas várias igrejas, mas depois de algum tempo se manifestou o espírito de oposição a êsses conversos, e as igrejas começaram a tomar providências disciplinares contra os que tinham abraçado as opiniões de Miller. Êste ato provocou uma resposta de sua pena, em escrito dirigido aos cristãos de tôdas as denominações, insistindo em que, se suas doutrinas eram falsas, se lhe mostrasse o êrro pelas Escrituras.
"Que temos nós crido," disse êle, "que não nos tenha sido ordenado pela Palavra de Deus [YAHWEH], a qual, vós mesmos o admitis, é a regra e a única regra de nossa fé e prática? Que temos nós feito que provocasse tão virulentas acusações contra nós, do púlpito e da imprensa, e vos desse motivo justo para excluir-nos [os adventistas] de vossas igrejas e comunhão?" "Se estamos errados, peço mostrar-nos em que consiste nosso erro. Mostrai-nos, pela Palavra de Deus [YAHWEH], que estamos enganados. Temos sido bastante ridicularizados; isso nunca nos poderá convencer de que estamos em êrro; a Palavra de Deus [YAHWEH], ùnicamente, pode mudar nossas opiniões. Chegámos às nossas conclusões depois de refletir maduramente e muito orar, e ao vermos sua evidência nas Escrituras." - Bliss.
Século após século as advertências que Deus enviou ao mundo por Seus servos foram recebidas com igual incredulidade e descrença. Quando a iniqüidade dos antedliluvianos O moveu a trazer o dilúvio sôbre a Terra, primeiramente Êle lhes fêz saber Seu propósito, para que pudessem ter oportunidade de abandonar seus maus caminhos. Durante cento e vinte anos lhes soou aos ouvidos o aviso para que se arrependessem, não acontecesse manifestar-se a ira de Deus a fim de destruí-los. A mensagem parecialhes, porém, uma história ociosa, e nela não creram. Fazendo-se audaciosos em sua impiedade, caçoavam do mensageiro de Deus, recebiam frivolamente seus apelos e até o acusavam de presunção. Como ousa um homem levantar-se contra todos os grandes da Terra? Se a mensagem de Noé era verdadeira, por que todo o mundo não o viu e creu? A palavra de um homem contra a sabedoria de milhares! Não queriam dar crédito ao aviso, nem buscar refúgio na arca.
Escarnecedores apontavam para as coisas da natureza - a sucessão invariável das estações, o céu azul que nunca havia derramado chuva, os campos verdejantes refrescados pelo brando orvalho da noite - e exclamavam: "Fala êle parábolas?" Desdenhosamente declaravam ser o pregador da justiça um rematado fanático; e continuavam mais àvidamente na busca de prazeres, mais decididos em seus maus caminhos do que nunca dantes. Mas a incredulidade que alimentavam não impediu o acontecimento predito. Deus suportou por muito tempo sua iniqüidade, dando-lhes ampla ocasião para o arrependimento; ao tempo designado, porém, os juízos de YAHWEH caíram sôbre os que haviam rejeitado Sua misericórdia.
O Messias declara que existirá idêntica incredulidade no tocante à Sua segunda vinda. Como os contemporâneos de Noé não o conheceram, "até que veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também," nas palavras de nosso Salvador, "a vinda do Filho do homem." S. Mateus 24:39. Quando o professo povo de Deus se estiver unindo com o mundo, vivendo como vivem os do mundo, e com êles gozando de prazeres proibidos; quando o luxo do mundo se tornar o luxo da igreja; quando os sinos para casamentos estiverem a tocar, e todos olharem para o futuro esperando muitos anos de prosperidade temporal, sùbitamente então, como dos céus fulgura o relâmpago, virá o fim de suas resplendentes visões e esperanças ilusórias.
Assim como Deus enviou Seu servo para advertir o mundo do dilúvio a vir, enviou também mensageiros escolhidos para tornar conhecida a proximidade do juízo final. E como os contemporâneos de Noé se riam com escárnio das predições do pregador da justiça, assim, no tempo de Miller, muitos, mesmo dentre o povo professo de Deus, mofavam das palavras de adveradvertência.
E por que foram a doutrina e pregação da segunda vinda do Messias tão mal recebidas pelas igrejas? Ao passo que para os ímpios o advento do Senhor traz miséria e desolação, para os justos está repleto de alegria e esperança. Esta grande verdade tem sido o consôlo dos fiéis de Deus através de todos os séculos. Por que se tornou ela, como seu Autor, "uma pedra de tropêço e rocha de escândalo" a Seu povo professo? Foi nosso Senhor mesmo que prometeu a Seus discípulos: "Se Eu fôr, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo." S. João 14:3. Foi o compassivo Salvador que, antecipando-Se aos sentimentos de solidão e tristeza de Seus seguidores, incumbiu anjos de confortá-los com a certeza de que Êle viria outra vez, em pessoa, assim como fôra para o Céu. Estando os discípulos a olhar atentamente para cima a fim de apanhar o último vislumbre dAquele a quem amavam, sua atenção foi despertada pelas palavras: "Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Êsse Yahshua, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o céu O vistes ir." Atos 1:11. Pela mensagem do anjo acendeu-se de novo a esperança. Os discípulos "tornaram com grande júbilo para Jerusalém. E estavam sempre no templo, louvando e bendizendo a YAHWEH." S. Lucas 24:52 e 53. Não se regozijavam porque Yahshua dêles Se houvesse separado, e tivessem sido deixados a lutar com as provações e tentações do mundo, mas por causa da certeza dada pelo anjo de que Êle viria outra vez.
A proclamação da vinda do Messias deveria ser agora, como quando fôra feita pelos anjos aos pastôres de Belém, boas-novas de grande alegria. Os que realmente amam ao Salvador saudarão com alegria o anúncio baseado na Palavra de Deus [YAHWEH], de que Aquêle em quem se centralizam as esperanças de vida eterna, vem outra vez, não para ser insultado, desprezado e rejeitado, como se deu no primeiro advento, mas com poder e glória, para remir Seu povo. Os que não amam o Salvador é que não desejam Sua vinda; e não poderá haver prova mais concludente de que as igrejas se afastaram de Deus do que a irritação e animosidade despertada por esta mensagem enviada pelo Céu.
Os que aceitaram a doutrina do advento aperceberam-se da necessidade de arrependimento e humilhação perante Deus. Muitos haviam por longo tempo vacilado entre o Messias e o mundo; agora compreendiam que era tempo de assumir atitude decisiva. "As coisas da eternidade assumiam para êles uma desusada realidade. O Céu se lhes aproximava, e sentiam-se culpados perante Deus." - Bliss. Os cristãos despertaram para nova vida espiritual. Compenetraram-se de que o tempo era breve, de que o que tinham a fazer pelos seus semelhantes deveria fazer-se rapidamente. A Terra retrocedia, a eternidade parecia abrir-se perante êles, e a alma, com tudo que diz respeito à sua felicidade ou miséria eterna, sentia eclipsar-se todo o objetivo mundano. O Espírito de Deus [YAHWEH] repousava sôbre êles conferindo poder aos fervorosos apelos que faziam a seus irmãos e aos pecadores, a fim de se prepararem para o dia de Deus [YAHWEH]. O testemunho silencioso de sua vida diária era constante reprovação aos membros das igrejas, seguidores de formalidades e destituídos de consagração. Êstes não desejavam ser perturbados em sua procura de prazeres, seu desejo de ganho e ambição de honras mundanas. Daí a inimizade e a oposição suscitadas contra a fé no advento e contra os que, a proclamavam.
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