a hubbub about no one knows
what, or why.
And you keep walking,
melancholy and upright.
You’re the palm tree, you’re the shout
no one heard in the theater
and all the lights went out.
Love in the dark, no, in daylight,
is always sad, my dear Carlos,
but don’t tell anyone,
no one knows or will know.
A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.
Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.
Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.
Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
Poetry can’t be communicated.
Stay knotted up in your corner.
Don’t love.
I hear there’s shooting
and we’re within range.
Is it the revolution? Love?
Don’t say a thing.
Everything’s possible, only I’m impossible.
The sea’s overflowing with fish.
There are men who walk on the sea
as if on the street.
Don’t tell.
Suppose an angel of fire
were to sweep the face of the earth
and the people being sacrificed
begged for mercy.
Don’t beg.
SENTIMENTO DO MUNDO / FEELING OF THE WORLD (1940)
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
I have just two hands
and the feeling of the world,
but I’m teeming with slaves,
my memories are streaming
and my body yields
at the crossroads of love.
When I get up, the sky
will be dead and plundered,
I myself will be dead,
my desire and the songless
swamp dead.
My comrades didn’t tell me
that a war was on
and I needed
to bring arms and food.
I feel scattered,
before any borders,
and I humbly beseech
your pardon.
When the bodies pass
I’ll stay on alone
unraveling the memory
of the bell ringer, the widow, and the microscope man
who lived in the tent
and were missing
the next morning
that morning
more night than the night.
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa …
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
CONFESSIONS OF A MAN FROM ITABIRA
I lived for some years in Itabira.
The main thing is: I was born in Itabira.
That’s why I’m sad, proud, iron to the core.
Ninety percent iron sidewalks.
Eighty percent iron souls.
And estrangement from all that’s porous and communicates in life.
The longing to love, which cripples my work,
comes from Itabira, from its white nights, without women or horizons.
And suffering, one of my favorite pastimes,
is a sweet inheritance from Itabira.
I brought some presents from Itabira that I’d like you to have:
this iron stone, future steel of Brazil;
this Saint Benedict of Alfredo Duval, venerable sculptor of saints;
this tapir hide that covers the living room sofa;
this pride, this bowed head …
I had gold, I had cattle, I had farms.
Today I’m a civil servant.
Itabira is just a photo on the wall.
But how it aches!
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
I won’t be the poet of a decrepit world.
Nor will I sing the world of the future.
I’m bound to life, and I look at my companions.
They’re taciturn but nourish great hopes.
In their midst, I consider capacious reality.
The present is so large, let’s not stray far.
Let’s stay together and go hand in hand.
I won’t be the singer of some woman, some tale,
I won’t evoke the sighs at dusk, the scene outside the window,
I won’t distribute drugs or suicide letters,
I won’t flee to the islands or be carried off by seraphim.
Time is my matter, present time, present people,
the present life.
OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
YOU CARRY THE WORLD ON YOUR SHOULDERS
A time comes when you stop saying: my God.
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