João Pedro Duarte - Carta muito pessoal de um recluso Covid-ativo

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Carta muito pessoal de um recluso Covid-ativo: краткое содержание, описание и аннотация

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Dividido em três partes, o livro 'Carta muito pessoal de um recluso Covid-ativo' traz-nos dois contos e um conjunto de cartas, escritas pelo autor durante o confinamento decretado no país em março de 2020. Com uma prosa aprimorada e recheada de referências familiares, o autor inicia-se na ficção com os contos 'Um fim de semana qualquer' e 'O último heterónimo de Fernando Pessoa'. Na terceira parte, apresenta-nos as suas reflexões durante a quarentena, encarada como um desafio desconcertante, mas nem por isso inexequível. Fala-nos dos heróis da nova rotina, dos livros que saíram das prateleiras, das mudanças que podem ter vindo para ficar. Partilhas com laivos humorísticos, mas igualmente pertinentes, que espelham a experiência que tem sido o ano de 2020.

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Enquanto não chegava a hora de desamparar a loja, Carlos ainda teve tempo de resumir a sua estadia em Veneza, cidade que tinha visitado durante a semana transata. Embora esta companhia fosse deprimente em toda a sua plenitude, o tópico em redor de Veneza era como uma melodia suave para os ouvidos do rapaz que, embora fosse bastante viajado, nunca tinha tido a oportunidade de confraternizar com a Rainha do Adriático. “Olha, é um autêntico labirinto, onde não precisas de te orientar com mapa ou bússola”, disse-lhe Carlos. Em contrapartida, achou por bem omitir o facto de ter ficado praticamente a pão e água nos últimos dois dias da viagem, por ter esbanjado uma vasta porção de euros em passeios românticos de gôndola. No final, para Carlos, São Marcos permaneceu no mesmo nível apático que o seu querido Santo António, cuja única função é aparecer em Alfama lá para o início de junho, e na pele de santo padroeiro da sardinha e da cerveja.

A conversa terminou quando o autocarro parou na estação da Avenida Gago Coutinho, onde Carlos saiu. Para o rapaz, já não faltava muito até estar na companhia de um daqueles bifes servidos na clássica frigideira da Portugália, onde, ao balcão, os preços eram ligeiramente mais atraentes. É certo que, no decorrer dos anos, mudam-se os tempos e as vontades, contudo, o rapaz foi invadido por um célebre momento ou sentimento de nostalgia. A textura e o sabor do molho apresentado no bife que lhe tinha sido servido, continha exatamente a mesma definição de gosto que naquela ocasião em que o tio João o levara a experimentar a referida iguaria, há tantas primaveras atrás. Depois, terminada que estava a refeição, passou rapidamente pela casa de banho dos senhores para se certificar que o bigode tinha saído ileso às tropelias do molho diabrete e, sem mais nada a apontar, estava preparado para voltar a casa.

Sob pena de chegar atrasado, uma vez que tinha o tal compromisso marcado com Helena, o rapaz decidiu não efetuar desvios secundários após o almoço. Lamentou o facto de não ter a possibilidade de ficar a ler um livro, ou até mesmo um jornal, algures na Praça do Chile. Já num dos dois autocarros que tinha de apanhar para regressar, constatou que trazia uma edição de bolso de “Grandes Esperanças” de Charles Dickens numa das algibeiras interiores do casaco. O frio tendia a prevalecer com maior intensidade nos últimos dias, e aquele casaco tinha sido guardado no roupeiro há dois ou três meses. Desta forma, não se recordava ao certo da data em que tinha comprado o livro, e por que razão o tinha deixado num bolso qualquer. A princípio até pensou folhear a obra de relance, mas como não suportava as habituais dores de cabeça quando tentava ler algo num transporte em movimento, o tiro saiu-lhe pela culatra.

O rapaz chegou a casa poucos minutos antes das cinco da tarde. Antes de averiguar a prateleira onde estava o filme que iria entregar a Helena, deu um beijo na testa da mãe, que, entretanto, já tinha regressado do almoço com o avô. Enquanto a gata ronronava em sinal de puro mimo, Luísa estava sentada numa das poltronas da sala a ler um livro de Daniel Sampaio. Ao contrário do rapaz, a mãe tinha uma missão bastante concisa neste mundo que julgamos conhecer. É que Luísa tinha a arte e o engenho de ajudar pessoas a colmatar algumas mazelas do corpo e da mente, ao mesmo tempo que se via forçada a testemunhar o sofrimento alheio. Por vezes, conseguiu resgatar um certo aglomerado de viajantes que estavam de malas aviadas em direção aos montes e vales administrados por São Pedro. Embora lutasse com todo o seu arsenal de convicções e faculdades para colocar uma rolha à garrafa da morte, seria contranatura impedir que esta desempenhasse o ofício que tanto lhe compete. Para o rapaz, se a mãe estava apta a cumprir a sua missão em prol dos outros, ao mesmo tempo que possuía discernimento para suportar as rasteiras da ciência e do destino, então só poderia ser o braço direito de um Deus maravilhoso.

Às cinco horas, o rapaz estava à porta de casa com «A Doce Vida» na mão. Do outro lado da rua, um cão passeava com o dono num estilo gingão. Ao longe, viu a figura da mulher que o tinha abandonado no início de mais um fim de semana qualquer. O seu coração palpitava como nunca, e os dedos entrelaçavam-se uns nos outros. Afinal, havia uma justificação para Helena ter faltado ao encontro com o pobre rapaz. Mas há que perdoar a criatura, visto que, muitas vezes, o ser humano tem o engenho de criar amuos e enredos fictícios só para ver o tempo passar, e para justificar a ausência de uma tarefa que ocupe a passagem dos dias, dos meses e até dos anos. O rapaz entregou-lhe o filme, trocaram dois dedos de conversa, e a interação entre ambos seria como uma folha caduca, ou até como aqueles juízos de valor que muitos gostam de declamar, mas que de pouco valem para quem tentam curar.

O rapaz voltou para casa, cabisbaixo, como se tivesse levado um murro no estômago. Mais do que a desilusão por não ser correspondido, era o desalento de perceber que Helena não idealizava o destaque e o esforço que o rapaz fazia para receber uma espécie de afeto diferente de algo meramente comum. Luísa via aqueles olhos azuis faiscarem de tremor e melancolia, contudo, tinha uma história bem guardada para fazer reacender a chama daquele coração despedaçado. Luísa conhecia a história de um amor improvável, cuja Fénix renasceu das cinzas, e que nunca mais deixou a chama esmorecer. “Senta-te aqui. Vou-te contar uma história”, disse Luísa. “Mãe…desculpa lá, mas, muito sinceramente, as tuas palavras ensaiadas valem-me pouco neste momento”, atirou o rapaz em jeito de desespero. No entanto, quando os seus olhos foram ao encontro do vislumbre da progenitora, não foi capaz de a abandonar com aquela resposta, e acabou por sentar-se no sofá.

“Sabes, vou contar-te a história de duas pessoas que conheci em tempos, e que me ensinaram que a vida nem sempre sorri aos predestinados, mas sim aos audazes. Começou há muito tempo.

Ela nasceu em 1944, no seio de uma família humilde do interior de Portugal. Quando tinha sete anos, o seu pai estava a trabalhar em Lisboa e, por conseguinte, ela teve de abandonar a sua aldeia, juntamente com a mãe e a irmã, com o intuito de descobrir uma vida melhor junto do pai na capital. Uma semana depois, o avô da menina foi a Lisboa ver se filha e as netas estavam bem instaladas, e idealizar se a vida na capital era, de facto, uma mais valia para o futuro de todos eles. Inevitavelmente, quando viu o avô, Fernanda (o nome da menina) teve a certeza que o seu coração palpitava pela vida na aldeia, pelo vento a moldar-lhe a forma do cabelo, pelo aroma das laranjeiras e das oliveiras que emanava no ar, e pela liberdade que nunca deixou de sentir. A rapariga conseguiu. Regressou à aldeia com o avô.

Por infortúnio do destino, seis meses após ter regressado, o avô recebeu o chamamento divino de Deus, e não podia acompanhar mais a menina, nem os campos onde ela podia correr como um autêntico potro livre de receios. Para além do avô, a rapariga viva com a avó e um tio, de seu nome Risota, que estava viúvo naquela altura. Perante aquela situação, a mãe da jovem Fernanda tentou que ela regressasse a Lisboa, visto que tinha perdido a pessoa que a ajudara a regressar à aldeia. Porém, Risota viu naquela menina a filha que nunca teve, e pelo afeto empregue pelo destino, pediu à mãe de Fernanda que a deixasse ficar. Durante três anos, a menina viveu na aldeia, e foi com o tio que vivenciou um dos períodos mais felizes da sua vida. A avó de Fernandinha fazia a sua vida com a água da chuva, e com água que ela tirava de uma pia medieval. A rapariga ficava sentada a vislumbrar toda aquela leveza de espírito, num trilho que Risota fazia enquanto moía o trigo e cuidava do gado.

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