Júlio Dinis - A Morgadinha dos Cannaviaes

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Quasi todos os grandes homens commettem esta ingratidão. Falam nos seus mestres de philosophia, de mathematica, de litteratura, e não salvam do esquecimento, pronunciando-o, o nome do primeiro mestre, do que os ensinou a ler.

Considerações da ordem das que acabamos de fazer, quero acreditar, não são as que mais preoccupam o pensamento da maioria d'esses pobres diabos, que, por noventa mil réis annuaes, se deixaram ligar á atafona do ensino primario da aldeia; porém devem ser, além das miserias de tão mesquinha sorte, causas de grandes torturas moraes para alguma alma de instinctos e aspirações mais elevadas, que o destino amarrasse, como por escarneo, a este poste de expiação. N'esse caso estava por certo a alma de Augusto. No vasto mundo, que os livros abrem ás imaginações, que na vida real não encontram deleite, refugiava-se elle nas horas em que as suas obrigações lhe permittiam respirar.

D'esta vez, porém, por pouco tempo lhe foi dado saborear esse prazer.

Soaram nos vidros da janella pancadas repetidas e chamou-o de fóra uma voz bem conhecida d'elle.

Era a do mestre de latim, o sr. Bento Pertunhas.

– Sr. Augusto, ó meu querido sr. Augusto. Amice! Pode falar a um amigo e colega? – dizia elle.

Augusto foi abrir-lhe a porta, não reprimindo um gesto de enfado.

O latinista entrou esfregando as mãos.

– A ler, hein! sempre a ler! sempre amarrado aos livros! – dizia elle, batendo no hombro a Augusto. – Invejo-lhe mais a pachorra do que o proveito. Olhe que não medra com isso; nem ninguem lhe agradece as canceiras que toma. Meu rico, por dois dias que um homem passa cá n'este mundo, tolo é o que se mata. E então n'este paiz!.. Faça como eu.

E, imitando com a bôca os sons da trompa, seu instrumento predilecto, poz-se a examinar os livros que via sobre a mesa.

– Então que estava lendo? que estava lendo?.. Poh! poh! poh!.. Versos… Ora que nunca pude gostar de versos!.. Poh! poh!.. E não é agora porque se diga que não tinha quéda; não, senhores; em tempos fiz até algumas quadras… Poh! poh!.. já se sabe, até certa idade, mas nunca fui muito para ahi… Poh!.. A minha vocação é para a musica… Poh! poh!.. Lá para a musica, sim… Poh! poh! poh!.. Herman e Dorothéa – continuava elle, examinando os livros. – Novellas… Poh!.. E isto que é? Confessions de Rousseau – n'este nome deixou aos diphtongos o valor portuguez – Poh! poh! As Metamorphoses… Latim! Oh que massada! Poh! poh! poh! poh!.. – E o Ovidio, que lhe chegára ás mãos, foi arremessado como se estivesse em braza.

Augusto não pôde conservar-se sério, ante o instinctivo movimento de repulsão do mestre.

– Então que boa fortuna o traz por aqui, sr. Pertunhas? – perguntou elle.

– Ai, é verdade; eu lhe digo ao que venho. É para lhe pedir um favor, meu caro sr. Augusto. Eu bem sei que é abusar da sua bondade… Quousque tandem, Catilina … Mas, é por esta vez…

– Já sei; quer que lhe vá dar lição aos rapazes.

– Ah! grande maganão, que adivinhou – exclamou o mestre, abraçando Augusto com effusão. – É isso mesmo, se lhe não custasse…

– Irei.

– É que… eu lhe digo, eu tinha hoje de ir ao ensaio da philarmonica… Percebe o senhor? Os Reis estão ahi á porta e as outras festas do Natal, e não ha tempo a perder… Percebe? E eu tenho ainda umas peças do Trovador para ensinar á minha gente. São muito bonitas… Poh! poh! poh! E então este anno, que pelos modos temos cá o conselheiro e mais o pequeno… Não contando com esse sujeito que ahi chegou a Alvapenha. Chama-se Henrique de Souzellas, é sobrinho da velha, da D. Dorothéa, e julgo que ainda aparentado no Mosteiro. Lá chamam-lhe primo. Esteve lá esta manhã um par de horas, logo que saiu da minha repartição. Dizem-me que é filhote de Lisboa, solteiro, rico e sem modo de vida. Rico e sem modo de vida! Que lhe parece, hein? Olhe que sempre ha gente muito feliz! Aqui para nós, sabe ao que me cheira a visita d'este senhor? Aquillo é mosca que vem ao cheiro do mel. Que diz, hein? Ninguem me tira d'isto. Pois não lhe parece, hein?

– Não sei bem o que quer dizer com a imagem – respondeu Augusto, levemente enfadado. – Além de que não posso adivinhar as intenções de um homem que pela primeira vez encontrei esta manhã.

– Pois está claro que não; nem eu; mas emfim uma pessoa logo tira pelo que vê… Ora pois diga, um rapaz de Lisboa, afeito a divertimentos, a boa musica, et coetera , andar leguas e leguas para se metter n'este desterro… Porque isto é um desterro. Sim, deve concordar que não é natural. Mas se a gente se lembrar de que a morgadinha, et coetera … O senhor bem me percebe… Todos, hoje em dia, sabem o preço ao dinheiro, meu amigo.

A verbosidade do mestre Pertunhas estava evidentemente incommodando Augusto, que não redarguia.

– Nada, nada; alli anda plano, com certeza. Pelos modos, já depois de ámanhã vae o rapaz acompanhar as pequenas á ermida da Saude. Ah!.. mas agora me lembro! o senhor é tambem da sucia.

– Eu?!

– Com certeza. Disse-m'o o Damião, que tem ordem das pequenas para o convidar. Se ainda não recebeu o recado, ha de recebel-o. Em todo o caso, observe-o e verá se eu tenho razão.

– Vou jantar, sr. Pertunhas, que já ha muito para isso me chamou a criada – disse Augusto, erguendo-se como para fugir áquella conversa. – Em seguida irei aos seus rapazes.

– Então vá, vá. Deus lhe pague o favor que me faz e permitta que eu lhe não peça muitos d'estes. E eu tenho esperanças… Sabe que ando com ideias de arranjar o lugar de recebedor, que está, como diz o outro, a encher dias? Já falei ao conselheiro; mas o conselheiro promette muito e falta melhor, sobretudo a um homem que não tenha influencia em eleições. O sr. Joãozinho das Perdizes interessa-se por mim, é verdade; mas, por outro lado, o Seabra brazileiro faz-me guerra. Eu ando a vêr se consigo pôr o Seabra a meu favor, porque emfim… Mas vá, vá jantar, que eu espero.

– Se quizer fazer-me companhia…

– Muito obrigado. Eu já jantei. O meio dia é a minha hora. Jante á sua vontade.

Augusto saiu da sala. Mestre Bento Pertunhas, ficando só, deu algumas voltas cantarolando, sentou-se depois, e pegando na pasta de Augusto, poz-se a examinar os papeis que ella continha.

Ao mesmo tempo simulava umas variações de trompa, á fôrça de contracções e esgares dos labios.

A pasta, victima da indiscreção do mestre, era a mesma que Augusto trazia, quando o vimos no Mosteiro.

Entre os documentos contidos n'ella algum achou o mestre Pertunhas mais curioso do que as escriptas e themas dos discipulos, pois, ao lêl-o, desenhou-se-lhe no semblante a mais intensa curiosidade e cessou de todo a exhibição acustica, que com tanto ardor encetára.

Leu-o até o fim com crescente avidez; e depois, olhando em volta de si, para verificar que não era observado, dobrou-o e sorrateiramente o escondeu no bolso. Fechou outra vez a pasta, pousou-a no sitio d'onde a tirára, continuou a ler ou a fingir que lia com toda a attenção um livro e encetou novas variações de trompa.

– Então já! Apre! Isso é jantar a vapor – disse o latinista, pondo-se a pé, logo que Augusto voltou.

E momentos depois sairam juntos.

Querendo poupar os leitores á semsaboria de assistir a uma lição de latim e a um ensaio da philarmonica, deixal-os-hemos ambos, para voltarmos ao Mosteiro.

Ao fim da tarde, depois do jantar, estavam as duas primas sentadas ao parapeito do muro da quinta, d'onde, por sobre almargens e pomares vizinhos, a vista se espraiava em amplissimo horizonte até umas nuvens, que pareciam limital-o.

D. Victoria saboreava, no seu quarto, as delicias da sesta habitual. As creanças brincavam a alguma distancia, e os risos e os clamores d'ellas vinham como um chilrear de passaros aos ouvidos das duas raparigas, que, a cada momento, se surprehendiam em meditativo silencio.

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