- Sala de conferências – Connelly disse.
Avery assentiu, virando à direita no corredor. Ela viu que ninguém mais estava indo em direção à sala de conferências, dando a entender que a reunião seria restrita. E aquele tipo de reunião nunca era agradável. Ela e Ramirez seguiram Connelly até a sala. Quando O’Malley e Finley também entraram, Connely bateu a porta e a trancou.
Ele jogou um pedaço de papel na mesa. Estava coberto por um pedaço de plástico, o que fez com que deslizasse quase perfeitamente na direção de Avery. Ela pegou o papel e olhou.
- Leia – Connelly disse. Ele estava frustrado e parecia um pouco pálido. Seu cabelo estava bagunçado e havia raiva em seu olhar.
Avery fez o que ele pediu. Sem mexer na folha, leu a carta. A cada palavra lida, a sala ficava mais fria.
Gelo é bonito, mas mata. Pense em uma linda camada fina de geada no seu para brisas em uma manhã de outono. O mesmo lindo gelo está matando plantas vivas.
Há eficiência nessa beleza. E a flor volta... sempre volta. Renasce.
O frio é erótico, mas mutila. Pense em estar com muito frio saindo de uma tempestade de inverno e, depois, enrolando-se nu com um amante debaixo dos lençóis.
Você está gelado ainda? Pode sentir a frieza de ser muito esperto?
Haverá mais. Mais corpos gelados, flutuando na pós-morte.
Eu os desafio a me parar.
Vocês vão sucumbir ao frio antes de me encontrar. E enquanto estiverem congelando, imaginando o que aconteceu, como as flores queimadas pela geada, eu terei ido.
- Quando isso chegou? – Avery perguntou, colocando a carta na mesa para que Ramirez pudesse ler.
- Em algum momento, hoje. – Connelly disse. – O envelope não estava aberto até uma hora atrás.
- Como a porra da imprensa já sabe? – Ramirez perguntou.
- Porque todas as redes locais receberam uma cópia.
- Puta merda – Ramirez disse.
- Nós sabemos quando a mídia recebeu as cópias? – Avery perguntou.
- Foi enviada por e-mail um pouco mais de uma hora atrás. Nós acreditamos que isso foi feito para dar tempo de aparecer nos jornais das onze.
- O e-mail foi enviado de onde? – Avery perguntou.
- Essa é a pior parte... bem, uma das piores partes – O’Malley disse. – O e-mail é registrado como sendo de uma mulher chamada Mildred Spencer. Ela tem setenta e dois anos, é viúva e só tem esse e-mail para ter contato com seus netos. Nós já falamos com ela, mas tudo indica que a conta foi hackeada.
- Podemos rastrear quem hackeou?
- Ninguém no A1 tem essa capacidade. Ligamos para a Polícia do Estado para tentar fazer isso.
Ramirez havia acabado de ler e jogou a carta para o centro da mesa. Avery a puxou e olhou novamente. Ela não a leu mais uma vez, apenas a estudou: o papel, a letra a mão, a estranha colocação das frases no papel.
- Algum pensamento inicial, Black? – Connelly perguntou.
- Alguns. Primeiro, onde está o envelope de onde isso veio?
- Na minha mesa. Finley, pegue para nós.
Finley fez o que lhe foi requisitado enquanto Avery continuou olhando para a carta. A letra a mão parecia primitiva, mas também infantil. Parecia que alguém havia feito muito esforço para melhora-la. Também havia algumas palavras chave que se destacavam por serem estranhas.
- O que mais? – Connelly perguntou.
- Bem, algumas coisas para analisar. O fato de que ele nos enviou uma carta deixa claro que ele quer que nós saibamos sobre ele—sem saber sua identidade. Então, mesmo que não seja um jogo, é algo pelo qual ele quer os créditos. Ele também gosta de ser caçado. Ele quer que a gente o procure.
- Alguma pista nisso tudo? – O’Malley perguntou. – Eu já li essa porra dez vezes e não achei nada.
- Bem, as palavras que ele usa em alguns lugares são estranhas. A menção a um para-brisas em uma carta onde as únicas outras coisas concretas as quais ele faz referência são flores e lençóis parece estranha. Acho que vale a pena notar que ele usou as palavras erótico e amante. Junte isso ao fato da vítima encontrada hoje ser muito linda e tem que haver algo aí. A menção a pós-vida e renascimento também é estranha. Mas nós poderíamos pegar um milhão de caminhos se não tivermos mais informações.
- Algo mais? – Ramirez perguntou com seu habitual sorriso escondido. Ele amava ver Avery trabalhando. Ela tentou ignorar aquilo para prosseguir.
- O jeito que ele quebra as linhas... quase como estrofes fragmentadas e um poema. Quase todas as cartas que eu vi em outros casos estudados onde o assassino entrou em contato com a polícia estavam em blocos de texto.
- Como isso pode ser uma pista? – Connelly perguntou.
- Pode não ser – Avery disse. – Só estou jogando ideias aqui.
Uma batida foi ouvida na porta. Connelly abriu e Finley entrou. Ele fechou a porta e a trancou. Depois, com cuidado, pôs um envelope na mesa. Não havia nada de excepcional nele. O endereço da estação fora escrito com a mesma letra cuidadosa da carta. Não havia endereço do remetente e um selo no canto esquerdo. O carimbo estava no lado esquerdo, em cima, tocando as bordas do envelope.
- Veio do CEP 02199 – O’Malley disse. – Mas isso não diz nada. O assassino pode ter ido longe para enviar isso.
- Verdade – Avery disse. – E esse cara parece ser muito esperto e determinado para nos dar uma pista pelo CEP. Ele deve ter pensado nisso. O CEP não vai nos levar a nada, eu posso garantir.
- Então, por onde devemos continuar? – Finley perguntou.
- Bom – Avery disse – esse cara parece ser preocupado com o frio, com gelo, na verdade. E não só porque foi lá que encontramos o corpo. Está pela carta toda. Ele parece ter uma fixação nisso. Então, eu imagino que... podemos fazer uma busca por algo que tenha a ver com gelo ou frio? Pistas de patinação, frigoríficos, laboratórios, qualquer coisa.
- Você tem certeza que a localização não vai ajudar? – Connelly perguntou. – Se ele quer ser conhecido, talvez o CEP seja um chamamento.
- Não, não tenho certeza. Não mesmo. Mas se nós encontrarmos algum negócio ou empresa que lide com gelo ou com frio na área desse CEP, eu começaria por ali.
- Tudo bem – Finley disse. – Então precisamos checar as fitas de segurança ao redor dos locais dos correios ou caixas de correios?
- Não – Connelly disse. – Vai levar uma vida inteira e não tem como nós sabermos exatamente quando essa carta foi enviada.
- Precisamos de uma lista dessas empresas – Avery disse. – Vai ser o melhor jeito de começar. Alguém já tem algo em mente?
Após muitos segundos de silêncio, Connelly suspirou.
- Não me vem nada à mente – ele disse, - mas eu posso te entregar uma lista em meia hora. Finley, você pode mandar alguém fazer isso?
- É para já – Finley disse.
Quando ele saiu novamente da sala, Avery levantou uma sobrancelha na direção de Connelly.
- Finley é um garoto de recados agora?
- Não mesmo. Você não é a única perto de uma promoção. Estou tentando envolver ele em todos os aspectos de casos importantes. E como você sabe, ele acha que você é sobrenatural, então vou dar uma chance a ele nessa.
- E por que estamos nos trancando na sala de conferências? – Ela perguntou.
- Porque a imprensa está de olho nisso. Não quero dar brechas com portas destrancadas ou linhas de telefone grampeadas.
- Parece paranoia – Ramirez disse.
- Parece inteligente – Connelly respondeu, com maldade.
Querendo prevenir uma discussão entre os dois, Avery puxou a carta para perto de si.
- Você se importa se eu analisar melhor essa carta enquanto nós esperamos os resultados?
- Por favor. Eu gostaria muito que alguém do A1 desvendasse isso antes que a mídia coloque tudo na TV e alguma criança nerd descubra antes de nós.
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