20
— The sugar mill worker
dead and in the ground:
— Everything pitches in
to finish him off quickly.
— Black earth becomes gravel,
the woods become dry plains:
— And the sun gives a hand
by making winter summer.
— To better gnaw the bones,
the worms turn into dogs:
— Then back again into worms,
when they see the bones are chalk.
— And the wind of the canefield
also helps to make him final:
— By sweeping away the gases
(his soul) to purify him.
from Serial / Serial 1961
O sim contra o sim
Marianne Moore , em vez de lápis,
emprega quando escreve
instrumento cortante:
bisturi, simples canivete.
Ela aprendeu que o lado claro
das coisas é o anverso
e por isso as disseca:
para ler textos mais corretos.
Com mão direta ela as penetra,
com lápis bisturi,
e com eles compõe,
de volta, o verso cicatriz.
E porque é limpa a cicatriz,
econômica, reta,
mais que o cirurgião
se admira a lâmina que opera.
Francis Ponge , outro cirurgião,
adota uma outra técnica:
gira-as nos dedos, gira
ao redor das coisas que opera.
Apalpa-as com todos os dez
mil dedos da linguagem:
não tem bisturi reto
mas um que se ramificasse.
Com ele envolve tanto a coisa
que quase a enovela
e quase a enovelando,
se perde, enovelado nela.
E no instante em que até parece
que já não a penetra,
ela entra sem cortar:
saltou por descuidada fresta.
Miró sentia a mão direita
demasiado sábia
e que de saber tanto
já não podia inventar nada.
Quis então que desaprendesse
o muito que aprendera,
a fim de reencontrar
a linha ainda fresca da esquerda.
Pois que ela não pôde, ele pôs-se
a desenhar com esta
até que, se operando,
no braço direito ele a enxerta.
A esquerda (se não se é canhoto)
é mão sem habilidade:
reaprende a cada linha,
cada instante, a recomeçar-se.
Mondrian , também da mão direita
andava desgostado;
não por ser ela sábia:
porque, sendo sábia, era fácil.
Assim, não a trocou de braço:
queria-a mais honesta
e por isso enxertou
outras mais sábias dentro dela.
Fez-se enxertar réguas, esquadros
e outros utensílios
para obrigar a mão
a abandonar todo improviso.
Assim foi que ele, à mão direita,
impôs tal disciplina:
fazer o que sabia
como se o aprendesse ainda.
Yes Against Yes
Marianne Moore , refusing a pen,
writes her stanzas
with a cutting edge,
a common jackknife or scalpel.
She discovered that the clear side
of things is the obverse,
and therefore dissects them
to read texts more accurately.
She enters with unswerving hand
and a scalpel pen
to produce, on leaving,
a neatly stitched poem.
And since the scar is clean,
sparse and straight,
more than the surgeon
one admires the surgical blade.
Francis Ponge , also a surgeon,
uses a different technique, turning
the things he operates on
in his fingers, and himself around them.
He handles them with all ten
thousand fingers of language;
his is not a straight scalpel
but one that’s always branching.
With it he so wraps and wraps
the thing that he almost winds it
into a ball and loses
himself, wound up inside it.
And just when it would seem
he can no longer penetrate,
he enters without cutting,
through a crack that went unseen.
Miró felt that his right hand
was too intelligent
and that knowing so much
it could no longer invent.
He wanted it to unlearn
all it had learned
to recover the fresh line
of his left hand, still pure.
This being impossible, he began
to draw with the left hand,
attaching it at last
to his right arm by a graft.
Unless one is left-handed,
the left hand lacks ability:
every line is a relearning,
every moment a new beginning.
Mondrian regarded his right hand
with just as much distrust,
not for being intelligent,
but because it was easy as such.
He did not give it a new arm;
he wanted it to be truer.
So he grafted other
more intelligent hands on to it.
He grafted rulers, T-squares
and other instruments
that forced his hand
to quit all improvisation.
He imposed on his right hand
this discipline:
to do what it already knew
as if it were still learning.
1
Ao olho mostra a integridade
de uma coisa num bloco, um ovo.
Numa só matéria, unitária,
maciçamente ovo, num todo.
Sem posssuir um dentro e um fora,
tal como as pedras, sem miolo:
e só miolo: o dentro e o fora
integralmente no contorno.
No entanto, se ao olho se mostra
unânime em si mesmo, um ovo,
a mão que o sopesa descobre
que nele há algo suspeitoso:
que seu peso não é o das pedras,
inanimado, frio, goro;
que o seu é um peso morno, túmido,
um peso que é vivo e não morto.
II
O ovo revela o acabamento
a toda mão que o acaricia,
daquelas coisas torneadas
num trabalho de toda a vida.
E que se encontra também noutras
que entretanto mão não fabrica:
nos corais, nos seixos rolados
e em tantas coisas esculpidas
cujas formas simples são obra
de mil inacabáveis lixas
usadas por mãos escultoras
escondidas na água, na brisa.
No entretanto, o ovo, e apesar
da pura forma concluída,
não se situa no final:
está no ponto de partida.
III
A presença de qualquer ovo,
até se a mão não lhe faz nada,
possui o dom de provocar
certa reserva em qualquer sala.
O que é difícil de entender
se se pensa na forma clara
que tem um ovo, e na franqueza
de sua parede caiada.
A reserva que um ovo inspira
é de espécie bastante rara:
é a que se sente ante um revólver
e não se sente ante uma bala.
É a que se sente ante essas coisas
que conservando outras guardadas
ameaçam mais com disparar
do que com a coisa que disparam.
IV
Na manipulação de um ovo
um ritual sempre se observa:
há um jeito recolhido e meio
religioso em quem o leva.
Se pode pretender que o jeito
de quem qualquer ovo carrega
vem da atenção normal de quem
conduz uma coisa repleta.
O ovo porém está fechado
em sua arquitetura hermética
e quem o carrega, sabendo-o,
prossegue na atitude regra:
procede ainda da maneira
entre medrosa e circunspecta,
quase beata, de quem tem
nas mãos a chama de uma vela.
1
To the eye an egg suggests
the integrity of a block.
A single, uniform substance,
wholly and compactly eggish.
Without an inside and outside,
pulpless as a stone, or pulp
all in all: inside and outside
one and the same throughout.
But if to the eye an egg
appears to be unanimous,
the hand which holds it
discovers something suspicious:
that its weight is not the cold,
inanimate, addled weight of stones
— not a dead weight — but the tumid,
warm weight of something living.
II
To any hand that caresses it
an egg reveals the smooth
finish of things whose shaping
required a lifetime of labor,
a finish found in other things
not made by human hands:
in corals, rounded pebbles,
and all sorts of sculpted objects
whose simple forms are the work
of inexhaustible sandpapers held
by a thousand sculpting hands
hidden in water and wind.
And yet the egg, despite
its pure, finished form,
hasn’t reached an end;
it is only now beginning.
Читать дальше