Sumalee
Histórias de Trakaul
de
Javier Salazar Calle
Traduzido por Mariana Baroni
Ilustração da capa © Sara García
Ilustrações internas @Elena Caro Puebla
Foto do autor © Ignacio Insua
Título original: Sumalee. Histórias de Trakaul.
Copyright © Javier Salazar Calle, 2020
3ª Edição (revisada)
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Dedico a Raquel, a melhor amiga que alguém poderia desejar.
Agradecimentos:
A Antonio Fernández, por contribuir com seus extensos conhecimentos sobre Cingapura e revisar o livro; a Josele González, pela fantástica página da Web que me fez ( www.javiersalazarcalle.com); e a meus leitores beta, por tornarem este livro muito melhor: minha mulher, Elena Caro; minha irmã, Pilar Salazar e meu pai, Jose Antonio.
ÍNDICE
Tailândia 12
Cingapura 1
Cingapura 2
Cingapura 3
Tailândia 13
Cingapura 4
Cingapura 5
Cingapura 6
Tailândia 14
Cingapura 7
Cingapura 8
Cingapura 9
Tailândia 15
Cingapura 10
Cingapura 11
Cingapura 12
Cingapura 13
Tailândia 1
Tailândia 2
Tailândia 3
Tailândia 4
Tailândia 5
Tailândia 6
Tailândia 7
Tailândia 8
Tailândia 9
Tailândia 10
Tailândia 11
Tailândia 16
Tailândia 17
Tailândia 18
Tailândia 19
Tailândia 20
Tailândia 21
Tailândia 22
Tailândia 23
Tailândia 24
Tailândia 25
Tailândia 26
Tailândia 27
Tailândia 28
Tailândia 29
Tailândia 30
Outros livros do autor
Sobre o autor
A primeira porrada me deixou meio aturdido. A segunda me derrubou no chão. Ali, recebi um monte de chutes durante vários minutos. Tentei me encolher como um bebê e cobri a cabeça como pude. Um deles gritou, se divertindo:
— Você sabe bem como apanhar.
Quando se cansaram, eles foram embora do mesmo jeito que chegaram, andando com calma, rindo. A multidão se dispersou em seguida e quando abri os olhos, tudo parecia normal à minha volta, como se nada tivesse acontecido. Cada preso com suas coisas. Lei do silêncio.
Não era a primeira vez. Tinham me acertado nas marcas de todas as surras anteriores, sobre hematomas com toda sorte de cores em todas as suas fases de evolução. Em um deles, de um soco no olho, me deixaram com a visão embaçada por um par de dias, mas acabei me recuperando. Nesses dois dias, eu estava convencido de que ficaria cego para o resto da vida. A certeza era aterradora, muito mais que a lesão em si. Em outra ocasião, quando me deram um tapão no ouvido, fiquei enjoado por uma semana. Também tinha várias costelas lesionadas, não sabia se quebradas, e dores de todo tipo em cada parte do corpo. Me lembrava dos temos da juventude, quando eu dava uma de valentão e todo dia saía na porrada com alguém. Aprendi que proteger a cabeça era o fundamental. O resto sarava; melhor ou pior, mas sarava. O que era sinistro nessa situação, o mais humilhante, era ver como os guardas da prisão eram espectadores à distância em muitas dessas surras. Até riam e apostavam. Sobre o que? Não sabia, porque me limitava a receber as porradas desejando que acabassem o mais rápido possível. Talvez sobre se aquela seria a surra que me mataria.
Tentei me levantar, mas uma dor aguda no peito me impediu. Ali, no chão do corredor, de joelhos, eu tentava abrir a boca ao máximo para poder pegar a maior quantidade de ar para aliviar minha sensação de sufocamento, de asfixia. Eu estava me concentrando em respirar de forma lenta e profunda, mas não conseguia. Levei um tempo para diminuir meu ritmo cardíaco e poder respirar novamente com relativa normalidade. Com um árduo esforço fiquei de pé e, cambaleando, apoiando-me nas paredes, me esquivando de outros presos que me ignoravam, cheguei à minha cela. Minha e de mais quarenta pessoas.
Uma vez ali, sentei-me no colchonete e fiquei um tempo quieto, tentando deixar a mente em branco e isolar-me de tudo o que me rodeava, incluindo a dor que percorria meu corpo de cima a baixo. Um corpo que pedia aos gritos que eu me deitasse e não me levantasse por algumas horas, mas eu sabia que não podia fazer isso. Eu sabia. Minha sobrevivência dependia disso. Fiz o que eu tinha que fazer. O que era necessário. Me levantei e comecei minha rotina de treinamento. Alongamentos complexos, flexões, agachamentos… Trabalhando cada parte do corpo de forma independente e junto com as demais. A dor era quase insuportável, mas nem por isso parei; mesmo chorando em silêncio, molhando o chão com minhas lágrimas. Nunca deveria mostrar fraqueza. Se eu quisesse sobreviver, se quisesse poder sair algum dia dali sem que fosse no triste caixão de papelão que usavam, eu deveria continuar. Acabei o treinamento, tanto com os movimentos que eu tinha aprendido com meu antigo professor de boxe, quanto imitando o que eu via os prisioneiros que treinavam Muay Thai fazerem no pátio, aprendendo a lutar como eles, com a diferença de que eles faziam isso diante de todos, em plena luz do dia, e eu só treinava quando ninguém estava me vendo. Afastado de todo olhar curioso. Preparando-me nas sombras.
Algum dia, que eu esperava que fosse logo, me sentiria preparado e não me limitaria a receber os golpes, tentando minimizar o dano, mas responderia de forma brutal, certeira e sem compaixão. Matando, se fosse necessário. Sim, mataria sem pensar duas vezes. Nesse dia, eu ganharia o respeito deles e terminaria essa parte do pesadelo que estava vivendo. Eu tinha que garantir minha vitória de qualquer jeito, porque se me levantasse conta eles e não triunfasse de forma a não deixar espaço para dúvidas, me matariam. Pode ter certeza disso. Enquanto isso, só me restava ter paciência e tentar me manter com vida até esse momento, sem sofrer nenhum dano irreparável.
Eu tinha visualizado na minha cabeça mil vezes esse momento. Com mil variantes, com diferentes finais, em todo tipo de cenário, tentando prever qualquer possibilidade. Em breve, muito em breve, chegaria a minha hora. Ou morreria.
Mas como eu tinha chegado a esta situação, quando há apenas algumas semanas eu era David, um insignificante profissional de TI nos escritórios de uma instituição financeira de Madri? Que circunstâncias tinham me empurrado para esta situação inconcebível em tão pouco tempo?
Enquanto eu lutava contra o sofrimento, enquanto seguia com o calvário que me levava ao exercício, repassava as infelizes circunstâncias vividas. Que me empurraram de uma vida tranquila no departamento de informática de um banco para estar preparando0me para poder matar alguns indesejáveis que abusavam de mim constantemente na temida prisão de Bang Kwang, a sete quilômetros ao norte de Bangkok, na Tailândia. Uma das prisões mais perigosas do planeta. O poço de perdição onde eu me encontrava. Meu final, se eu não fosse capaz de inventar um caminho que me salvasse.
Algumas semanas antes…
Me custou várias tentativas para conseguir desligar o despertador. No segundo tapa, quase que eu o atiro da mesa de cabeceira. Sentei-me na borda da cama e estiquei os braços enquanto dava um grande bocejo. Mais um dia de trabalho. Como um autômato, levado pela rotina, comi o café da manhã, tomei uma ducha e me vesti. Quarenta minutos depois de ter me levantado, estava arrancando com o carro.
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