O garçom chegou com mais Samoons 13fresquinhos, felizmente interrompendo o momento de ligeira tristeza.
Jack, aproveitando a interrupção, tentou dissipar rapidamente uma série de memórias que voltavam à sua mente. Eram coisas do passado. Agora ele tinha uma bela mulher ao seu lado e tinha que se concentrar apenas nela. Não era tão difícil.
A música de fundo, que parecia envolvê-los suavemente, era apropriada. Elisa, iluminada pelas três velas colocadas no meio da mesa, estava radiante. Seu cabelo era de tons de ouro e cobre e sua pele era lisa e bronzeada. Seus olhos penetrantes de um verde profundo. Os lábios macios estavam lentamente tentando separar um pedaço de esturjão do osso entre os dedos. Era tão sexy.
Elisa não sabia se deixava escapar aquele momento de fraqueza do Coronel. Apoiou o osso na borda do prato e sugou, com aparente descuido, o indicador, e em seguida, o polegar. Abaixou a cabeça e olhou para ele tão intensamente, que Jack pensou que seu coração fosse saltar para fora do peito e acabar diretamente no prato.
Percebendo que já não controlava a situação e acima de tudo, a si mesmo, o Coronel logo tentou se recuperar. Era um menino crescido demais para fazer a figura do adolescente apaixonado, mas aquela garota tinha algo que o atraía terrivelmente.
Ele respirou fundo, esfregou o rosto com as mãos e tentou dizer: — Que tal terminar também esse último pedacinho?
Ela sorriu, delicadamente pegou o pedaço de esturjão, e inclinando-se para frente, levou-o até a boca dele. Nessa posição, o decote mostrava parcialmente os seios fartos. Jack, visivelmente constrangido, deu apenas uma mordida, porém, sem evitar que os dedos dela tocassem seus lábios. Sua excitação cresceu mais e mais. Elisa estava brincando com ele como um gato brinca com um rato, e Jack não conseguia se opor de forma alguma.
Então, com um ar de menina inocente, Elisa sentou-se confortavelmente no seu lugar e, como se nada tivesse acontecido, fez um gesto com a mão para o garçom alto e magro, que prontamente chegou.
— Eu acho que é hora de um agradável chá com cardamomo. O que acha, Jack?
Ele, que ainda não tinha se recuperado do clima anterior, balbuciou algo como “Bem, sim, ok… " E enquanto endireitava a jaqueta, tentando ser mais informal, acrescentou: — Deve ser ótimo para a digestão.
Percebeu ter dito algo ridículo, mas naquele momento não conseguia pensar em algo melhor.
— É tudo muito gostoso Jack, é uma noite muito agradável, mas não se esqueça da finalidade para a qual estamos aqui esta noite. Eu tenho que mostrar uma coisa, lembra?
O Coronel estava pensando em tudo no momento, exceto trabalho. Mas ela tinha razão. Existiam coisas em jogo muito mais importantes que um estúpido flerte. O fato era que, para ele, aquele flerte não parecia nada estúpido.
— Claro — respondeu tentando recuperar seu ar autoritário. — mal posso esperar para saber o que você descobriu.
A essa altura, o homem gordo do carro a pouca distância, que estava ouvindo tudo disse: — Essa cachorra! Todas as mulheres são iguais. Elas nos seduzem, nos levam para as estrelas, e depois agem como se nada tivesse acontecido.
— Eu acho que seus dez dólares em breve estarão em meu bolso — disse o magro, com uma grande risada.
— Na verdade não me importa nada quem a nossa doutora leva pra cama ou não. Não esqueça que estamos aqui apenas para descobrir tudo o que ela sabe — E enquanto tentava ficar mais confortável na cadeira devido a dores das costas, acrescentou: — devíamos ter colocado uma boa câmera dentro daquele maldito restaurante.
— Sim, talvez debaixo da mesa, desse jeito poderíamos ter olhado suas coxas.
— Cretino. Mas quem foi o idiota que selecionou você para esta missão?
— Nosso chefe, meu amigo. E eu aconselho você a não insultá-lo, pois ele sabe muito bem como colocar escutas e não teria dificuldade até mesmo em colocar neste carro.
O gordo se assustou e por um momento pensou que seu coração tivesse parado de bater. Estava tentando ter uma carreira e insultar o superior imediato não era a melhor maneira de avançar.
— Pare de falar besteira — disse, tentando ser sério e profissional. — pense em fazer um bom trabalho e vamos retornar à base com algo de concreto — Dizendo isso, olhou fixamente para um ponto indefinido na escuridão da noite através dos para-brisas levemente embaçados.
Elisa tirou da sua bolsa o seu inseparável tablet, apoiando-o sobre a mesa, e começou a rolar pelas fotos. O Coronel, curioso, tentou focalizar algo, mas o ângulo não permitia. Ela, encontrando o que queria, levantou-se e sentou-se na cadeira ao lado dele.
— Então — começou Elisa — fique confortável porque a história é longa. Vou tentar resumir o máximo possível.
Rolando rapidamente com o indicador na tela, ela abriu uma foto de uma tábua entalhada com desenhos estranhos e escritas cuneiformes.
— Esta é uma foto de uma das tábuas que foram encontradas no túmulo do rei Balduíno II de Jerusalém — continuou Elisa — que foi supostamente o primeiro, em 1119, a abrir a Maarat Hamachpelah, também conhecida como a Caverna dos Patriarcas, onde parece que estão sepultados Abraão e seus dois filhos Isaac e Jacó. Estas sepulturas deveriam se encontrar no subsolo do que é hoje chamado de Mesquita ou Santuário de Abraão em Hebron, na Cisjordânia — Nesse momento, ela mostrou uma foto da mesquita.
— Dentro dos túmulos — continuou Elisa — o rei teria encontrado, além de inúmeros objetos de vários tipos, até mesmo um número de tábuas que pertenciam a Abraão. Acredita-se que possam representar uma espécie de diário que ele teria mantido e no qual escreveu os momentos mais importantes da sua vida.
— Uma espécie de “anotações de viagem” — Jack tentou antecipar, na esperança de fazer uma boa impressão.
— De certa forma, sim, já que para a época, ele realmente cobriu muitos quilômetros.
Ao deslizar em outra fotografia, Elisa continuou explicando: — Os maiores especialistas da sua língua e do modo gráfico do tempo tentaram traduzir o que foi gravado nessa tábua. As opiniões eram, naturalmente, bastante divididas em algumas partes, mas todos concordaram que este — e ampliou um detalhe da imagem — seja traduzível como “vaso” ou “ânfora dos Deuses”. Além disso, existem palavras como “enterro”, “secreto” e “proteção”, também bastante claras.
Jack estava começando a ficar um pouco confuso, mas, acenando com a cabeça, tentou convencer Elisa de que estava seguindo tudo perfeitamente. Ela olhou para ele por um momento, em seguida, passou a dizer: — Por outro lado, este símbolo — e tocou na tela para torná-lo o mais claro possível — segundo alguns, deve ser uma sepultura: o túmulo de um Deus. E esta parte deve descrever um dos Deuses que adverte ou, até mesmo, ameaça o povo reunido em torno dele.
O Coronel, um pouco por causa do álcool, um pouco pelo perfume inebriante de Elisa que emanava ao seu redor, e um pouco mais pelos olhos dela, nos quais estava mergulhado, não estava entendendo mais nada. Ele continuou, no entanto, a acenar como se tudo estivesse claro.
— Então, resumindo — prosseguiu Elisa, notando a confusão de Jack — os peritos interpretaram o conteúdo desta tábua como sendo uma representação de um evento que ocorreu na época de Abraão em que um suposto deus, ou, mais genericamente deuses, teriam sido secretamente enterrados perto de sua sepultura, algo muito precioso, pelo menos para eles.
— Parece uma afirmação muito genérica — começou Jack, tentando opinar. — dizer que existe algo valioso enterrado perto da sepultura dos deuses certamente não é como ter as coordenadas do GPS. Pode se referir a qualquer coisa, em qualquer lugar.
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