"Você gostaria de ver minha filha," a mulher fala com uma expressão dura. Ela tem o rosto de um guerreiro, e Darius pode ver pela expressão dela que ela era uma mãe de filhos homens – de filhos guerreiros. Aquele é o rosto de uma mãe protetora e cautelosa, uma mãe determinada a não repetir os erros do passado.
"Sua filha é muito bonita," Darius diz finalmente, suas primeiras palavras, sem saber o que mais poderia dizer.
Ela faz uma careta.
"Eu sei que ela é," ela fala. "Eu não preciso de você para me dizer que ela é linda. Qualquer um pode ver isso. Ela é desejada por todos os meninos nesta vila. Você não é o primeiro a querer a mão dela. Por que eu deveria deixá-la passar algum tempo com você?"
O coração de Darius bate enquanto ele tenta decidir o que dizer. Ele quer ser respeitoso, mas ele também não está disposto a recuar.
"Eu tenho que admitir que eu sequer conheço sua filha," ele começa lentamente. "Mas eu testemunhei sua grande força de espírito e sua grande coragem. Eu a admiro muito. Essa é a mesma força de coragem que eu espero que minha mulher e a mãe dos meus filhos tenha. Eu gostaria de conhecê-la melhor. Quero dizer apenas que tenho o maior respeito por você e por ela."
A mãe de Loti olha para ele por um longo tempo, como se estivesse debatendo, e sua expressão não muda.
"Você fala bem para sua idade," ela finalmente diz. "Mas eu sei quem seu pai era. Ele foi um rebelde. Um pária. Um guerreiro. Ele foi grande homem, mas era um homem imprudente. Não há espaço para heroísmo entre o nosso povo. Somo um povo de escravos. Esse é o nosso destino. Isso nunca vai mudar. Nunca . Você me entende?"
Ela olha para ele por um bom tempo no silêncio intenso, e Darius engole em seco, sem saber o que dizer.
"Eu não quero que minha filha se case com um herói," ela completa. "Eu já perdi um filho e aprendi que o Império não pode ser destruído. Eu não vou perder a minha filha, também."
Ela olha para Darius, fria e dura – inflexível, à espera de uma resposta.
Darius gostaria de poder dizer a ela o que ela queria ouvir, que ele nunca iria lutar contra o Império, que ele seria dócil e complacente com a sua sorte como um escravo deveria ser.
Mas, no fundo, não é assim que ele se sente. Ele não está disposto a deitar-se, e ele não quer mentir para ela.
"Eu admiro o meu pai," Darius responde, "mesmo que eu mal o tenha conhecido. Eu não tenho nenhum plano de atacar o Império, mas também não posso prometer que vou me deitar na derrota durante toda a minha vida. Eu sou quem eu sou, e não posso fingir ser outra pessoa."
A mãe o estuda, apertando os olhos no silêncio interminável, e Darius sente o suor se acumulando em sua testa na pequena casa da vila, se perguntando se ele teria arruinado suas chances.
Por fim, ela assente.
"Pelo menos você é honesto," ela declara. "Isso é mais do que eu posso dizer dos outros rapazes. E honestidade conta muito."
"Ótimo!" Loti diz, ficando em pé de repente. "Está decidido, então!"
Ela agarra o braço de Darius, puxando-o para cima e, antes que ele possa reagir, o leva para fora da casa, passando por sua mãe ao abrir a porta.
"Loti, eu não disse que terminamos aqui!" sua mãe gritou, ficando em pé também.
"Ah, deixe disso, mãe," exclama Loti. "O garoto mal me conhece – dê-nos uma oportunidade. Você pode abusar dele quando voltarmos."
Loti ri ao abrir a porta; mas antes de atravessarem a porta, Darius sente uma mão fria apertando seu braço e puxando-o para trás.
Ele se vira e vê a mãe dela olhando para ele com seriedade.
"Se alguma coisa acontecer com minha filha por sua causa, eu garanto que eu vou matar você com minhas próprias mãos."
*
Darius se senta diante de Loti no pequeno barco e rema nos arredores de sua aldeia, rodeado por pântanos e seguindo a rota do rio lento que circula sua aldeia. Aquele rio corre em um círculo contínuo, e é um favorito entre as crianças pequenas, que colocavam pequenos barcos de brinquedo nele, soltando-os para esperarem que eles voltassem com a corrente – o trajeto todo levara um dia inteiro.
Ele também era um dos lugares favoritos entre os amantes. Com suas brisas idílicas e sua corrente lenta, o rio era o melhor lugar para visitar ao por do sol, quando o calor do dia se dissipava e o vento começava a assoprar.
Darius tinha ficado encantado com o olhar no rosto de Loti quando ela tinha visto onde ele a tinha levado. Finalmente, ele tinha tido a sensação de ter feito algo certo.
Agora, ela deita no barco e olha para o céu como se estivesse no céu, e Darius rema suavemente rio abaixo. A corrente ajuda de forma que ele não precisa remar muito, e ele apoia os cotovelos sobre os remos e permite que o barco seja levado por seu próprio peso. Enquano eles flutuam em silêncio, Darius pensa em quanta sorte ele tinha por estar ali, e na beleza de Loti – em sua pele escura iluminada pelo por do sol.
Darius se inclina e coloca a palma da mão sobre a mão dela, e ela olha para cima sorrindo. Ela ainda brinca com as flores que ele lhe tinha dado, e quando seus olhos se encontram, Darius esquece o que ele pretendia lhe dizer. Ela olha para ele com os olhos cheios de intensidade e paixão – como se estivesse olhando dentro de sua alma.
"Sim?" ela pergunta.
Darius gostaria de falar, mas as palavras ficam presas em sua garganta. Então, eles continuam flutuando em silêncio e ele enrubesce, passando pela vegetação iluminada pela luz do sol poente âmbar e escarlate, farfalhando na brisa.
"Você é diferente dos outros," ela finalmente diz. "Eu não sei exatamente o que é, mas há algo sobre você. Eu posso sentir que você é um guerreiro, mas eu também posso sentir outra coisa… eu não sei – uma sensibilidade, talvez. Como se você pudesse ver as coisas. Como se você entendesse as coisas. Eu gosto de estar com você. Você me deixa à vontade."
Darius enrubesce e olha para baixo. Será que ela sabia sobre seus poderes? Ele se pergunta. Será que ela o odiaria por causa disso? Será que ela contaria aos outros?
"Os meninos da sua idade," ela continua, "já estão com meninas, ou já então já estão casados. Você não; eu nunca vi você com as outras garotas."
"Eu não sabia que você já tinha me visto," ele comenta surpreso.
"Eu tenho olhos," ela responde. "Você é uma pessoa difícil de não se ver."
Darius enrubesce ainda mais. Ele olha para o barco e brinca com seus pés. Ele não sabe como responder, então permanece em silêncio. Ele sempre tinha sido tímido ao redor de meninas; ele não tinha o talento natural para o discurso que outros meninos pareciam ter. No entanto, ele também sentia as coisas com muita intensidade. Ele via os outros garotos sendo rápidos para encontrar as meninas e rápidos para jogá-las fora quando já tinham se cansado delas. Mas Darius nunca seria capaz de fazer isso. Qualquer garota com quem ele decidisse ficar seria levada a sério, e isso o tinha impedido de se declarar até então. Ele sentia que havia muita coisa em jogo.
"E você?" Darius finalmente junta coragem para perguntar. "Você também não está casada com ninguém."
Ela olha para ele com orgulho.
"Não há nenhuma vergonha nisso," ela responde, na defensiva. "Eu tomo minhas próprias decisões. Eu não sigo minhas paixões facilmente. Eu já afastei todos os que se aproximaram de mim."
Darius fica nervoso com suas palavras. Será que ela o mandaria embora, também?
"Por quê?" ele pergunta.
"Eu estou esperando por alguém extraordinário," ela explica. "Mais do que apenas um homem; mais do que apenas um guerreiro. Alguém que seja especial, que seja diferente – que tenha um grande destino diante dele."
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