O mar ali é uma espuma vermelha fluorescente que arrebenta contra a costa, espirrando para o ar, e a costa é composta de uma infinita variedade de contornos e terrenos sem fim, fazendo o continente do Anel parecer minúsculo. Os dois sóis são enormes neste céu, e abaixo deles, o brilho vermelho paira sobre tudo, fazendo aquela terra parecer uma terra de fogo.
Gwen dá uma última olhada para o Império – encantada, e então ela cambaleia, tonta de fome, ardendo de febre, e cai para o convés. Ela fica ali, sentindo as marés puxando-os em direção à costa.
Se eles vivessem, em breve, eles estariam lá.
No Império.
Vivos ou mortos, eles haviam chegado.
Thor corre, dirigindo-se ao topo da montanha, mantendo os olhos fixos nos membros da tribo na distância – que abrem caminho até o vulcão e carregam seu filho. Thor luta para respirar enquanto ele corre e seguido de perto por seus irmãos – tão perto de seu filho, apenas a algumas centenas de metros de distância, determinado a alcançá-lo ou morrer tentando.
A comitiva de membros da tribo leva seu filho sobre suas cabeças, em um pequeno berço, balançando para cima e para baixo à medida que caminham. Thor vê o vulcão fumegante e sabe que eles estão levando Guwayne até ele para sacrificá-lo.
O coração de Thor se parte ao mesmo tempo em que ele reza para que seus pés o levem até seu filho mais rápido. Ele sente cada músculo – cada fibra do seu ser a ponto de explodir; ele daria qualquer coisa agora para ter Mycoples de volta.
Thor sabe que precisa fazer alguma coisa.
GUWAYNE!" ele grita.
O grupo de membros da tribo se vira e vê Thor, e seus olhos se arregalam de pânico. Thor não espera e joga sua lança com toda sua força, arremessando-a cinquenta metros montanha acima e vendo com satisfação quando ela acerta as costas de dos membros da tribo que carrega seu filho. O homem grita e cai no chão.
Mas o restante tribo começa a correr, e agora leva Guwayne ainda mais alto pela montanha. Thor continua perseguindo o grupo, mas agora ele não tem mais nenhuma lança para arremessar.
“GUWAYNE!” Thor grita mais uma vez, e sua voz ecoa pelas montanhas.
Thor corre sem parar, e ele percebe que os está alcançando, sendo capaz de correr mais rápido que os membros da tribo. Ele está a apenas setenta metros de distância… sessenta… cinquenta. Thor corre mais rápido, encorajado, sentindo-se confiante de que poderia alcançá-los a tempo. Ele mataria cada um deles, resgataria seu filho e o levaria de volta para Gwendolyn.
A menos de trinta metros, Thor está perto o suficiente para ver as expressões de pânico nos rostos daqueles homens. Eles não são páreo para a velocidade de Thor, a velocidade de um homem que tem toda uma vida a perder. Ele corre como um homem possuído, mais determinado do nunca havia sido com nada em sua vida antes.
Thor corre pela estreita trilha da montanha, na beira do precipício, correndo com toda a velocidade que possui. Eles estão a apenas dez metros agora, perto o suficiente para que ele possa pensar em erguer sua espada e saltar no ar para matá-los. Thor estica a mão para pegar no punho de sua espada…
E é então que acontece.
De repente, Thor tem uma sensação estranha sob seus pés, e começa a perder o equilíbrio. Ele olha para baixo e percebe, horrorizado, que a trilha está desmoronando.
Antes que Thor tenha tempo de reagir, a trilha desmorona em uma grande avalanche. Ele se vê caindo, despencando pela montanha, que se transforma em lama, amolecida pela água das chuvas. Ele escorrega descontroladamente centenas de metros pela enxurrada, cada vez mais rápido, gritando junto com seus irmãos, que também caem com ele.
Thor se vira enquanto cai e, ao olhar para cima, vê seu filho – muito longe dele agora, ficando mais longe a cada segundo que se passa.
“GUWAYNE!” Thor grita.
Seu grito ecoa várias e várias vezes pelas montanhas; é um grito de um pai que perde o seu filho, de um homem que perde tudo o que tem de mais valioso em sua vida.
*
Guwayne se sente sendo chacoalhado pelos homens da tribo que o levam para o topo do vulcão. Ele força os olhos por causa da fumaça, sentindo dificuldade para respirar. Seu berço está quente e ele chora sem parar, sem querer ser jogado lá dentro.
Guwayne ouve um grito distante, ecoando pelas montanhas, e reconhece imediatamente a voz. Aquele é o som do seu pai.
Guwayne quer estar com ele, quer estar no mesmo lugar que ele. Mas o grito vai diminuindo, e Guwayne sabe que ele está, mais uma vez, sozinho no mundo, abandonado com aqueles homens estranhos que olham para ele apenas com ódio.
Guwayne logo sente seu berço sendo abaixado, e ao olhar pela borda ele vê um abismo chamejante sem fim bem embaixo dele. O calor é muito intenso e há muita fumaça, e quando os homens o colocam no chão, ele vê um dos homens remover algo brilhante do cinto. É algo afiado que brilha quando o homem o ergue acima de sua cabela, segurando o objeto nas mãos.
Guwayne grita. Ele não sabe o que é aquilo, mas ele sabe que será usado contra ele.
Ele dá um grito como o grito de seu pai, e seu grito também ecoa pelas montanhas, voltando para ele – um grito que ele sabe jamais terá resposta.
*
Em uma praia solitária nos limites da Terra dos Druidas, há um leve tremor no chão. O tremor aumenta cada vez mais, as ondas se afastam e as areias se movem. o cântico dos pássaros e o rugido das feras se silenciam. Algo extraordinário está acontecendo, mesmo para um lugar como a Terra dos Druidas – algo que acontecia apenas uma vez a cada milhares de anos.
Há um único objeto na praia, um objeto que tinha sido deixado para trás quando Thorgrin e Mycoples haviam partido, um objeto que tinha ficado ali sozinho, esperando.
Quando o sol da manhã brilha sobre ele, uma pequena rachadura aparece no ovo de dragão. O pequeno dragão dentro dele se estica e empurra a casca, que racha mais uma vez.
E mais uma vez.
Dentro de instantes, o ar perfeitamente silencioso é rompido por um único som – um longo e profundo rugido. É o choro de uma nova vida surgindo no planeta.
Um dragão aparece, partindo o ovo, exibindo sua cabeça e esticando suas asas à medida que o ovo se parte em pedaços à sua volta.
O dragão se inclina e estica o pescoço, olhando para cima. O mundo é completamente novo. Tudo é novo. Ele não compreende nada.
Mas ele sabe, no fundo, que o mundo lhe pertence. O mundo é dele. Todinho dele. E que nada nesse mundo é mais poderoso do que ele.
O dragão joga a cabeça para trás e ruge, um som profundo – a princípio suave, mas mais forte a cada segundo. Logo, ele sabe, ele seria forte o suficiente para destruir o mundo.
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UM GOVERNO DE RAINHAS
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"O ANEL DO FEITICEIRO tem todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: intrigas, conspirações, mistério, cavaleiros e relacionamentos repletos de corações partidos, traições e desilusões. Ele vai deixar você entretido por horas, e vai satisfazer públicos de todas as idades. Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores do gênero de fantasia."
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Books e Movie Reviews , Roberto Mattos
UM GOVERNO DE RAINHAS é o Livro nº13 da série best-seller O ANEL DO FEITICEIRO, que começa com EM BUSCA DE HERÓIS (Livro nº1).
Em UMA REGRA DE RAINHAS, Gwendolyn lidera o que ainda resta de sua nação em exílio enquanto eles navegam pelas terras hostis do Império. Refugiados pelo povo de Sandara, eles tentam se recuperar escondidos, construindo um novo lar à sombra de Volúsia.
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