João Pedro Duarte - Carta muito pessoal de um recluso Covid-ativo

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Carta muito pessoal de um recluso Covid-ativo: краткое содержание, описание и аннотация

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Dividido em três partes, o livro 'Carta muito pessoal de um recluso Covid-ativo' traz-nos dois contos e um conjunto de cartas, escritas pelo autor durante o confinamento decretado no país em março de 2020. Com uma prosa aprimorada e recheada de referências familiares, o autor inicia-se na ficção com os contos 'Um fim de semana qualquer' e 'O último heterónimo de Fernando Pessoa'. Na terceira parte, apresenta-nos as suas reflexões durante a quarentena, encarada como um desafio desconcertante, mas nem por isso inexequível. Fala-nos dos heróis da nova rotina, dos livros que saíram das prateleiras, das mudanças que podem ter vindo para ficar. Partilhas com laivos humorísticos, mas igualmente pertinentes, que espelham a experiência que tem sido o ano de 2020.

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Ao entrar no carro, o rapaz temia a forma como este ficara encurralado naquele local. Tinha tirado a carta de condução há pouco menos de dois meses, e, naquela situação, teria de efetuar um conjunto de manobras apertadas para conseguir sair do parque de estacionamento. Pelo menos, já não confundia o travão com a embraiagem, e encontrava agora o ponto de embraiagem de forma a que o carro começasse a ameaçar o início da marcha. Ao fim daquela demanda, meteu a primeira mudança, depois a segunda, por fim a terceira, e depois ia alternando como que num jogo de xadrez com a caixa de velocidades, ao som de um álbum dos GNR, que o guiou até casa.

Naquela noite, o rapaz tinha degustado a tal sanduíche de presunto em jeito de prenúncio triunfante. O Benfica tinha somado mais três pontos no campeonato nacional, graças a um golo marcado nos minutos finais do jogo. O acontecimento ia dar azo a inúmeros debates acerca da veracidade e legalidade do referido lance, uma vez que este tipo de confronto tribal tendia a ser aposta universal nos canais de televisão generalistas. Mais tarde, como era habitual quando ambos não tinham afazeres ou encontros marcados com os respetivos amigos ou conhecidos, mãe e filho decidiram ir ao cinema. É que o cinema tem essa beleza muito própria de, a par dos livros, assumir a forma de portal que nos dá acesso a uma amálgama de universos alternativos.

No dia seguinte, não se ouviram os dois toques habituais da campainha que, por norma, costumavam ocorrer pelas oito horas da manhã de quase todos os dias lá por casa. O senhor Lemos, carteiro de profissão há mais de quinze anos, não andava na faina habitual. Era domingo. Adicionalmente, o calendário espelhava também que tinha lugar o dia 19 de março, a data em que se homenageia a figura familiar paterna. Luísa iria almoçar com o pai, o avô do rapaz, que, apesar da tacanha e mísera carência auditiva, não apresentava quaisquer lapsos de memória. Em contrapartida, o jovem não tinha qualquer espécie de ligação ou afeto pela data em questão, muito em parte por terem sido raras as vezes em que a pôde celebrar condignamente.

Tal como D. Sebastião, que assumiu o reino de Portugal e dos Algarves com um desconcertante fervor militar e religioso, também Alberto, o pai do rapaz, foi solicitado a reviver os tempos de glória da Reconquista da família. De nome aparentemente possante e porte atlético, este homem tinha sido criado à imagem de um guerreiro que assumiria as fileiras de todas as batalhas, e que iria dignificar o nome da família e da Pátria pela ousadia com que se atrevia a navegar além dos inúmeros “Bojadores” desta vida. Do amor que se adivinhou entre Alberto e Luísa, surgiria um filho em jeito de ode à união que previa ser duradoura.

Contudo, Alberto tinha a ambição de perfurar o inalcançável, de trincar o fruto proibido, e de descobrir a dádiva efémera que nenhum outro mortal conseguia idealizar. Nessa sua missão em busca da prosperidade e felicidade que o Império clamava, Alberto partiu com a promessa de um regresso triunfante. Para trás, ficaram a esposa e o filho que, doravante, teriam de consumar a partida da figura que talvez surgisse num amanhecer risonho. Durante alguns anos, o “Desejado” foi chorado pelo rapaz, todavia, e embora nunca tivesse deixado de ser recordado com carinho, passaria mais tarde a ser considerado uma lenda, cuja história era o pináculo da metamorfose entre realidade e fantasia.

O rapaz exercia funções profissionais no Aeroporto da Portela, nome que futuramente viria a ser substituído pelo do general sem medo, aquele que, no decorrer da sua candidatura à Presidência da República, ameaçou afastar o tal senhor “feito de sal e azar”. No entanto, como tinha tirado uns dias de férias, não sentia o incómodo usual na coluna que era provocado pela carga horária extenuante. Se no sábado tinha escolhido passear junto às margens do Tejo, o jovem pretendia agora dar uma escapadela, se assim é permitido afirmar, por um local mais perto da sua casa. A mãe ia almoçar com o avô, e as papilas gustativas do rapaz sentiam o rasto que prometia levá-lo, através um bilhete só de ida, até ao manjar dos bifes da Portugália, que ficava na Avenida Almirante Reis.

Luísa já tinha saído para ir ter com o pai, mas o rapaz ainda estava em casa, e com o pijama a assentar-lhe como uma luva. Antes de ir almoçar, decidira que havia chegado a altura de se barbear, visto que já apresentava um tufo de pelo serrado por toda a face. Ao invés de eleger aquelas lâminas de barbear descartáveis, usava uma navalha clássica que o tio João lhe tinha oferecido quando se começou a notar o formato de um buço tímido. Depois, escolheu peças de roupa simples para ir ao encontro do tal bife. Tirou do roupeiro um par de calças de ganga ligeiramente largas, uma camisola de manga curta com a imagem de Jules Winnfield e Vincent Vega, do clássico Pulp Fiction, um casaco banal e, por fim, calçou os ténis que tinha comprado há um ano e meio na Baixa. Para um rapaz de vinte e quatro anos, o ‘look’ escolhido não era efetivamente prometedor, mas como o fraque era o traje de eleição para o emprego que tinha no Aeroporto, pretendia afastar aquele registo de requinte nas horas vagas.

Numa altura em que os bolsos das calças já estavam ocupados com menos de meia dúzia de objetos pessoais, o jovem estava pronto para sair de casa. No preciso momento em que começava a rodar a maçaneta da porta que dava para a rua, o telemóvel emitiu uma daquelas sinfonias que já vêm pré-definidas, e que são usadas como “toque” que nos adverte para a chamada de alguém que pretende ouvir a nossa voz sem ser pessoalmente. No ecrã do telemóvel, surgia o nome daquela senhora que não tinha comparecido ao encontro no sábado, e que deveria agora vir de beicinho a mendigar perdão com falinhas mansas. Já proclamava o sábio povo que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, mas o rapaz, apesar do ressentimento imposto pelo senso comum, não aprendia a lição depois de tantos episódios em que ficou de mão dada com a solidão. Ele estava deveras aborrecido uma vez que, de acordo com o seu pensamento, tinha sido descartado como se fosse uma personagem fictícia de um livro que pode aparecer ou sumir de acordo com a vontade do autor.

O rapaz admitia que aquela sua palpitação momentânea por Helena (sim, é este o nome da senhora) poderia surgir de um encanto meramente platónico. Desta feita, tinha desistido de investir tempo e empenho na tentativa de cultivar algo mais intenso que uma amizade simpática. Helena permutava de apaixonado como quem efetua transições rápidas de peças de roupa íntima. Por conseguinte, o facto de não ter comparecido no encontro de sábado parecia simbolizar a gota de água primordial para o moço. No entanto, como em todo e qualquer bom cliché relacionado com pieguices românticas, ele não deixou de atender o malfadado telemóvel. De forma carrancuda, proferiu um simples “Estou!”. Helena, por sua vez, com a voz ofegante, não deixou escapar muito mais que uma dúzia de palavras – “Olá, Armando. Estou a ligar só para perguntar se me podes emprestar “A Doce Vida” do Fellini”. Neste filme, o protagonista é um jornalista que assume um deslumbramento colossal por uma jovem atriz. Efetivamente, foi um tipo de fascínio quase semelhante que fez com que o rapaz decidisse responder de forma civilizada ao tema em questão, sem remeter o antecedente em que ficou abandonado ao deus-dará por Belém. “Sim, por acaso tenho esse filme num formato de edição especial”, disse o jovem. “Fantástico! Posso passar aí por tua casa às cinco horas da tarde para o ir buscar?”, declamou a rapariga. “Julgo que sim. Até logo.”, terminou o rapaz por dizer.

Por si só, seria falacioso declamar que o rapaz mantinha uma certa preocupação relacionada com a quantidade de gases poluentes que o seu carro emitia; todavia, é certo que escolheu a boleia de dois autocarros para ir almoçar à Portugália. Durante o trajeto, encontrou um daqueles conhecidos que, por infortúnio do destino, surgem no local certo à hora que menos convém. Ele, que ainda matutava no telefonema que tinha recebido há menos de uma hora atrás, via-se agora obrigado a aparentar interesse na vida monótona de Carlos, um antigo colega de faculdade, que também andava a divagar por Lisboa. Ao mesmo tempo que falava com Carlos, notou que tinha algo guardado num bolso da parte interior do casaco, mas como não se lembrava do que poderia ser, preferiu guardar a revelação para depois.

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