Romulus abre um grande sorriso, feliz com o pensamento. Aquela está se tornando uma bela manhã afinal de contas.
Trombetas soam ao longo do porto, e Romulus vê as tropas de Volúsia se alinhando em ambos os lados do ancoradouro, vestindo suas melhores armaduras e pondo-se a postos à espera para cumprimentá-lo. Este é o tipo de boas vindas que ele merece. Ele sabe que é temido e respeitado na capital do sul, mas ao mesmo tempo, Romulus não consegue se lembrar de Volúsia tê-lo recebido tão calorosamente no passado. Talvez aquelas pessoas tivessem mudado de tom, e decidido entrar na linha; talvez elas o temessem mais do que ele imaginava. Talvez, ele pensa, ele não incendiaria a cidade afinal. Ele decide apenas estuprar suas mulheres e roubar o seu ouro.
Romulus sorri ao imaginar tudo em grande detalhe – enquanto seu navio é rebocado até o porto e dezenas de tropas esticam uma prancha banhada a ouro até seu navio e seus homens o ancoram.
Romulus marcha através dela orgulhosamente, satisfeito com a recepção que está recebendo, percebendo que seria mais fácil do que ele pensava conseguir os navios de que precisava. Talvez eles já tivessem ouvido falar de sua conquista do Anel, e tivessem percebido que ele era o líder supremo afinal.
Romulus pisa nas docas e dezenas de soldados abrem caminho para ele, abaixando suas cabeças em sinal de respeito. Romulus olha para cima e vê, no centro da multidão – erguida em uma carruagem de ouro brilhante, a líder de Volúsia. Sua carruagem é abaixada e Romulus espera ver a velha enrugada que ele tinha visto da última vez há muitos anos.
Ele fica chocado ao ver uma jovem surpreendentemente linda – parecendo ter dezoito anos de idade, olhando para ele. Ela se parece surpreendentemente com a antiga rainha.
Romulus é totalmente pego de surpresa, algo que raramente acontecia com ele, ao encarar aquela garota que sai de sua carruagem e caminha até ele com orgulho, flanqueada por dezenas de seus soldados. Ela fica em pé a poucos passos de distância, e olha para ele sem dizer nada. Enquanto estuda suas feições cuidadosamente, Romulus percebe que ela só poderia ser a filha da antiga rainha.
De repente, ele se enche de raiva, percebendo que ele estava sendo menosprezado pela rainha, que havia enviado sua filha para cumprimentá-lo.
"Onde está sua mãe?" Romulus pergunta indignado.
A menina permanece em silêncio, olhando para ele calmamente.
"Minha mãe, de quem você pergunta, está morta há muito tempo," ela responde. "Eu a matei."
Romulus fica chocado com suas palavras, e mais ainda por sua voz profunda, sombria e forte. Ele a estuda, surpreso por sua língua afiada, por sua natureza confiante, por sua voz profunda e escura, por seus olhos negros sinistros e por sua beleza. Ela usa todas essas características como armas – e ele nunca havia encontrado tamanha força antes, em homens ou mulheres, comandantes, cidadãos ou feiticeiros. Ela é como um antigo guerreiro preso no corpo de uma jovem.
Enquanto Romulus a observa, ele lentamente abre um sorriso, reconhecendo uma alma gêmea. Ela havia matado a própria mãe – e sem dúvida havia impiedosamente tomado o poder para si mesma, o faz com ele a admire ainda mais. Ele fez uma nota mental para encontrar algum pretexto para passar a noite na capital. Ele jantaria ela e, quando ela menos esperasse, ele a atacaria, e passaria a noite com ela.
"E qual é o seu nome, minha querida princesa?" ele pergunta, dando um passo adiante, flexionando os músculos do peito, ficando desconfortavelmente perto dela para que ela pudesse entender o poder e a força do grande Romulus.
Ela sorri para ele e o surpreende ainda mais – em vez de recuar, como a maioria das pessoas faria, ela se aproxima ainda mais dele.
"Um nome que você jamais se esquecerá," ela responde, sussurrando em seu ouvido.
Romulus sente um arrepio na pele quando ela se aproxima, e ele se espanta com sua beleza e seu corpo inteiro se enrubesce diante da visão dela. Ele percebe que ela já está se atirando para cima dele – o que tornaria aquela noite ainda mais fácil.
"E por que você diz isso?" ele pergunta.
Ela se inclina ainda mais perto, e seus lábios suaves e sensuais tocam no seu ouvido.
"Porque é a última palavra que você vai ouvir em sua vida."
Romulus olha para ela, piscando, confuso – tentando processar o que ela estava dizendo, e um segundo mais tarde ele nota algo na mão dela, brilhando sob o sol. Volúsia segura um punhal de ouro – o punhal mais fino e mais afiado que ele já tinha visto, e com a velocidade de um raio, ela o retira de seu cinto, virando-se completamente, e corta a garganta dele tão rápido e tão completamente, que ele sequer tem tempo de reagir.
Romulus, em estado de choque, olha para baixo e vê respingos de seu próprio sangue em seu peito, escorrendo no chão de pedra e se acumulando em uma poça em seus pés. Ele olha para cima e vê Volúsia ali em pé, de frente para ele com um semblante calmo, sem emoção, como se nada tivesse acontecido. Seus olhos escuros queimam a sua alma ao mesmo tempo em que ele ergue as mãos até a garganta para tentar estancar o sangue.
Mas é tarde demais – o sangue fluiu através de suas mãos, escorrendo pelo seu corpo, e ele se sente cada vez mais fraco, caindo de joelhos diante dela – completamente impotente. Ele vê seus olhos negros olhando para ele, e sabe que sua vida está acabando, e não consegue acreditar que, de todos os lugares, ele tinha morrido ali, naquele lugar – e que ele tinha sido morto nas mãos de uma menina, uma jovem descarada, cujo nome, ela estava certa, ele jamais esqueceria. Quando sua cabeça bate no chão de pedra, é o nome dela que ele ouve sendo repetido em seus ouvidos como uma sentença de morte – e é ele também seu último pensamento, acompanhando-o até as portas do inferno.
Volúsia.
Volúsia.
Volúsia.
Darius caminha com um sorriso no rosto, enquanto corre pelas ruas sinuosas de sua aldeia se preparando para mais um dia de trabalho.
"Por que você está tão feliz?" perguntou Raj, andando ao lado dele com uma dúzia de outros meninos enquanto se preparam para mais um dia de trabalho exaustivo.
"Sim, o que deu em você?" pergunta Desmond.
Darius tenta esconder seu sorriso enquanto olha para baixo e não diz nada. Aqueles meninos não entenderiam. Ele não quer lhes contar sobre seu encontro com o Loti – não quer lhes dizer que tinha encontrado o amor de sua vida, a garota com quem ele pretendia se casar, uma menina que mexia com ele como nenhuma outra. Ele não quer compartilhar com eles que agora tinha um motivo para seguir em frente, e que um golpe do Império não o incomodava tanto. Porque Darius sabe que quando chegasse seu dia de folga, ela estaria lá, esperando por ele; eles haviam planejado se encontrar novamente naquela noite, e ele não consegue pensar em outra coisa.
A noite anterior tinha sido mágica; Loti o tinha encantado com seu orgulho e dignidade e, acima de tudo, com seu amor pela vida. Ela tinha um jeito de dar a volta por cima: é como se ela não fosse uma escrava, como se ela não levasse uma vida de dificuldades. Ela inspirava Darius, fazendo-o perceber que ele poderia mudar sua vida, poderia mudar o seu entorno, apenas por vê-lo de forma diferente.
Mas Darius segura sua língua; seus amigos não entenderiam.
"Não é nada," ele diz. "Não é nada mesmo."
Seu grupo está prestes a pegar a estrada na direção das colinas, quando eles ouvem um gemido repentino – um grito de dor, vindo do centro da vila; ele e os outros meninos se viram e olham na direção do barulho. Alguma coisa naquele lamento chama a atenção de Darius, obrigando-o a virar e investigar.
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