Uma parte do ex-depósito era reservada para a sua coleção de souvenirs recuperados em todas as suas missões espaciais realizadas durante os anos. Cada um deles lhe lembrava de algo especial e cada vez que ele estava no meio daquela confusão absurda de objetos estranhos, não podia deixar de agradecer a sua boa sorte, e acima de tudo, seu fiel amigo que, mais de uma vez, tinha salvado a sua vida.
Petri ao contrário, embora sempre se destacasse brilhantemente nos estudos, não era um amante da tecnologia de ponta. Embora fosse capaz de dirigir com facilidade praticamente todos os tipos de veículos em circulação, conhecer perfeitamente cada modelo de arma e todos os sistemas de comunicação locais e interplanetários, preferia, muitas vezes, confiar nos seus instintos e nas suas habilidades manuais para resolver os problemas que se apresentavam. Mais de uma vez, diante de seus olhos, o vira transformar em pouquíssimo tempo, um amontoado disforme de sucata de metal em um meio de transporte ou uma incrível arma de defesa. Poderia construir qualquer coisa que precisasse. Certamente em parte era devido à hereditariedade transmitida pelo seu pai, um hábil artesão, mas acima de tudo, à sua grande paixão pelas artes. Desde jovem, na verdade, se encantava com as habilidades manuais dos artesãos que conseguiam transformar matéria incapacitada em algo de muito útil e tecnológico, deixando intacta dentro deles a beleza.
Um som desagradável, intermitente e alto, o surpreendeu, trazendo-o imediatamente de volta à realidade. O alarme automático de proximidade soou de repente.
Certamente o hotel não era “cinco estrelas”, mas para alguém como ela, que estava acostumada a passar semanas em uma tenda no deserto, até mesmo um banho de chuveiro podia ser considerado um luxo. Elisa deixou a água quente e reanimadora caindo massagear o pescoço e os ombros. Seu corpo parecia apreciar muito, porque uma série de arrepios agradáveis passou várias vezes por suas costas.
Só percebemos a importâncias de certas coisas quando não as temos mais.
Ela decidiu sair do chuveiro somente dez minutos depois. O vapor tinha embaçado o espelho que estava visivelmente torto. Tentou endireitá-lo, mas assim que soltava, voltava à sua posição original. Preferiu ignorá-lo. Com um pedaço da toalha secou uma gota de água que permanecia sobre ele e se admirou. Quando mais jovem, havia sido repetidamente contatada para trabalhar como modelo e até mesmo como atriz. Talvez agora poderia ser uma estrela de cinema ou a esposa de um rico jogador de futebol, mas o dinheiro nunca a atraíra muito. Preferia suar, comer poeira, estudar textos antigos e visitar lugares remotos. A aventura sempre esteve no seu sangue e a emoção que sentia ao descobrir um artefato antigo, o desenterrar dos restos de milhares de anos, não podia ser comparado a nenhuma outra coisa.
Ela se aproximou do espelho, demais, e viu aquelas malditas rugas finas nas laterais dos olhos. A mão foi automaticamente dentro da necessaire, da qual tirou um desses cremes que “rejuvenescem dez anos em uma semana”. Com cuidado passou por todo o rosto e se olhou atentamente. O que queria, um milagre? Além disso, o efeito seria visível somente após “sete dias”. Ela sorriu para si mesma e para todas as mulheres que foram facilmente enganadas pela publicidade.
O relógio na parede acima da cama marcava 19:40. Nunca conseguiria se preparar em apenas vinte minutos.
Secou-se o mais rápido possível, deixando o cabelo loiro ligeiramente molhado, e ficou na frente do guarda-roupa de madeira escura, onde guardava as poucas roupas elegantes que tinha conseguido levar consigo. Em outros momentos, ela poderia passar horas decidindo o vestido para a ocasião, mas, naquela noite, a escolha era muito limitada. Optou, sem pensar muito, pelo vestido preto curto. Muito bonito, muito sexy, sem ser vulgar, com um decote generoso que certamente valorizaria os generosos seios. Pegou-o e, com um elegante movimento, jogou o vestido na cama.
19:50. Apesar de ser mulher, detestava se atrasar.
Ela olhou pela janela e viu um carro escuro, incrivelmente brilhante, exatamente em frente à porta do hotel. Aquele que deveria ser o motorista, um rapaz vestido com roupas militares, estava encostado no capô, aproveitando a espera para calmamente fumar um cigarro.
Usou lápis e rímel para salientar os olhos, passou um batom rapidamente, e enquanto tentava distribui-lo uniformemente com uma série de beijos no ar, colocou seus brincos favoritos, com dificuldade em achar os “buracos”.
Na verdade, fazia muito tempo que não saía à noite. O trabalho fazia com que ela estivesse sempre viajando ao redor do mundo e nunca fora capaz de encontrar uma pessoa para um relacionamento estável, que durasse mais do que alguns meses. O instinto maternal inato que toda mulher e que ela habilmente fazia questão de ignorar, agora, com a aproximação da maturidade biológica, se fazia presente sempre mais. Talvez fosse hora de pensar seriamente em começar uma família.
Abandonou esse pensamento o mais rápido possível. Colocou o vestido, calçou o único par de sapatos de salto alto de doze centímetros que tinha trazido, e com gestos largos, jogou em ambos os lados do pescoço o seu perfume favorito. Xale de seda, grande bolsa preta. Estava pronta. Uma última olhada no espelho perto da porta confirmou a perfeição do seu vestuário. Deu uma volta e saiu com ar satisfeito.
O jovem motorista, depois de colocar o queixo no lugar, que caíra pela visão de Elisa quando saiu do hotel, jogou o segundo cigarro que acabara de acender e correu para abrir a porta do carro.
— Boa noite, Doutora Hunter. Podemos partir? — o militar perguntou com voz hesitante.
— Boa noite — disse ela, testando o seu maravilhoso sorriso. — Vamos.
— Obrigada pela viagem — acrescentou enquanto entrava no carro, sabendo muito bem que a saia subiria ligeiramente e teria parcialmente mostrado as pernas ao militar envergonhado. Ela sempre gostou de se sentir admirada.
Astronave Theos Alarme de proximidade
O sistema O^OCM fez materializar, bem na frente de Azakis, um objeto estranho cujos contornos, por causa da baixa resolução da visão de longo alcance que o levavam, ainda não estavam bem definidos. Estava se movendo e andava em direção a eles. O sistema de aviso de proximidade avaliou a probabilidade de impacto entre a Theos e o objeto desconhecido em mais de 96%, se ninguém alterasse a rota.
Azakis rapidamente entrou no módulo de transferência mais próximo. — Sala de controle — ordenou ao sistema automatizado.
Depois de cinco segundos, a porta se abriu assobiando e a grande tela central da sala de controle mostrava, ainda muito turva, o objeto que estava se movendo em rota de colisão com a nave.
Quase simultaneamente, outra porta perto dele se abriu e Petri saiu fatigado.
— Que diabos está acontecendo? — perguntou o seu amigo, — Não deveria ter meteoritos nesta área — exclamou com espanto, olhando para a grande tela.
— Não acho que seja um meteorito.
— Se não é um meteorito, então o que é? — Petri perguntou, visivelmente preocupado.
— Se não corrigirmos imediatamente a rota, poderá ver com seus próprios olhos quando estivermos espalhados pela ponte de comando.
Petri imediatamente mexeu nos controles de navegação e ajustou uma ligeira variação na trajetória predefinida.
“Impacto em 90 segundos” comunicou sem emoção a voz feminina do sistema de aviso. “Distância do objeto: 276.000 km, em aproximação.”
— Petri faça alguma coisa e já! — gritou Azakis.
— Estou fazendo, mas essa coisa é muito veloz.
A estimativa da probabilidade de impacto, visível na tela do lado direito do objeto, estava diminuindo lentamente. 90%, 86%, 82%.
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