"Minha senhora," ele diz, com lágrimas nos olhos, "você salvou minha vida."
"Ajude-me a salvar os outros," ela responde.
Steffen se apressa para ajudar os demais, e é acompanhado por Sandara, Kendrick, Godfrey, Brandt e Atme, juntamente com os novos membros da Legião, Merek e Ario, todos eles correndo com Gwendolyn por todo o navio, impedindo as pessoas de olharem sobre a borda do navio – impedindo-as de ficarem muito perto de seus entes queridos, que já haviam se transformado em pedra e estavam despencando. Gwen observa uma mulher gritar como seu marido que tinha acabado de se transformar em pedra. Ela a vê agarrar seu corpo, recusando-se a deixá-lo ir, tentando impedi-lo de cair sobre a borda e, em seguida, ela mesma, inevitavelmente, olhando para a água. E então, ela também é transformada em pedra, com o rosto congelado em um olhar de agonia e, juntos, com os braços em volta dele, como um grande bloco de pedra, os dois caem sobre a borda e mergulham no mar.
Gwen olha para os outros navios e fica horrorizada ao ver que um deles está completamente vazio, e que todas as pessoas a bordo já tinham sido transformadas em pedra e caído no mar. As grades estão todas quebradas onde as estátuas haviam batido, e não há um único sobrevivente à bordo. Na verdade, como todas as estátuas começando a se acumular em um lado do navio, ele agora começa a listar, e à medida que Gwen observa, impotente, ele já dá sinais de que estava afundando.
O navio afunda cada vez mais rápido, e em poucos instantes ele cai de lado na água com um grande estrondo, e suas velas batem contra o oceano. Ele fica de lado, todos os seus tripulantes mortos antes mesmo que ele tivesse emborcado, e Gwen se sente mal do estômago ao vê-lo afundar completamente no oceano.
Gwen mal pode acreditar que agora, restam apenas dois navios de sua gloriosa frota que havia deixado o continente do Anel. Gwen olha em volta freneticamente, temendo que ela fosse perder todo o seu povo ali.
"Ergam os mastros!" ela grita para seu almirante. "Dobrem os homens nos remos! Leve-nos para longe dessas águas!"
Os homens entram em ação ao mesmo tempo em que os sinos soam, tomando suas posições e fazendo o seu melhor para mover os navios.
Gwen correr para Sandara e coloca a mão em seu pulso, desesperada para encontrar respostas.
"Quanto tempo até sairmos destas águas?" ela pergunta.
Sandara balança a cabeça tristemente.
"Eles viajam no oceano aberto, minha senhora," ela responde. "Estas águas são como um cardume de peixes, de passagem. Eu nunca as encontrei, mas eu ouvi dizer que elas passam rapidamente, especialmente com um vento forte."
Gwen se vira e olha para o horizonte distante, mantendo os olhos para o alto – com medo de olhar para baixo, na direção das águas. É difícil dizer onde aquilo terminaria.
Ela estica o pescoço e volta a olhar para as velas, e fica aliviado ao vê-las içadas e preenchidas com um bom vento. Os homens gemem ao redor dela enquanto remam sem parar.
"Eles podem passar rapidamente," declara Gwen, "mas não vamos dar chances ao acaso. Vocês todos irão remar sem parar até o amanhecer!"
Gwen olha para cima, vê o sol do meio-dia, e sabe que aquele seria um dia árduo para todos eles. Mas ela não se arriscaria – qualquer coisa seria ainda melhor do que a morte.
Gwendolyn encontra Illepra segurando o bebê – protegendo-a, e seu coração se enche de alívio ao tê-lo de volta em seus braços. No silêncio sombrio, tudo o que se pode ouvir é o bater dos remos contra a água, os gritos das gaivotas e os gemidos suaves e soluços dos sobreviventes – desolados, chorando a perda de seus entes queridos. Eles tinham tido sorte, mas Gwen não se sente sortuda.
Na verdade, ao olhar para o horizonte e considerar suas parcas rações, ela sabe que aquilo não era um bom presságio – e que não era um bom sinal.
*
Gwendolyn, com os olhos turvos, se senta e assiste o sol amanhecer sobre o oceano – uma linha fina púrpura lentamente se tornando escarlate, espantando a névoa do oceano. Uma gaivota solitária grita lá em cima, e à medida que o céu se aquece, Gwen se vira e examina seu povo: todos estão inclinados sobre seus remos, dormindo no lugar, exaustos depois de seus esforços. Tinha sido um longo e angustiante dia e noite, e Gwen tinha pensado que ele nunca aquilo nunca chegaria ao fim. Ela tinha entregado o bebê para Illepra tarde da noite e tinha finalmente caído no sono.
Quando o sol começa a rastejar sobre o horizonte, Gwendolyn – que tinha ficado acordada a noite toda – se levanta e dá os primeiros passos, a única pessoa acordada no navio que dorme tranquilo. Ela abre caminho cautelosamente até a grade, fazendo ranger o convés enquanto caminha, e se prepara para examinar as águas. Ela quer ser a primeira a olhar – a primeira a saber com certeza se as águas estavam finalmente seguras. Ela não acha que seja certo forçar um de seus súditos a fazer isso por ela. Ela era a rainha, afinal de contas, e se alguém tinha que morrer, deveria ser ela. Ela sente que isso era sua responsabilidade.
Gwen cruza o convés, e assim que ela chega até a grade, uma voz corta o ar naquela manhã:
"Minha senhora."
Gwen se vira e vê Steffen ali de pé, com grandes olheiras sob seus olhos, olhando para ela com um ar preocupado.
"Eu temo saber onde você está indo," ele diz – sua voz cheia de preocupação.
Gwen assente, fazendo um gesto com a cabeça.
"Vou verificar as águas," ela responde.
Steffen balança a cabeça e dá um passo adiante.
"Esse não é um trabalho para uma rainha," ele fala. "Eu sou seu servo. Permita-me fazer isso pela senhora."
Ele começa a avançar, andando na direção da grade, mas Gwen estende a mão e a coloca em seu pulso.
Ele se vira para ela.
"Obrigada," ela responde. "Mas não. Esse é o meu navio e esse é meu povo. É meu dever fazer isso."
Ele franze a testa.
"Minha senhora, você poderia morrer."
"Então, da mesma forma que você. E quem pode dizer que minha vida vale mais do que a sua?"
Os olhos de Steffen se enchem de lágrimas enquanto ele continua olhando para ela.
"Você realmente é uma grande rainha," declara ele. "Uma Rainha como nenhuma outra."
Gwen pode ouvir a sinceridade em suas palavras, e fica sensibilizada ao ouvi-las.
Sem mais delongas, Gwen se vira, dá dois grandes passos até a grande, segura nela com as mãos trêmulas e fecha os olhos, vendo imagens em de sua mente de todas as pessoas que haviam se transformado em pedra. Ela reza para que ela não tenha o mesmo destino.
Gwen abre os olhos e olha, respirando profundamente e preparando-se.
As águas, iluminadas pelo sol da manhã, estão brilhando em um tom azul intenso. Gwen olha com cuidado, e fica feliz não ver qualquer vestígio das águas iluminadas. O mar está de volta para a forma como sempre tinha sido.
"Minha senhora!" Steffen grita alarmado, apressando-se para o seu lado.
Gwen sorri quando ela se vira e calmamente olho para ele.
"Eu estou viva," ela fala. "Não há nada mais a temer."
Ao seu redor, o povo de Gwen começa a acordar, ficando em pé, com os olhos turvos. Um por um, eles olham para ela com admiração, em seguida, abrem caminho até ela.
"As águas estão seguras!" Gwen grita.
As pessoas gritam de alívio, e juntos eles correm para a borda do navio e inclinam-se e ara examinar o mar, encantados. É apenas um oceano normal, como sempre tinha sido.
Gwendolyn é tomada por uma pontada de fome, e ela pensa em suas rações escassas e se pergunta quando seu povo teria se alimentado pela última vez. Ela mesma recusava duas refeições por dia, para poupar mais para o seu povo, e ela estava começando a sentir a fome. Ela estava quase com medo de perguntar o que ainda restava.
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