Riley tinha notado que Garrett parecia terrivelmente inquieto. Talvez um pouco mais do que deveria um agente experiente, mesmo tratando-se da morte de um familiar. Afinal, ele tornara claro que ele e a irmã não eram chegados.
Morley conduziu Riley e Bill até à área de Patologia Forense do edifício onde os apresentou à chefe de equipa, Dra. Rachel Fowler. A patologista abriu a unidade refrigerada onde se encontrava guardado o corpo de Nancy Holbrook.
Riley estremeceu ligeiramente perante o odor familiar a decomposição, apesar do cheiro ainda não estar particularmente forte. Reparou que a mulher possuíra estatura baixa e fora muito magra.
“Não esteve muito tempo dentro de água,” Disse Fowler. “A pele estava a começar a enrugar quando foi encontrada.”
A Dra. Fowler apontou para os pulsos.
“Podem ver-se queimaduras de corda. Parece ter sido amarrada quando foi morta.”
Riley reparou em marcas empoladas no cotovelo de um dos braços da vítima.
“Parecem marcas de toxicodependente,” Disse Riley.
“Pois é. Ela consumia heroína. O meu palpite é que ela estava a entrar completamente no vício.”
Parecia a Riley que a mulher tinha sido anorética e isso era consistente com a teoria de adição aventada por Fowler.
“Esse tipo de vício parece algo deslocado quando falamos de uma acompanhante de luxo,” Disse Bill. “Como é que podemos saber que era viciada?”
Fowler mostrou um cartão de negócios laminado que estava dentro de um saco de prova. Tinha uma foto provocadora de uma mulher morta nele. O nome no cartão era simplesmente “Nanette” e o negócio era “Ishtar Escorts”.
“Este cartão estava com a vítima quando foi encontrada,” Explicou Fowler. “A polícia entrou em contacto com a Ishtar Escorts e descobriu o nome verdadeiro da mulher, o que tornou possível identificá-la como a meia-irmã do Agente Holbrook.”
“Como é que foi asfixiada?” Perguntou Riley.
“Tem nódoas negras no pescoço,” Disse Fowler. “O assassino pode ter enfiado a cabeça da vítima num saco de plástico.”
Riley observou as marcas mais atentamente. Teria aquilo sido um jogo sexual que correu mal ou um ato homicida deliberado? Ainda não podia ter a certeza.
“O que tinha vestido quando foi encontrada?” Perguntou Riley.
Fowler abriu uma caixa que continha a roupa da vítima. Usava um vestido rosa com um decote cavado, mas não demasiado, claramente um degrau acima da típica prostituta de rua. Era o vestido de uma mulher que queria parecer muito sexy e ao mesmo tempo adequado como traje para clubes noturnos.
Junto ao vestido estava um saco de plástico com joias.
“Posso ver?” Perguntou Riley a Fowler.
“Força.”
Riley pegou no saco e observou o seu conteúdo. A maioria era bijuteria de razoável gosto – um colar de contas, pulseiras e brincos simples. Mas um elemento se destacava entre os outros. Um elegante anel de ouro com um diamante. Pegou nele e mostrou-o a Bill.
“Verdadeiro?” Perguntou Bill.
“Sim,” Respondeu Fowler. “Ouro verdadeiro e diamante verdadeiro.”
“O assassino não se deu ao trabalho de o roubar,” Comentou Bill. “Não teve nada a ver com dinheiro.”
Riley virou-se para Morley. “Gostava de ver o local onde o corpo foi encontrado,” Disse. “Agora mesmo, enquanto ainda temos luz do dia.”
Morley parecia intrigado.
“Podemos lá chegar de helicóptero,” Disse. “Mas não sei o que espera encontrar. Polícias e agentes passaram aquilo a pente fino.”
“Confie nela,” Disse Bill. “Ela vai encontrar alguma coisa.”
A ampla superfície do Lago Nimbo parecia quieta e tranquila quando o helicóptero se aproximou.
Mas as aparências enganam, Lembrou Riley a si mesma. Ela sabia melhor do que ninguém que superfícies calmas podiam esconder segredos terríveis.
O helicóptero desceu, oscilando enquanto pairava à procura de um lugar para aterrar. Riley sentiu-se um pouco enjoada graças àquele movimento irregular. Ela não gostava muito de helicópteros. Olhou para Bill sentado a seu lado. Não parecia melhor do que ela.
Mas quando Riley olhou para o Agente Holbrook, viu um rosto vazio. Mal tinha proferido uma palavra durante o voo de meia hora de Phoenix. Riley ainda não sabia muito bem o que pensar a respeito dele. Estava habituada a decifrar as pessoas facilmente, às vezes demasiado facilmente para o seu próprio gosto. Mas Holbrook ainda era para ela um enigma.
Finalmente o helicóptero tocou no solo e os três agentes do FBI pisaram terra firme, baixando-se debaixo das hélices que rodavam por cima das suas cabeças. A estrada onde o helicóptero aterrara não passava de uma faixa no meio das ervas do deserto onde se avistavam marcas de pneus paralelas.
Riley reparou que a estrada não parecia ser muito frequentada. Ainda assim, parecia que haviam passado por ali suficientes veículos na semana anterior para ocultar quaisquer marcas deixadas pelo veículo conduzido pelo assassino.
O ruidoso motor do helicóptero parou, tornando mais fácil a Riley e Bill conversarem com Holbrook enquanto o seguiam a pé até ao local onde o corpo fora encontrado.
“Diga-nos o que puder sobre lago,” Pediu Riley a Holbrook.
“É um de uma série de reservatórios criados por barragens ao longo do Rio Acacia,” Disse Holbrook. “É o mais pequeno dos lagos artificiais. Tem muito peixe e é um popular lugar de recreação, mas as áreas públicas estão situadas do outro lado do lago. O corpo foi descoberto por dois adolescentes pedrados. Vou mostra-vos o local exato.”
Holbrook levou-os para fora da estrada até um cume de pedra com vista para o lago.
“Os miúdos estavam aí onde está,” Disse. Apontou na direção da margem do lago. “Olharam lá para baixo e viram-na. Disseram que lhes parecia apenas uma forma escura na água.”
“Em que altura do dia é que os miúdos estiveram aqui?” Perguntou Riley.
“Um pouco mais cedo do que agora,” Respondeu Holbrook. “Tinham faltado à escola e pedraram-se.”
Riley abarcou a cena. O sol estava baixo e o topo das falésias vermelhas do outro lado do lago estavam iluminadas pelo sol. Alguns barcos flutuavam na água. A distância entre o local e a água não era muita, talvez apenas três metros.
Holbrook apontou para um lugar próximo onde o declive não era tão acentuado.
“Os miúdos foram até lá abaixo para verem mais de perto,” Disse. “Foi aí que descobriram do que é que se tratava.”
Pobres miúdos, Pensou Riley. Já haviam passado duas décadas desde que ela tinha experimentado marijuana na faculdade. Mesmo assim, podia muito bem imaginar o ampliado horror da descoberta sob a influência da droga.
“Queres ir até lá abaixo para vermos mais de perto?” Perguntou Bill a Riley.
“Não, vê-se bem daqui,” Disse Riley.
O seu instinto dizia-lhe que estava certa no essencial. Afinal de contas, de certeza que o assassino não tinha arrastado o corpo por aquele declive por onde os miúdos tinham descido.
Não, Pensou. Ele ficou aqui mesmo.
Parecia que a vegetação esparsa ainda estava quebradiça no local onde ela se encontrava.
Respirou fundo algumas vezes, tentando ver as coisas sob a perspetiva do assassino. Sem dúvida que ali tinha estado à noite. Mas a noite estava sem nuvens ou nublada? Bem, naquela época do ano no Arizona, o mais provável era a noite estar sem nuvens. E lembrou-se que a lua estaria luminosa há uma semana atrás. Na noite estrelada e banhada de luar, conseguiria ver o que estava a fazer com bastante nitidez – muito possivelmente até sem precisar de uma lanterna.
Riley imaginou o assassino a pousar o corpo ali. Mas o que fizera de seguida? Obviamente que fizera o corpo rebolar. Caíra diretamente na água.
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