— Encontre a gente lá em cima — sussurrou Harry para Hermione, enquanto ajudava a sra. Weasley a devolver o jardim à normalidade. — Depois que o pessoal for se deitar.
No quarto do sótão, Rony examinou seu desiluminador e Harry encheu a bolsa de briba que Hagrid lhe dera, não com ouro mas com os seus objetos mais preciosos, embora alguns aparentemente não valessem nada: o Mapa do Maroto, o caco do espelho de Sirius e o medalhão de R.A.B. Ele fechou bem os cordões e prendeu a bolsa ao pescoço, depois sentou, segurando o velho pomo e observando suas asinhas esvoaçarem debilmente. Finalmente, Hermione bateu à porta e entrou nas pontas dos pés.
— Abaffiato — sussurrou, acenando a varinha em direção à escada.
— Pensei que você não aprovasse esse feitiço — implicou Rony.
— Os tempos mudam — respondeu Hermione. — Agora mostre-nos aquele desiluminador.
Rony atendeu o seu pedido na mesma hora. Erguendo-o à frente, clicou o objeto. A única luz que brilhava no quarto se apagou imediatamente.
— A questão é — cochichou Hermione no escuro —, poderíamos ter obtido o mesmo efeito com aquele Pó Escurecedor Instantâneo do Peru.
Ouviu-se um leve estalo, e a chama da luz do candeeiro voou de volta ao teto e iluminou-os.
— Mesmo assim é legal — disse Rony na defensiva. — E, pelo que dizem, foi o próprio Dumbledore que o inventou!
— Eu sei, mas com certeza ele não teria mencionado você no testamento só para nos ajudar a apagar as luzes!
— Você acha que ele sabia que o Ministério confiscaria o testamento e examinaria tudo que nos deixou? — perguntou Harry.
— Sem a menor dúvida — respondeu Hermione. — Não podia nos dizer no testamento por que estava nos deixando essas coisas, ainda assim isso não explica...
— ... por que não poderia ter nos dado uma dica quando estava vivo? — indagou Rony.
— Exatamente — concordou Hermione, agora folheando Os contos de Beedle, o bordo . — Se esses objetos são suficientemente importantes para legá-los a nós bem debaixo do nariz do Ministério, seria de esperar que desse um jeito de nos informar o porquê... a não ser que achasse que era óbvio.
— Ele enganou-se, então, não foi? — disse Rony. — Eu sempre disse que ele era doido. Um gênio e tudo o mais, mas pirado. Deixar ao Harry um pomo velho... afinal o que é que é isso?
— Não faço idéia — disse Hermione. — Quando Scrimgeour fez você segurá-lo, Harry, estava certa de que alguma coisa ia acontecer!
— É, bem — disse Harry, seus batimentos se acelerando ao erguer o pomo entre os dedos. — Eu não ia me esforçar muito na frente de Scrimgeour, não é?
— Como assim? — perguntou Hermione.
— O pomo que eu capturei na primeira partida que joguei na vida? — disse Harry. — Você não lembra?
Hermione pareceu simplesmente aturdida. Rony, no entanto, soltou uma exclamação, apontando freneticamente de Harry para o pomo e de volta até recuperar a voz.
— Foi esse que você quase engoliu!
— Exatamente — disse Harry, e, com o coração disparado, encostou a boca no pomo.
O pequeno globo alado não se abriu. A frustração e o desapontamento o invadiram: ele baixou o pomo de ouro. Então, foi a vez de Hermione gritar:
— Letras! Tem uma coisa escrita nele, depressa, olhe!
Harry quase deixou cair o pomo, de surpresa e agitação. A amiga tinha razão. Gravadas na lisa superfície dourada, onde, apenas segundos antes, não existia nada, agora se viam três palavras, na caligrafia fina e inclinada que o garoto reconheceu ser a de Dumbledore:
Abro no fecho.
Mal acabara de ler, as palavras tornaram a desaparecer.
— Abro no fecho ... Que será que isso significa? Hermione e Rony balançaram a cabeça, perplexos.
— Abro no fecho... no fecho ... Abro no fecho...
Contudo, por mais que repetissem as palavras, com diferentes inflexões, não foram capazes de extrair delas qualquer outro significado.
— E a espada — disse Rony, por fim, quando já tinham abandonado as tentativas de adivinhar o significado da inscrição no pomo. -Por que ele quis dar a espada ao Harry?
— E por que não pôde simplesmente me dizer? — comentou Harry, baixinho. — Estava lá , na parede do gabinete, bem à vista durante todas as nossas conversas no ano passado! Se queria deixá-la para mim, por que não me entregou a espada pessoalmente?
Ele teve a sensação de estar sentado, fazendo uma prova, diante de uma pergunta que seu cérebro lerdo e insensível devia ser capaz de responder. Havia alguma coisa que não entendera nas longas conversas com Dumbledore no ano anterior? Será que devia saber o que tudo aquilo significava? Dumbledore tinha esperado que ele entendesse?
— E quanto ao livro — disse Hermione — Os contos de Beedle, o bardo ... eu nunca ouvi falar deles!
— Você nunca ouviu falar de Os contos de Beedle, o bardo ? — perguntou Rony incrédulo. — Você está brincando, certo?
— Não, não estou! — respondeu Hermione surpresa. — Então, você os conhece?
— Claro que sim!
Harry ergueu os olhos se divertindo. Rony ter lido um livro que Hermione não conhecia era um fato sem precedentes. Rony, no entanto, parecia espantado com a surpresa dos amigos.
— Ah, gente, que é isso! Todas as histórias tradicionais para crianças são supostamente de Beedle, não? O poço da sorte... O mago e o caldeirão saltitante... Babbitty, a coelha, e o toco que cacarejava...
— Perdão! — disse Hermione rindo. — Como é mesmo essa última?
— Ah, qual é! — exclamou Rony, olhando para os dois sem acreditar. — Vocês devem ter ouvido falar em Babbitty, a coelha...
— Rony, você sabe muito bem que Harry e eu fomos criados por trouxas! — lembrou Hermione. — Não ouvimos essas histórias quando éramos pequenos, ouvimos Branca de neve e os sete anões e Cinderela ...
— Que é isso, uma doença? — perguntou Rony.
— Então são histórias para crianças? — perguntou Hermione, reexaminando as runas.
— É — respondeu Rony, inseguro —, quero dizer, é o que contavam para a gente, entende, e todas essas histórias antigas são do Beedle. Não sei como são na versão original.
— Mas por que Dumbledore achou que eu deveria lê-las? Alguma coisa rangeu abaixo do sótão.
— Provavelmente é o Carlinhos. Agora que mamãe foi dormir, deve estar saindo escondido para fazer os cabelos crescerem — disse Rony nervoso.
— Mesmo que seja, devíamos voltar para a cama — sussurrou Hermione. — Não vai pegar bem a gente perder a hora amanhã.
— Não mesmo — concordou Rony. — A mãe do noivo cometer um homicídio triplo e brutal pode estragar o casamento. Vou acender as luzes.
E ele clicou o desiluminador mais uma vez enquanto Hermione ia saindo do quarto.
Às três horas da tarde do dia seguinte, Harry, Rony, Fred e Jorge estavam parados diante da grande tenda branca no pomar, aguardando a chegada dos convidados para o casamento. Harry tomara uma boa dose de Poção Polissuco e virara o duplo de um trouxa ruivo, morador da aldeia local, Ottery St. Catchpole, de quem Fred roubara alguns fios de cabelo usando um Feitiço Convocatório. O plano era apresentar Harry como o “primo Barny” e confiar que o grande número de parentes dos Weasley o camuflasse.
Os quatro estavam segurando mapas da disposição das cadeiras para poder levar os convidados aos seus lugares. Uma legião de garçons vestidos de branco chegara uma hora antes, ao mesmo tempo que uma banda de paletós dourados. No momento, todos esses bruxos estavam sentados a uma pequena distância sob uma árvore; Harry viu uma nuvem azulada de fumaça de cachimbos se elevando do local.
Читать дальше
Конец ознакомительного отрывка
Купить книгу