Ela se virou para seu almirante, que está ao seu lado, e pode ver pelo olhar sombrio no rosto dele que as notícias não são nada boas.
"As rações?" Perguntou ela, hesitante.
Ele balança a cabeça gravemente.
"Lamento, minha senhora," ele relata. "Não há mais nada."
"As pessoas precisam de alimentos," acrescenta Aberthol, ao lado dela. "Eles estão cada vez mais desesperados. Eles remaram durante toda a noite, e agora eles não têm nada. Eu não sei por quanto tempo seremos capazes de satisfazê-los."
"Ou quanto tempo mais seremos capazes de sobreviver," acrescenta Brandt, severamente.
Gwendolyn recebe na notícia com seriedade, sentindo toda a gravidade da situação. Ela se vira para Kendrick, que está ao lado dela.
"E o que você propõe que façamos?" pergunta Gwendolyn.
Ele balança a cabeça.
"Se não encontrarmos provisões em breve," afirma ele, "se não encontrarmos terra em breve, este navio se tornará um cemitério flutuante."
Gwendolyn se vira para Sandara, em pé ao lado dele.
"Quanto tempo até chegarmo a sua terra?" ela pergunta para Sandara.
Sandara balança a cabeça e olha para longe, analisando o horizonte.
"É difícil dizer, minha senhora," ela responde. "Depende das correntes. Pode ser um dia ou pode ser um mês."
O estômago de Gwen se aperta com as palavras dela. Um mês. Seu povo não sobreviveria. Todos morreriam ali, definhando, uma morte terrível no meio do oceano. Pior, eles certamente se voltariam um contra os outros, revoltados, e se matariam. A fome deixar as pessoas desesperadas.
Gwendolyn balança a cabeça, resignada.
"Rezemos por terra," ela pede.
Darius caminha rapidamente pela sua aldeia quando o sol começa a se pôr, mais nervoso do que jamais havia se sentido, repetidamente limpando o suor de suas palmas. Ele não consegue entender porque ele está tão ansioso enquanto ele segue seu caminho, indo em direção ao rio, para encontrar Loti em sua casa de campo. Ele havia enfrentado seus irmãos em combate, já havia trabalhado sob o comando de capatazes maldosos – e tinha até mesmo se empenhado na mais perigosa das tarefas nas minas, e ainda assim ele nunca havia se sentido tão nervoso assim antes.
No entanto, enquanto Darius se dirigiu para encontrar Loti, ele ouve um zumbido em sua mente e sente seu coração batendo, e não consegue evitar que sua garganta fique completamente seca. Ele não consegue entender como ela poderia ter esse efeito sobre ele, o que havia de tão diferente a respeito dela. Ele quase não a conhecia, só tinha posto os olhos em cima dela duas vezes, e ainda agora, enquanto se dirige para seu encontro com ela, ele não consegue pensar em outra coisa.
Darius se lembra do seu encontro, e ele repassa as suas palavras em sua mente uma e outra vez. Ele tentou lembrar exatamente o que ela havia dito; e começa a duvidar de si mesmo, começando a se perguntar se ela realmente gostava dele, se ela se sentia da mesma maneira sobre ele como ele se sentia em relação a ela, ou se talvez se ela só queria vê-lo de forma casual, ou estava apenas curiosa para saber mais sobre ele. Talvez ela estivesse namorando outra pessoa; talvez ela nem mesmo fosse aparecer no lugar e na hora marcados.
O coração de Darius bate mais rápido enquanto ele considera todos esses cenários. Ele tinha se vestido com suas melhores roupas: uma túnica de algodão branco e calças pretas de lã fina, roupas que seu pai tinha usado uma vez. Aquelas eram as melhores roupas de propriedade de sua família, e seu pai tinha pagado caro por elas. Ainda assim, quando Darius as examina, ele fica envergonhado, vendo como elas estão manchadas e gastas em alguns lugares – ainda as roupas de um escravo, mesmo que ligeiramente melhores. Aquelas ainda não eram as roupas do Império, e não eram as roupas de um homem livre. No entanto, ninguém na sua aldeia tinha roupas de um homem livre.
Darius finalmente sai das ruas movimentadas e sinuosas da vila e chega no lado ocidental do vilarejo, um complexo de pequenas casas construídas quase uma em cima da outra. Ao mesmo tempo em que ele observa as habitações, ele tenta lembrar o que ela havia dito: uma casa com uma porta manchada de vermelho.
Darius vai de casa em casa, olhando em todos os lugares, e justamente quando ele está prestes a desistir, de repente, seus olhos recaem sobre ela. Lá está ela, em pé além das outras, um pouco menor do que o resto, exatamente como as outras, exceto pela mancha vermelha desbotada na porta.
Darius engole em seco. Ele olha para baixo e vê as flores em sua mão – flores silvestres que ele havia apanhado nas margens do rio, amarelas, com longas hastes finas. Ele se arrepende agora que eles não sejam de melhor qualidade; ele deveria ter escolhido as rosas selvagens no lado mais distante do prado, mas ele não tinha tempo para isso.
Da próxima vez, ele diz a si mesmo. Isto é, se ela quiser quer me ver outra vez.
Darius se aproxima e bate na porta, e ele mal consegue assimilar o que está acontecendo – seu coração bate em seu peito, abafando todos os seus pensamentos exceto a sua pulsação. Ele mal consegue ouvir os gritos das crianças, e todos os moradores correndo caoticamente ao redor dele, tudo se silencia assim que ele bate na porta.
Darius fica ali em pé, esperando, e começa a duvidar se a porta algum dia se abriria, ou se ele tinha mesmo sido convidado a vir até ali. E se ele tivesse se enganado? E se ele tivesse imaginado a coisa toda?
Darius fica ali tanto tempo que, finalmente, ele se vira para ir, quando a porta se abre de repente. O rosto de uma mulher mais velha aparece, olhando para ele com desconfiança. Ela abre a porta e sai, com as mãos nos quadris, e olha para ele de cima para baixo, como se ele fosse um inseto. Seus olhos repousam sobre as flores que ele segura, e seu rosto não esconde sua decepção.
" É você que veio ver minha filha?" ela pergunta.
Ele olha para ela em silêncio, sem saber como responder.
"E é isso o que você trouxe?" ela acrescenta, olhando para as flores.
Darius olha para as flores, o pânico aumentando dentro dele.
"Eu… hum… eu sinto muito…"
A mulher de repente é empurrada para o lado quando Loti aparece ao lado dela, com um largo sorriso no rosto. Ela se aproxima, pega as flores das mãos de Darius e as examina, encantada.
Assim que ela faz isso, todos os medos de Darius começam a se dissipar. Loti está mais bonita do que ele se lembrava; ela tinha acabado de tomar banho e está vestindo uma linda roupa branca da cabeça aos pés, e ele nunca a tinha visto sorrir – não daquele jeito.
"Ah, mãe, pare de ser tão dura com ele," Loti fala. "Estas flores são perfeitamente belas."
Ela fixa os olhos em Darius, e seu coração bate mais rápido.
"Bem, você vai entrar?" ela pergunta, rindo e dando um passo adiante e entrelaçando seu braço com o dele. Em seguida, ela o leva para dentro de sua casa, passando ao lado de sua mãe.
Darius entra na pequena casa escura e ela o leva até uma pequena cadeira na parede oposta, nem a cinco metros da entrada. Eles se sentam lado a lado em um pequeno banco de barro, e a mãe dela fecha a porta e volta para dentro, sentando-se de frente para eles em um banquinho.
A mãe de Loti mantém os olhos fixos em Darius, examinando-o, e Darius se sente claustrofóbico na pequena casa de campo mal iluminada, mudando constantemente de posição na cadeira. Ele sabe que é a tradição de todas as mulheres na aldeia interrogarem os pretendentes antes que eles pudessem levar suas filhas a qualquer lugar. Por respeito para com os pais dela, Darius queria ter certeza de que ele não faria nada para ofendê-los. Ele está determinado a causar uma boa impressão.
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