Este era o único homem que Mickey Giambini temia.
E este homem estava à frente dele agora, sorrindo com o seu sorriso predador.
A bexiga do Skanky soltou-se, à medida que o medo se tornava real.
“Então como vê, Skanky, vim para Chicago para... Tomar conta das coisas. Compreende, claro. E não preciso mais dos seus serviços.” Fernandez tirou uma arma do casaco e atirou no Skanky, três vezes no coração.
Ao disparar o terceiro tiro, com Skanky a cair no chão, um táxi virou a esquina para a rua deserta. Fernandez virou-se para olhar para o táxi.
O taxista percebeu rapidamente o que estava a acontecer, mesmo enquanto Fernandez apontava a arma ao veículo que passava. O motorista começou a murmurar, “ohmerdaohmerdaohmerda.” Ele carregou no acelerador, e começou a manobrar para trás e para a frente através da rua estreita, tentando deixar rapidamente a área, com a sua vida intacta.
Estava feito. Fernandez tinha disparado sete tiros no táxi em retirada, mas falhou o motorista. O táxi virou à esquerda na primeira oportunidade, e o motorista usou o telemóvel para chamar a polícia.
“Hijo de puta!” Gritou Fernandez.
O condutor da limusina, Felix Juarez, disse: “Vem, Esteban. Ele vai chamar a polícia. Temos de ir agora.”
“Sim, tens razão mais uma vez, Felix. Temos muito a fazer.”
À medida que a limusina se afastava, os dois clientes do Skanky saíram por detrás do contentor do lixo e deixaram cautelosamente o beco. Estavam de mãos dadas, a olhar para o corpo imóvel a arrefecer.
Ainda lá estavam quando os dois primeiros ‘pretos-e-brancos’ chegaram.
Os agentes da polícia já tinham vedado a área à volta do corpo quando cheguei ao local. Algumas almas corajosas tinham saído à rua, nessa noite fria e ventosa, para olharem para o homem morto deitado na calçada.
Talvez esperassem que ele se sentasse e gritasse: "Dia 1 de Abril!"
Enquanto estacionava o meu Carocha de 1998 junto ao passeio atrás de um táxi, perguntava-me por que razão esta noite estava tão ocupada. Este era o terceiro tiroteio a que tínhamos sido chamados. Todos de traficantes de rua.
Seria de esperar que o frio mantivesse as pessoas dentro de casa.
O meu parceiro, o detetive de primeira classe Sam Tanner, tinha chegado primeiro, e estava a falar com um casal de mãos dadas e aconchegarem-se um ao outro na calçada, no interior da vedação da "Cena do Crime". Verifiquei o cordão que segurava a minha estrela para ter a certeza que não se tinha congelado e partido. Continuava intacto. Fiquei um pouco desapontada.
Ainda não tinha tido tempo para comprar um casaco de inverno, e a minha gabardina, boa, da marca London Fog, sobre o meu blazer ainda não me mantinha aquecida. Sem mencionar o ligeiro coxear do ferimento de bala, quase curado, na minha perna - cumprimentos do Assassino dos Cornflakes – e também estava um bocado de mau-humor.
Passei por baixo da fita e parei para olhar para o corpo. Um oficial fardado que eu não conhecia estava de guarda, certificando-se de que o corpo continuava morto. O médico legista ainda não tinha chegado. Com mais outros dois corpos, podia demorar-se um pouco a chegar.
Levantei a lona que um dos agentes tinha usado para cobrir o corpo. Três tiros no coração, todos a menos de um centímetro de distância, num triângulo perfeito. Mesmo à queima-roupa, eram tiros certeiros. E os ferimentos e o espaçamento eram idênticos aos das outras duas vítimas.
Baixei a lona e chamei a atenção do meu parceiro. Ele disse qualquer coisa ao casal e veio ter comigo.
“Porque é que te demoraste tanto, Mickey? Paraste para comer gelo?”
“Não deixes que os meus dentes a bater te enganem. Estou tão quente agora como uma pizza numa loja de conveniência.”
“Obviamente não tens ido ultimamente à Pizzaria do Tony. Acho que as pizzas deles nunca estão quentes, mesmo quando saem do forno.”
Apontei para a vítima. “Sabemos quem ele é?”
O Sam abanou a cabeça, parecendo-se um pouco com gelatina, enquanto a cabeça se movia. Pequenos pingentes de gelo formavam-se no bigode de sal e pimenta, com a humidade da sua respiração. “Não procurei a identificação porque o M.L. ainda não chegou. Mas, de acordo com as duas testemunhas, a vítima é Skanky Sanders.”
“E eu deveria saber quem esse é?” Perguntei-lhe.
“Já investiguei. Se é o Sanders, é um traficante de rua. Foi preso duas vezes, mas nunca processado. As provas tinham desaparecido de ambas as vezes.”
Eu sabia o que isso significava. Significava que este tipo vendia a alguns polícias. E mantinham-no fora de sarilhos em troca de preços baixos. Abanei a cabeça.
"Testemunhas?" Perguntei-lhe.
"Tivemos sorte desta vez. Temos três. Aqueles dois," apontou para o casal abraçado, "viram tudo, e ouviram um dos dois homens dizer o nome 'Esteban'. 'Esteban' chamou o outro homem de "Félix". Apontou para o táxi. "O taxista passou por aqui quando o tiroteio aconteceu. O criminoso disparou contra o táxi várias vezes, mas falhou o motorista. A descrição do atirador corresponde à do casal.”
"Por é que aqueles dois andavam cá fora?" Perguntei quando apontei para o casal.
"Sanders era o fornecedor deles. Andavam à procura de metanfetamina."
Reparei nas roupas deles. Em tempos, tinham sido caras e elegantes. Estavam agora desbotadas e desgastadas. É o que a metanfetamina faz a uma pessoa. Atrai-te, mastiga-te e cospe-te como uma nódoa apodrecida.
Tentei não parecer muito intimidante enquanto me dirigia ao casal. Decidi não ser demasiado "autoritária" enquanto falava com eles. Sempre a polícia útil. Sim, sou eu mesma.
"Olá, pessoal. Sou a Tenente Rooney. Mas chamem-me Mickey."
O homem riu-se entre dentes. "Está a brincar, não é?"
Já o esperava. Isto já estava a ficar velho. Peguei no meu distintivo ao pescoço e mostrei-lhes o meu cartão oficial de identificação. Tenente Mickey Rooney, CPD. Abreviatura de Michelle, mas isso não lhes ia dizer.
"Tem alguma ligação com o actor?", Perguntou o homem.
Suspirei de novo. "Nenhuma ligação."
"Uau", disse a mulher. "Aposto em como ouve montes de piadas por se chamar Mickey."
"Deixe-me colocar-lhe desta forma", respondi. "Não vai conseguir inventar uma piada que eu já não tenha ouvido."
O homem riu-se entre dentes novamente.
"Posso ter os vossos nomes?"
"Eu sou William, e esta é a minha mulher, Deborah", disse o homem.
"Apelidos?"
"Glick."
"O Sanders era o vosso fornecedor?"
Os dois trocaram olhares preocupados.
"Não estou aqui para vos fazer uma rusga, nem vos dificultar a vida. Só preciso que me respondam a algumas perguntas." Olhei de William para Deborah. "Têm a minha palavra."
William fitou-me nos olhos por um momento. Podia ver que acreditava em mim. "Sim, era o nosso traficante."
"Porque é que estavam aqui ao mesmo tempo que ele?"
"Tínhamos falado com ele mais cedo. Disse-nos que estava liso, mas que podia ajudar-nos um pouco mais tarde. Disse que estava à espera do fornecedor dele", disse William.
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