Maria Cristina Francisco - Olhos negros atravessaram o mar

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Olhos negros atravessaram o mar: краткое содержание, описание и аннотация

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O corpo negro em cena na análise corporal: Bioenergética e Biossíntese
O Brasil é um país racializado. Tem sua história social gravada nos espaços ocupados pela invasão colonial, dominação de povos originários, escravidão e imigração europeia. Caminhando por este grande território, percebe-se que essa história imprimiu marcas na terra, colonizou corpos e mentes, o que se traduz e se atualiza cotidianamente nas relações, na invisibilização proposital de uma parte da população. Todos participam desse sistema, negros, brancos e não brancos, e é imprescindível que se saiba disso. A ideologia racista, propagando ideias de inferioridade e subalternidade de determinados povos, atravessa a todos, embora de lugares e experiências diferentes, e os povos oprimidos (negros e indígenas) sofrem imensamente as consequências das desigualdades sociais, levando ao adoecimento físico e psíquico. A raça branca usufrui de oportunidades, mas se isenta de responsabilidades num sistema injusto.
A diáspora africana retratada neste livro, «Olhos negros atravessaram o mar», revela o impacto dos efeitos psíquicos causado pelo racismo e seus desdobramentos nas relações inter e intrapsíquicas, singularmente no povo negro.
A temática é um chamado com a intenção de sensibilizar os profissionais de diversas áreas de conhecimento para perceberem o que está inscrito para além da cor da pele. É um enunciado onde cada um precisa se reconhecer e se rever. É uma porta que se abre na esperança de elaboração e transformação do pensamento sobre valores, crenças colonialistas, e de uma possível emancipação.
Passando pelas bases teóricas da atuação terapêutica, assentadas na análise corporal de Wilhelm Reich, na bioenergética de Alexander Lowen, na biossíntese de David Boadella, na psicanálise de Frantz Fanon e Neusa Santos Souza e no grupo operativo de Pichon Riviére, é ressaltado o trabalho corporal, palco da história individual e coletiva com vistas a esse lugar transformador. Não apenas partindo da verbalização, mas tendo o corpo como elemento protagonista, morada de alegrias, sofrimento e traumas. É também mostrada uma experiência grupal no encontro de corpos negros, lugar de troca de reflexões e vivências em relação à negritude e à branquitude, que ao longo do tempo se revelou afirmativa no fortalecimento da identidade.
Nas palavras aqui registradas, é afirmado o quanto é vital que as instituições que visam transmitir conhecimento se revejam para não serem reprodutoras de comportamentos que propiciam desigualdades, injustiças, sofrimento e adoecimento.
Este livro trata do acreditar, do valor fraterno, do respeito, do cuidado para consigo e com o outro, para que se possa ter dias melhores para todos.

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A característica mais essencial, que se salienta no ser escravo, reside na condição de propriedade de outro ser humano (GORENDER, 1985, p. 46).

A experiência de ser capturado ocorria muito antes de estar no lugar alojado no navio negreiro, por vezes distante da costa africana. Eram amarrados pelo pescoço e pernas; caminhavam distâncias longas, eram privados de água e alimento, sob o sol escaldante do continente. A tortura iniciava desde a sua captura. A viagem do navio negreiro durava em torno de três meses no cruzamento do Atlântico11.

Sobre a experiência de estar no navio negreiro, trazemos relatos do romance Um defeito de cor.

[...] O navio tinha dois porões, e o de baixo, onde fomos colocadas, era um pouco menor. Também não tinha qualquer entrada de luz ou de ar.

[....] Os tocheiros iluminavam rapidamente o caminho e os rostos dos que chegavam, acompanhados da ordem de nos deitarmos um ao lado do outro, com as cabeças apoiadas na parede do navio, que déssemos uma volta completa. E depois mais uma volta no interior, e mais uma terceira, sendo que muitos ainda sobraram de pé e foram empurrados por cima dos que já estavam deitados. [....].

Durante dois ou três dias, não dava para saber ao certo, a portinhola no teto não foi aberta, ninguém desceu ao porão e estava quase impossível respirar. Algumas pessoas se queixavam da falta de ar e do calor, mas o que realmente incomodava era o cheiro de urina e de fezes. [....]. As pessoas enjoaram inclusive nós, que vomitamos o que não tínhamos no estomago, pois não comíamos desde o dia da partida. O corpo também doía, jogado contra o chão duro, molhado e frio. [....]. Quando uma pessoa queria se mexer, as que estavam ao lado dela também tinham que se mexer, o que sempre era motivo de protestos. [....].

Os guardas colocaram os homens em fila e, um por um, tiveram que dizer o nome africano, o que podia ser revelado, e é claro, e o lugar onde tinham nascido, que eram anotados em um livro onde também acrescentavam um nome de branco. Era esse nome que eles tinham que falar para o padre, que então jogava água sobre suas cabeças e pronunciava algumas palavras que ninguém entendia.

[....] Alguém lembrou que o padre também tinha dito que, a partir daquele momento, eles deviam acreditar apenas na religião dos brancos. [....].

[...] Talvez tivessem nos deixado tantos dias sem comer para que, mesmo com raiva, ficássemos suficientemente fracos para não reagir. [....] Cada um recebeu a sua parte (carne salgada, farinha e feijão). Cada um recebeu a sua parte em cumbucas de casca de coco, e foram distribuídas algumas vasilhas de água que passaram de mão em mão e não foram suficientes nem para metade de nós, tamanha a sede. Mas, na manhã seguinte, três homens apareceram mortos, tinham se enforcado durante a noite. [....].

[....] e nos dias seguintes outras pessoas adoeceram. [....]. Alguns diziam que era porque estávamos ali havia muitos dias, no meio daquela imundície toda, respirando um ar que não era de gente respirar, sem ver o sol, sem tomar chuva, sem nos lavarmos, sem comer e sem beber água direito. [....] Olharam pela portinhola aberta no teto e logo mandaram fechar. Voltaram mais tarde, com os rostos cobertos por panos [....]. Somente os olhos deles estavam de fora, e percebi que tinham um olhar de nojo e medo. [....] Escolheram alguns homens mais fortes e fizeram com que eles tirassem dali mais dez pessoas, todas muito doentes, que depois soubemos terem sido jogadas ao mar.

[....] A comida começou a apodrecer por todo o chão do navio, porque muitos, e eu também, já não tínhamos mais apetite, e ao cheiro dela se juntava o cheiro de xixi, de merda, de sangue, de vômito e de pus. Acho que todos nós já queríamos morrer no dia em que abriram a portinhola e mandaram que nos preparássemos para sair. [....].

[....] Tentei me levantar e caí várias vezes antes de conseguir me manter de pé, não só por causa da fraqueza, mas porque as pernas pareciam ter se desacostumado do peso do corpo, sempre deitado. [....].

[....] Foi só à luz do dia que percebi como parecíamos bichos, sujos e feios...[....].

[....] Não sei dizer o que senti, se tristeza, se felicidade por continuar viva ou se medo. Mas a pior de todas as sensações, mesmo não sabendo direito o que significava, era a de ser um navio perdido no mar, e não a de estar dentro de um. Não estava mais na minha terra, não tinha mais a minha família, estava indo para um lugar que não conhecia (GONÇALVES, 2012. p. 45-46, 48-51, 53, 56-58, 61).

O povo negro chegava da África de vários portos, direcionado para todo o território do país (Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Porto Alegre, Bahia, Pernambuco, norte do país - Amazônia). Já nos EUA, a concentração ocorreu predominantemente no sul, pois no norte havia outro modelo econômico. Com essa observação, nota-se que todo o território brasileiro passou a conviver com os estereótipos negativos sobre o corpo negro.

A migração forçada foi principalmente de homens jovens adultos. Uma vez comprados por um “senhor”, eram transportados para as fazendas, para os engenhos de cana-de-açúcar e depois para a produção de café. Durante o século XVIII, algumas regiões se destinavam à mineração de ouro e diamante. Os demais iam para a região urbana (sobrados, igrejas), e as mulheres puérperas serviam como amas de leite.

Os escravizados passavam a viver em alta vulnerabilidade de vida devido à ausência de tudo; as mulheres sofriam a ameaça da violência sexual do seu “senhor”; a maioria vivia em péssimas condições nas senzalas (moradia) - locais insalubres, desumanizados, brutalizados -, além de haver o uso da chibata e do tronco como formas de castigo e opressão (“lição pública”). Nessa exposição, eram exibidas a todos as consequências da rebeldia. As crianças não saíam impunes - a surra de vara e de palmatória ou purgantes amargos tinham seu uso recorrente como reprimenda. Essa cotidiana realidade perversa vivenciada certamente levava a um estado de tensão corporal absurdo. Sentimentos como banzo (melancolia - luto pela falta de sua terra natal) e desconfiança constante eram presentes. Viver sem esperança de liberdade ou de sonhos de alforria, praticamente impossíveis - acreditamos que essa condição gerou muito desalento, raiva e desamparo, uma tragédia na condição humana.

No entanto, na luta pela sobrevivência, mesmo em condições dificílimas de fuga, com a prática da luta capoeira, os quilombos se firmaram como uma realidade possível. Durante esse período, houve outras formas de resistência do povo negro, como suicídios (comer terra até a morte ou infligir-se envenenamentos).

Neste ponto, será importante discorrer um pouco sobre o significado dos quilombos. Ao fazer a crítica do conceito de quilombo estabelecido pelo Conselho Ultramarino, Alfredo Wagner Berno de Almeida, em Os quilombos e as novas etnias (2011, p. 39), mostra que aquela definição se constitui basicamente de cinco elementos: 1) fuga; 2) quantidade mínima de “fugidos” definida com exatidão; 3) localização marcada por isolamento relativo, isto é, em “parte despovoada”; 4) moradia consolidada ou não; 5) capacidade de consumo traduzida pelos “pilões” ou pela reprodução simples que explicaria uma condição de marginal aos circuitos de mercado.

O conceito de quilombo não pode ser territorial apenas ou fixado num único lugar geograficamente definido, historicamente “documentado” e arqueologicamente “escavado”. Ele designa um processo de trabalho autônomo, livre da submissão aos grandes proprietários. Neste sentido, não importa se está isolado ou próximo das casas-grandes. Há uma transição econômica do escravo ao camponês livre, que só indiretamente passa pelo quilombo no caso do Frechal. O que não foi concebido no lugar onde se ergueu o quilombo, foi obtido a partir de debilitado o poder da casa-grande e bem junto a ela. Este talvez seja o elemento mais controvertido e que dificulta aos historiadores ortodoxos entender a dinâmica do que seria a “essência” do significado de quilombo (ALMEIDA, 2011, p. 45).

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