Ele parecia apressado para sair e até quando Emily sugeriu abater o preço dos dois cafés da manhã que ele não havia comido, insistiu que pagaria a conta completa e iria embora imediatamente. Emily ficou parada na porta e observou-o ir embora em seu carro, sentindo-se um fracasso total.
Não sabia por quanto tempo ficou ali, lamentando o desastre que havia sido seu primeiro hóspede, mas percebeu o toque de seu celular ecoando dentro da casa. Graças à terrível recepção que tinha na velha casa, o único lugar que Emily podia obter sinal era ao lado da porta da frente. Ela tinha uma mesa especial no hall de entrada apenas para seu celular – uma bela antiguidade que havia recuperado de um dos quartos fechados da pousada. Caminhou até o aparelho, preparando-se para saber quem era.
Não havia muitas opções. Sua mãe não havia entrado em contato desde aquela ligação emocionalmente intensa tarde da noite, na qual falaram a verdade sobre a morte de Charlotte e, mais especificamente, sobre o papel de Emily – ou ausência dele – na tragédia. Amy também não havia mais entrado em contato desde sua tentativa improvisada de “resgatar” Emily de sua nova vida, apesar de terem feito as pazes depois. Ben, seu ex, havia ligado várias vezes desde que ela havia ido embora, mas Emily não havia respondido a nenhuma de suas ligações, e agora a frequência delas parecia ter diminuído.
Ela se preparou enquanto olhava para a tela. O nome piscando era uma surpresa. Era Jayne, uma antiga colega de Nova York, de seus tempos de escola. Conhecia Jayne desde que era criança e, ao longo dos anos, haviam desenvolvido o tipo de amizade em que passavam meses sem se falar, mas, no momento em que se encontravam, era como se não tivesse se passado nenhum dia. Jayne provavelmente ficou sabendo por Amy, ou pelo boca-a-boca, sobre a nova vida de Emily, e estava ligando para sondá-la sobre a súbita e abrupta mudança que havia feito.
Emily atendeu a ligação.
“Em?” Jayne disse, com uma voz entrecortada, sem fôlego. “Acabei de esbarrar em Amy enquanto estava correndo. Ela disse que você havia deixado Nova York!”
Emily piscou, sua mente, agora, desacostumada com o estilo apressado de falar que todos os seus amigos nova-iorquinos compartilhavam. A idea de correr enquanto falava ao telefone lhe parecia estranha agora.
“É, na verdade, já faz um tempinho”, ela disse.
“De quanto tempo estamos falando?” Jayne perguntou, seus passos pesados audíveis pelo telefone.
A voz de Emily estava fraca e acanhada. “Humm, bem, uns seis meses”.
“Nossa, preciso te ligar mais vezes!” Jayne arfou.
Emily podia ouvir o tráfego ao fundo, as buzinas dos carros, o baque surdo dos tênis de Jayne enquanto ela corria ao longo da calçada. Isso evocou uma imagem muito familiar em sua mente. Costumava ser aquela pessoa há apenas alguns meses, sempre ocupada, nunca descansando, o celular grudado no ouvido.
“Então, o que há de novo?” Jayne disse. “Conte-me tudo. Imagino que Ben esteja fora do jogo?”
Jayne, assim como todos os amigos e familiares de Emily, nunca gostou de Ben. Eles conseguiam ver o que Emily não conseguiu por sete anos – que ele não era o cara certo para ela.
“Com certeza, fora do jogo”, Emily replicou.
“E há alguém novo?” Jayne perguntou.
“Talvez...” Emily disse, tímida. “Mas é novo e ainda um pouco instável, então, prefiro não correr o risco de estragar as coisas falando a respeito”.
“Mas eu quero saber de tudo!” Jayne gritou. “Ah, espere. Tem outra ligação”.
Emily aguardou na linha, que ficou muda. Alguns segundos depois, o barulho da manhã da cidade de Nova York preencheu seus ouvidos novamente, quando Jayne se reconectou.
“Desculpe, amiga”, ela disse. “Tive que atender. Era do trabalho. Então, ouça, Amy disse que você está com uma pousada aí, ou coisa assim?”
“Ah-han”, Emily replicou. Sentiu-se um pouco tensa falando sobre a pousada, já que Amy havia deixado tão claro que era uma ideia estúpida, sem mencionar que toda aquela mudança na vida de Emily era considerada uma má ideia.
“Há algum quarto disponível no momento?” Jayne perguntou.
Emily foi pega de surpresa. Não esperava a pergunta. “Sim”, disse, pensando no quarto agora abandonado pelo Sr. Kapowski. Por quê?”
“Quero ir!” Jayne exclamou. “É o final de semana do Memorial Day, afinal. E preciso desesperadamente sair da cidade. Posso fazer uma reserva?”
Emily hesitou. “Não precisa fazer isso, sabe. Pode vir e ficar como visita”.
“De jeito nenhum”, Jayne replicou. “Quero o tratamento completo. Toalhas novas todo dia. Ovos e bacon no café da manhã. Quero vê-la em ação”.
Emily riu. De todas as pessoas com as quais havia falado sobre seu novo empreendimento, Jayne foi a que demonstrou mais apoio.
“Bem, então, deixe-me fazer sua reserva”, disse. “Por quanto tempo pretende ficar?”
“Não sei, uma semana?”
“Ótimo”, Emily falou, uma pequena onda de alegria tomando conta dela. “E quando vai chegar?”
“Amanhã de manhã”, Jayne disse. “Por volta das dez”.
A onda de alegria aumentou ainda mais. “Certo, espere um momento enquanto cadastro seus dados”.
Um pouco tonta pela animação, pôs o celular na espera e correu até o computador na mesa da recepção, onde se logou no programa de reservas e digitou os dados de Jayne. Ela se sentiu orgulhosa por ter, tecnicamente, enchido a pousada todos os dias desde que abriu, ainda que só tivesse um quarto, e ainda que tivesse aberto há apenas dois dias...
Correu novamente até seu celular. “Certo, você já tem uma reserva para uma semana”.
“Muito bom”, Jayne disse. “Você me parece muito profissional”.
“Obrigada” Emily respondeu timidamente. “Ainda estou pegando o jeito. Meu último hóspede foi um desastre”.
“Você poderá me contar tudo amanhã”, Jayne disse. “Tenho que ir. Vou correr meu décimo sexto quilômetro, então, preciso poupar fôlego. Vejo você amanhã?”
“Mal posso esperar”, Emily replicou.
Emily sorriu ao encerrar a ligação. Não havia percebido o quanto sentia falta de sua amiga até falar com ela. Ver Jayne amanhã seria um antídoto maravilhoso para o desastre com o Sr. Kapowski.
Exausta depois da manhã longa e desastrosa, Emily afundou na tristeza. Para todo lugar que olhava, via problemas e erros; uma parede mal pintada, uma luminária mal instalada, um móvel que não combinava. Antes, havia-os visto como um toque de charme, mas agora, incomodavam.
Sabia que precisava de ajuda e conselhos de um profissional. Ela estava muito enganada, achando que podia, simplesmente, tomar conta de uma pousada.
Decidiu ligar para Cynthia, a dona da livraria que já gerenciou uma pousada quando jovem, para pedir conselhos.
“Emily”, Cynthia disse, ao atender a chamada. “Como está, querida?”
“Terrível”, Emily disse. “Estou tendo um dia péssimo”.
“Mas ainda são sete e meia da manhã!” Cynthia exclamou. “Como pode estar tão ruim?”
“Muito, muito ruim”, Emily replicou. “Meu primeiro hóspede acaba de ir embora. Perdi a hora e não pude preparar o café da manhã no primeiro dia; então, no segundo dia, não tinha ingredientes suficientes e ele disse que a comida estava fria. Não gostou dos travesseiros, nem das toalhas. Não sei o que fazer. Pode me ajudar?”
“Vou passar aí agora mesmo”, Cynthia disse, parecendo animada com a perspectiva de compartilhar um pouco de sabedoria.
Emily saiu para esperar por Cynthia e se sentou no terraço, esperando que um banho de sol pudesse animá-la um pouco, ou, pelo menos, que uma dose de vitamina D faria isso. Sua cabeça estava tão pesada que ela deixou-a cair nas mãos.
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