Ken Kesey - Um Estranho No Ninho

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O romance de Ken Kesey é inspirado em suas próprias experiências quando participou de pesquisas com drogas psicoativas no centro psiquiátrico do Menlo Park Veterans Hospital (Califórnia). 'Um estranho no ninho' é protagonizado por R. P. McMurphy, um preso que escapa da condenação fingindo-se de louco. McMurphy é então internado em um hospício, sob a tutela da sádica Chefona, a enfermeira Ratched, que comanda os internos com suas rigorosas sessões de terapia e eletrochoque. Aos poucos McMurphy percebe que o hospício pode ser muito pior que a prisão, nesse novo universo cercado de pacientes inseguros, ansiosos e constantemente dopados. Pessoas que buscaram refúgio da sociedade no hospício.

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O Sr. Turkle assentia e balançava a cabeça, parecendo estar meio adormecido. Quando McMurphy disse "acho que isso cobre bem todos os aspectos", o Sr. Turkle respondeu "não… não in-teiramente" e sentou-se ali sorrindo no uniforme branco, com a cabeça calva amarela flutuando na extremidade do pescoço como um balão numa vara.

– Ora, vamos, Turkle. Vai valer a pena. Ela deve vir trazendo umas duas garrafas.

chegando mais perto – disse o Sr. Turkle. A cabeça oscilou e balançou. Ele agia como se mal fosse capaz de se manter acordado. Eu tinha ouvido dizer que ele trabalhava em outro emprego durante o dia, numa pista de corridas. McMurphy virou-se para Billy.

– Turkle está se fazendo de difícil para ver se leva mais algum, Billy. Quanto é que vale pra você, a primeira trepada na sua vida?

Antes que Billy conseguisse parar de gaguejar e responder, o Sr. Turkle sacudiu a cabeça.

– Não é isso. Não é dinheiro. Ela vai trazer mais que uma garrafa, não vai, essa coisinha? Vocês vão dividir mais que uma garrafa, não vão? – Ele sorriu para todos a sua volta.

Billy quase explodiu, tentando gaguejar alguma coisa, Candy não, a sua garota, não! McMurphy o puxou de lado e lhe disse que não se preocupasse com a castidade da sua garota – Turkle provavelmente estaria tão bêbado e sonolento quando Billy tivesse acabado, que o velho urso não seria capaz nem de enfiar uma cenoura numa pia.

A garota estava atrasada de novo. Nós sentamos na enfermaria, vestidos em nossos robes, e ficamos ouvindo McMurphy e o Sr. Turkle contarem histórias do Exército, enquanto eles passavam um dos cigarros do Sr. Turkle de um para o outro, fumando de um jeito esquisito, prendendo a fumaça quando tragavam até os olhos se arregalarem. Uma vez Harding perguntou que espécie de cigarro estavam fumando que tinha um cheiro tão provocante, e o Sr. Turkle disse numa voz aguda, prendendo o fôlego: – Ora, um cigarro comum. É sim. Quem quer uma tragada?

Billy foi ficando cada vez mais nervoso, com medo de que a garota pudesse não aparecer, e com medo de que aparecesse. Ficava perguntando por que não íamos todos para a cama, em vez de ficarmos sentados ali fora no escuro e no frio, como cachorros esperando na cozinha pelos restos da mesa, e nós apenas sorrimos para ele. Nenhum de nós estava com vontade de ir para a cama; não estava fazendo frio nenhum, e era agradável se descontrair ali na semi-obscuridade e ouvir McMurphy e o Sr. Turkle contarem histórias. Ninguém parecia estar com sono, nem mesmo muito preocupado porque já fosse mais de duas horas e a garota ainda não tivesse aparecido. Turkle disse que talvez ela estivesse atrasada porque a ala estava tão escura que ela possivelmente não conseguia ver qual era aquela para onde devia vir, e McMurphy disse que aquilo era óbvio, assim os dois saíram correndo para cima e para baixo pelos corredores, acendendo todas as luzes do lugar. Estavam até a ponto de acender as luzes grandes, de acordar todos no dormitório, quando Harding disse que aquilo simplesmente tiraria todos os outros homens da cama para partilhar as coisas. Eles concordaram, e então se decidiram por todas as luzes do consultório do médico.

Tão logo iluminaram a ala como se fosse dia claro, ouviu-se uma batida na janela. Murphy correu para lá e encostou o rosto no vidro cobrindo os lados com as mãos para poder enxergar. Virou-se e sorriu para nós.

– Ela anda que é uma beleza, à noite – disse ele. Segurou Billy pelo pulso e o arrastou até a janela.

– Deixe-a entrar, Turkle. Vamos soltar esse garanhão maluco em cima dela.

– Olhe, McM-M-M-Murphy, espere – Billy empaca como uma mula.

– Não comece a me mamama-murphar, Billy. Agora é tarde demais para recuar. Você vai conseguir. Vou dizer-lhe uma coisa: aposto cinco dólares como você vai derrubar aquela mulher; tá bem? Para a janela, Turkle.

Havia duas garotas na escuridão, Candy e a outra que não havia aparecido para a pescaria.

– Cachorro-quente – disse Turkle, ajudando-as a entrar – bastante para todo mundo.

Todos nós fomos ajudar: elas tiveram de levantar as saias justas até as coxas para passar pela janela. Candy disse:

– McMurphy, seu maldito – e tentou atirar os braços em volta do pescoço dele com tanta violência que quase quebrou as garrafas que segurava nas mãos, pelo gargalo. Estava cambaleando um bocado, e o cabelo soltava-se do penteado que havia feito no alto da cabeça. Achei que ela ficava melhor com ele puxado para trás, como estivera no dia da pescaria. Ela acenou para a outra garota com uma garrafa, depois que entrou.

– A Sandy veio junto. Ela simplesmente saiu e largou aquele louco de Beaverton com quem se casou, não é um barato?

A garota entrou pela janela, beijou McMurphy, e disse:

– Alô, Mack. Sinto muito não ter aparecido. Mas aquilo já acabou. A gente só agüenta gracinhas como ratos brancos na fronha, vermes no creme e sapos no soutien até um certo ponto. – Sacudiu a cabeça e abanou a mão na sua frente como se estivesse afastando para longe a lembrança do marido que gostava de bichos.

– Criiisto, que doido.

As duas estavam de saia e de suéter, meias de nylon e sem sapatos, os rostos corados e risonhos.

– Tivemos de ficar parando para perguntar o caminho – explicou Candy – em todos os bares por onde passávamos.

Sandy se virava olhando em volta com os olhos arregalados.

– Puxa vida, Candy, onde é que estamos agora? Isso aqui é verdade? Estamos num hospício? Homem!

– Era maior que Candy e talvez uns cinco anos mais velha, tinha tentado prender o cabelo castanho-avermelhado num coque elegante na nuca, mas ele insistia em cair sobre as largas maçãs do rosto, e ela parecia uma tratadora de vacas tentando se fazer passar por uma dama da sociedade. Os ombros, os seios e os quadris eram grandes demais, e o sorriso muito largo e franco para que ela fosse considerada uma beleza, mas era bonitinha e saudável, e tinha um longo dedo enfiado na alça de uma garrafa de um galão de vinho tinto, que balançava ao lado do seu corpo como uma bolsa.

– Como, Candy, como é que essas coisas incríveis acontecem conosco? – Olhou em volta mais uma vez e parou, com os pés descalços separados, rindo.

– Essas coisas não acontecem – disse Harding, com ar solene, para a garota. – Essas coisas são fantasia com que a gente fica sonhando acordado, de noite, e depois fica com medo de contar para o analista. Você não está aqui realmente. Esse vinho não é real; nada disto existe. Agora vamos continuar, partindo daqui.

– Oi, Billy – disse Candy.

– Olhe para aquela coisa – disse Turkle.

Candy estendeu uma das garrafas desajeitadamente para Billy.

– Trouxe um presente para você.

– Essas coisas são sonhos acordados – disse Harding.

– Puxa vida! – disse Sandy. – Onde é que nos viemos meter?

– Shhh – disse Scanlon e olhou em volta, zangado.

– Vocês vão acordar esses outros miseráveis, falando alto desse jeito.

– Que é que há, zangadinho? – Sandy riu, começando a se virar de novo. – Está com medo que não chegue pra todos?

– Sandy, eu devia ter imaginado que você ia trazer essa droga desse vinho barato.

– Caramba! – Ela parou o giro que dava para olhar para mim. – Olha só esse aqui, Candy. Um Golias… fii-fii-fiiúú.

– Que barato - comentou o Sr. Turkle e trancou a janela de novo.

Estávamos todos num grupinho meio desajeitado no meio da enfermaria, olhando uns para os outros, dizendo coisas só porque ninguém sabia ainda o que fazer – nunca havíamos enfrentado uma situação como aquela

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