— Acho que não. Somos pequenos e rápidos demais para sermos de interesse.
— Bem — exclamou Azakis — essa me parece uma boa notícia, finalmente.
— Eu tentei fazer uma análise do método de transmissão de dados utilizado pela sonda — continuou Petri. — Parece que ainda não está equipada com tecnologia de “vórtice de luz” como a nossa, mas utilizando um antigo sistema de modulação de frequência.
— Não era o que usaram os nossos antecessores antes da Grande Revolução 14? — perguntou Azakis.
— Exato. Não era muito eficiente, mas nos permitiu trocar informações em todo o planeta por um longo período e definitivamente nos ajudou a chegar onde estamos agora.
Azakis sentou na cadeira de comando, mordendo por um momento o dedo indicador, e depois disse: — Se este é o sistema de comunicação atualmente em uso na Terra, talvez possamos captar um pouco de suas transmissões.
— Sim, talvez um bom filme pornô — disse Petri, mostrando levemente a língua no lado esquerdo da boca.
— Pare com essas bobagens. Em vez disso, por que não tenta ajustar o nosso sistema de comunicação secundário com essa tecnologia? Gostaria de chegar lá o mais preparado possível.
— Entendi. Serão muitas horas de trabalho nesse compartimento minúsculo.
— O que você acha de comer algo antes? — começou Azakis, antecipando o pedido de seu amigo, que imaginou, viria em seguida.
— Esta é a primeira coisa sensata que eu ouvi você dizer hoje — respondeu Petri. — toda essa agitação abriu meu apetite!
— Ok, vamos fazer uma pausa, mas eu decido o que pegar. O fígado de Nebir que você escolheu ontem ficou no meu estômago tanto tempo que parecia ter criado raízes.
Dez minutos depois, enquanto os dois companheiros de viagem consumiam sua refeição, na Terra, no controle de missões da NASA, um jovem engenheiro observou uma estranha variação na rota da sonda que estava monitorando.
— Chefe — disse ele ao microfone acoplado ao seu fone de ouvido. — Acho que temos um problema.
— Que tipo de problema? — prontamente respondeu o engenheiro responsável pela missão.
— Parece que Juno, por alguma razão ainda desconhecida, sofreu uma ligeira variação na rota estabelecida.
— Variação? De quanto? Mas, devido a quê? — Já estava suando frio. O custo dessa missão era exorbitante e nada podia dar errado.
— Estou analisando os dados neste momento. A telemetria indica uma mudança de 0,01 grau sem razão aparente. Parece que tudo está funcionando corretamente.
— Poderia ter sido atingida por um pedaço de rocha — arriscou o engenheiro sênior. — na verdade, o cinturão de asteroides não está tão longe.
— Juno está praticamente na órbita de Júpiter, e lá não deveria existir nenhuma — afirmou com tato o jovem.
— Então, o que aconteceu? Deve ser uma falha de algum tipo — Pensou por um segundo, então, ordenou: — eu quero um duplo controle sobre toda a instrumentação de bordo. Resultados dentro de cinco minutos no meu computador — e desligou.
O jovem engenheiro ficou subitamente consciente da responsabilidade que recebera. Observou as próprias mãos: tremiam ligeiramente. Decidiu ignorá-las. Pediu ajuda a um colega para executar um check-up diferencial da sonda e cruzou os dedos. Os computadores começaram a realizar sequencialmente todos os controles programados, e alguns minutos mais tarde, em sua tela, apareceram os resultados:
Check-up completo. Todos os instrumentos estão em funcionamento.
— Parece tudo em ordem — disse o colega.
— Mas que diabos aconteceu? Se não descobrirmos dentro dos próximos dois minutos, o chefe vai nos massacrar — começou fervorosamente a digitar no teclado que estava na frente dele.
Nada. Tudo estava funcionando perfeitamente.
Tinha que inventar alguma coisa e rápido. Começou a tamborilar os dedos sobre a mesa. Continuou por cerca de dez segundos, em seguida, decidiu apelar para a primeira regra não escrita do manual de conduta no local de trabalho: nunca contradizer o chefe.
Ligou o microfone e disse: — Chefe, você estava certo. Foi apenas um pequeno asteroide troiano que desviou a sonda. Felizmente, ele não bateu diretamente, só passou perto. Evidentemente, a massa do asteroide criou uma pequena força gravitacional na nossa Juno, desse modo, causando a ligeira modificação do curso. Estou mandando os dados — e prendeu a respiração.
Depois de intermináveis segundos, no fone de ouvido veio a voz orgulhosa do chefe: — Eu tinha certeza. Rapaz, o instinto do velho lobo nunca erra — E acrescentou: — preparem-se para ativar os motores da sonda e corrigir a rota. Erros não serão admitidos — e encerrou a chamada. Um segundo depois, voltou dizendo: — bom trabalho, rapazes.
O jovem engenheiro percebeu que o sangue começava a fluir de novo em seu corpo. Seu coração batia tão forte que podia senti-lo batendo em seus ouvidos. No fim das contas, poderia ser exatamente o que acontecera. Ele virou seu olhar para o colega, e erguendo o polegar, fez o sinal de ok. O outro respondeu com uma piscadela. Tinham se safado, pelo menos até o momento.
Nassíria Depois do jantar
O sistema de registro emitiu um duplo bipe e se reativou. A voz da doutora voltou a ser reproduzida pelo pequeno alto-falante no interior da máquina. "Acho que é hora de ir, Jack. Amanhã de manhã preciso levantar cedo para continuar as escavações."
"Ok." respondeu o Coronel. "Vou agradecer o chef, e depois podemos ir."
— Porca miséria — disse o magro — por sua causa perdemos a melhor parte.
— Ah por favor, não fiz de propósito — o gordo se justificou. — podemos dizer que houve um mau funcionamento do sistema e que não conseguimos gravar a conversa toda.
— Sou sempre eu a salvar a sua pele — disse o outro.
— Vou compensar isso. Já tenho um plano para colocar as mãos no tablet da nossa doutora — Ele espremeu o nariz entre o polegar e o indicador, depois disse: — vamos entrar esta noite em seu quarto e copiar todos os dados sem que ela perceba.
— E o que faremos se ela acordar, botar uma canção de ninar?
— Não se preocupe, amigo. Tenho alguns truques na manga — e piscou.
Enquanto isso, no restaurante, Jack e Elisa estavam se preparando para sair. O Coronel ligou o comunicador portátil e contatou a escolta: — Estamos saindo.
— Aqui fora está tudo tranquilo, Coronel — respondeu uma voz no fone de ouvido.
Cautelosamente, o Coronel abriu a porta e observou atentamente a área à sua volta. Do lado de fora, em pé ao lado do carro, ainda estava o soldado que havia acompanhado Elisa.
— Você pode ir, rapaz — ordenou o Coronel. — acompanharei a doutora de volta.
O soldado ficou em posição de sentido, fez continência e dizendo algo em seu comunicador, desapareceu nas sombras.
— Foi uma noite maravilhosa, Jack — disse Elisa ao sair. Respirou profundamente o ar fresco da noite e disse: — Há muito tempo que não passava uma noite assim. Muito obrigada — e abriu um dos seus maravilhosos sorrisos.
— Vamos, não é muito seguro ficar ao ar livre nesta área — e dizendo isso, abriu a porta e ajudou a doutora a entrar no carro.
O grande carro escuro, dirigido pelo Coronel, partiu veloz, deixando para trás uma grande nuvem de poeira.
— Eu também me diverti muito. Nunca pensei que uma noite com uma "doutora sabe tudo" pudesse ser tão agradável.
— Sabe tudo? É assim que me considera? — e virou para o outro lado, fingindo estar ofendida.
— Sabe tudo sim, mas também muito simpática, inteligente e muito sexy — Como ela estava olhando para fora, ele aproveitou a oportunidade para acariciar suavemente o cabelo atrás de sua nuca.
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