Um som estranho chegou aos seus ouvidos - uma melodia suave. O interrogador estava cantando uma música em árabe enquanto cortava.
Deixou cair o bisturi sangrento na bandeja enquanto Reid respirava com dificuldade. Então, o interrogador pegou um alicate de ponta fina.
"Receio que tenha sido apenas o começo", Sussurrou no ouvido de Reid. "A próxima parte vai doer."
O alicate segurava algo na cabeça de Reid - era o osso? - e o interrogador o puxou. Reid gritou em agonia quando uma dor quente atravessou seu cérebro, pulsando em terminações nervosas. Seus braços tremiam. Seus pés bateram no chão.
A dor cresceu até Reid pensar que não poderia aguentar mais. O sangue latejava em seus ouvidos e seus próprios gritos soavam como se estivessem a distância. Então a lâmpada diminuiu de intensidade e a sua visão escureceu quando ficou inconsciente.
Quando Reid tinha vinte e três anos, sofrera um acidente de carro. O semáforo ficou verde e ele entrou no cruzamento. Uma picape passou no sinal vermelho e bateu no lado do carona. Sua cabeça atingiu a janela. Ele ficou inconsciente por vários minutos.
Sua única lesão foi um osso temporal rachado. Sarou bem; a única evidência do acidente foi um pequeno caroço atrás da orelha. O médico disse-lhe que era uma obstrução óssea.
O curioso sobre o acidente foi que, embora se lembrasse do evento, não conseguia recordar qualquer dor - nem quando aconteceu, nem depois.
Mas sentia agora. Ao recuperar a consciência, o pequeno pedaço de osso atrás da orelha esquerda latejava de forma tortuosa. A lâmpada estava novamente brilhando em seus olhos. Ele apertou os olhos e gemeu ligeiramente. O menor movimento da cabeça afetava dolorosamente o seu pescoço.
De repente, algo lhe ocorreu. A luz brilhante não era a lâmpada.
O sol da tarde brilha contra um céu azul sem nuvens. Um Warthog A-10 voa sobre a sua cabeça, indo para a direita e mergulhando em altitude sobre os telhados planos e sem graça de Candaar.
A visão não era fluida. Surgiu em flashes, como várias fotos em sequência; como assistir a alguém dançar sob uma luz estroboscópica.
Você está no telhado bege de um prédio parcialmente destruído, um terço dele foi destruído. Você traz o suporte de apoio até o ombro, olha o telescópio e vê um homem abaixo...
Reid sacudiu a cabeça e gemeu. Ele estava na sala de concreto, sob a lâmpada que incidia sobre si. Seus dedos tremiam e seus membros estavam frios. O suor escorria por sua testa.
Estava provavelmente entrando em choque. Ele pôde ver que o ombro esquerdo de sua camisa estava encharcado de sangue.
"Protuberância óssea", disse a voz plácida do interrogador. Então ele riu sarcasticamente. Uma mão esbelta apareceu no campo de visão de Reid, segurando o alicate de ponta fina. Preso no alicate, havia algo minúsculo e prateado, mas Reid não conseguia distinguir detalhes. Sua visão estava confusa e a sala parecia estar ligeiramente inclinada. "Você sabe o que é isto?"
Reid meneou a cabeça lentamente.
"Eu admito, eu só vi isso uma vez antes", disse o interrogador. "Um chip de supressão de memória. É uma ferramenta muito útil para as pessoas em sua situação." Ele largou o alicate ensanguentado e o pequeno grão de prata na bandeja de plástico.
"Não," Reid grunhiu. "Impossível." A última palavra foi apenas um murmúrio. Supressão de memória? Isso era ficção científica. Para que funcionasse, teria que afetar todo o sistema límbico do cérebro.
O quinto andar do Ritz Madrid. Você ajusta sua gravata preta antes de saltar e chutar a porta com força logo acima da maçaneta. O homem dentro foi pego de surpresa; ele fica de pé num salto e pega uma pistola na escrivaninha. Mas antes que o homem possa apontá-la para você, você pega a arma dele fazendo um movimento para cima e para baixo. Sua força estala o pulso dele com facilidade…
Reid sacudiu a sequência confusa de seu cérebro quando o interrogador se sentou na cadeira em frente a ele.
"Você me fez algo", murmurou.
"Sim", concordou o interrogador. "Nós libertamos você de uma prisão mental." Ele se inclinou para frente com seu sorriso apertado, procurando algo nos olhos de Reid. "Você está lembrando. Isso é fascinante de assistir. Você está confuso. Suas pupilas estão anormalmente dilatadas, apesar da luz. O que é real, 'Professor Lawson'?"
O sheik. Por qualquer meio necessário.
"Quando nossas memórias falham..."
Último paradeiro conhecido: Casa segura em Teerã.
"Quem somos nós?"
Uma bala soa igual em todas as línguas... Quem disse isso?
"Quem nos tornamos?"
Você disse isso.
Reid sentiu-se escorregando novamente no vazio. O interrogador deu-lhe dois bofetões, empurrando-o de volta para a sala de concreto. "Agora podemos continuar o que estávamos fazendo de um jeito mais sério. Então, eu te pergunto novamente. Qual é o seu nome?"
Você entra na sala de interrogatório sozinho. O suspeito é algemado a um ferrolho na mesa. Você alcança o bolso interno do terno e pega um crachá de identificação com capa de couro e o abre…
"Reid. Lawson." Sua voz era incerta. "Eu sou professor... de História europeia..."
O interrogador suspirou desapontado. Ele acenou com um dedo para o homem bruto e carrancudo. Um punho pesado penetrou no rosto de Reid. Um molar saltou no chão juntamente com sangue fresco.
Por um momento, não houve dor; seu rosto estava dormente, pulsando com o impacto. Então, uma agonia fresca e nebulosa tomou conta dele.
"Nnggh..." Ele tentou formar palavras, mas seus lábios não se moviam.
"Eu perguntarei de novo", disse o interrogador. "Teerã?"
O sheik estava em um esconderijo disfarçado de fábrica têxtil abandonada.
"Zagreb?"
Dois homens iranianos são presos em uma pista de pouso particular, prestes a embarcar em um avião fretado para Paris.
"Madrid?"
O Ritz, quinto andar: um grupo secreto de espiões com uma bomba na mala. Destino previsto: a Plaza de Cibeles.
"Sheik Mustafar?"
Ele queria preservar sua vida. Nos deu tudo o que sabia. Nomes, locais, planos. Mas ele só sabia...
"Eu sei que você está lembrando", disse o interrogador. "Seus olhos traem você... Zero."
Zero. Uma imagem lhe ocorreu: um homem de óculos de aviador e uma jaqueta escura de motociclista. Ele está na esquina de alguma cidade europeia. Move-se com a multidão. Ninguém está ciente do que está acontecendo. Ninguém sabe que ele está lá.
Reid tentou novamente sacudir as visões de sua cabeça. O que estava acontecendo com ele? As imagens dançavam em sua mente, mas ele se recusou a reconhecê-las como lembranças. Eram falsas. Implantadas, de alguma forma. Ele era um professor universitário, com duas filhas adolescentes e uma casa humilde no Bronx...
"Diga-nos o que você sabe sobre os nossos planos", exigiu o interrogador, categoricamente.
Nós não falamos. Nunca.
As palavras ecoaram nas profundezas de sua mente, repetidamente. Nós não falamos. Nunca.
"Isso está demorando demais!" gritou o homem alto iraniano. "Force-o".
O interrogador suspirou. Pegou o carrinho de metal - mas não ligou o polígrafo. Em vez disso, seus dedos demoraram-se sobre a bandeja de plástico. "Eu geralmente sou um homem paciente", disse ele a Reid. "Mas admito, a frustração do meu colega é contagiosa." Ele puxou o bisturi ensanguentado, a ferramenta que usara para tirar o pequeno grão prateado de sua cabeça, e pressionou a ponta da lâmina contra os jeans de Reid, quatro centímetros acima do joelho. "Tudo o que queremos saber é o que você sabe. Nomes. Datas. Para quem você contou o que sabe. As identidades de seus colegas agentes."
Morris. Reidigger. Johansson. Nomes passaram pela mente dele, e com cada um veio um rosto que ele nunca tinha visto antes. Um homem mais jovem com cabelos escuros e um sorriso arrogante. Um cara de rosto redondo e amigável, de camisa branca engomada. Uma mulher de cabelo loiro esvoaçante e olhos cinzentos cor de aço.
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