"E o que aconteceu com o sheik."
De alguma forma, de repente, Reid percebeu que o sheik em questão havia sido detido e levado para um local obscuro do Marrocos. Não era uma visão. Ele simplesmente sabia.
Nós não falamos. Nunca.
Um calafrio percorreu a espinha de Reid enquanto lutava para manter alguma aparência de sanidade.
"Diga-me", insistiu o interrogador.
"Eu não sei." As palavras pareciam estranhas saindo de sua língua inchada. Ele olhou assustado e viu o outro homem sorrindo de volta para ele.
Ele entendeu a pergunta em língua estrangeira... E respondeu com um árabe impecável.
O interrogador empurrou a ponta do bisturi na perna de Reid. Ele gritou quando a faca penetrou no músculo de sua coxa. Instintivamente, tentou puxar a perna, mas seus tornozelos estavam presos às pernas da cadeira.
Cerrou os dentes com força, e sentiu a mandíbula doer em protesto. A ferida em sua perna ardia ferozmente.
O interrogador sorriu e inclinou a cabeça ligeiramente. "Eu admito, você é mais forte que a maioria, Zero", disse em inglês. "Infelizmente, eu sou um profissional." Ele se abaixou e lentamente puxou uma das meias agora imundas de Reid. "Eu não recorro a essa tática com frequência."
Ele se endireitou e encarou Reid diretamente nos olhos. "Aqui está o que vai acontecer a seguir: vou cortar pequenos pedaços de você e mostrar-lhe cada um. Vamos começar com os dedos dos pés. Depois os dedos das mãos. Depois disso... Vamos ver o que farei." O interrogador se ajoelhou e pressionou a lâmina contra o menor dedo do pé direito.
"Espere", Reid pediu. "Por favor, apenas espere."
Os outros dois homens na sala se reuniram em ambos os lados, observando com interesse.
Desesperado, Reid tocou as cordas que prendiam seus pulsos. Era um nó com dois laços opostos…
Um arrepio intenso correu da base da coluna para os ombros. Ele sabia. De alguma forma, ele simplesmente sabia. Ele tinha um intenso sentimento de déjà vu, como se tivesse estado nessa situação antes - ou melhor, essas visões insanas de alguma forma implantadas em sua cabeça lhe diziam que já havia passado por aquilo.
Mas o mais importante é que ele sabia o que tinha que fazer.
"Eu vou te dizer!" Reid ofegou. "Eu vou te dizer o que você quer saber."
O interrogador levantou os olhos. "Sim? Bom. Primeiramente, porém, ainda vou remover esse dedo. Eu não quero que você ache que eu estava blefando".
Atrás da cadeira, Reid agarrou o polegar esquerdo na mão oposta. Ele susteve a respiração e se sacudiu com força. Ele sentiu o polegar sendo deslocado. Ele esperou pela dor aguda e intensa que viria, mas era pouco mais que um pulsar monótono.
Uma nova percepção o atingiu - essa não era a primeira vez que isso lhe acontecia.
O interrogador cortou a pele do dedo do pé e ele gritou. Com o polegar oposto ao ângulo normal, ele tirou a mão de suas amarras. Com um laço aberto, o outro cedeu.
Suas mãos estavam livres. Mas ele não tinha ideia do que fazer com elas.
O interrogador levantou os olhos e franziu a testa, confuso. "O que…?"
Antes que pudesse dizer outra palavra, a mão direita de Reid disparou e pegou a primeira arma próxima - uma faca de precisão de cabo preto. Quando o interrogador tentou se levantar, Reid puxou a mão para trás. A lâmina rasgou a carótida do homem.
Ele agarrou a garganta do interrogador com as mãos. Sangue jorrou entre seus dedos quando o torturador, de olhos arregalados, caiu no chão.
O brutamontes grosseiro rugiu, furioso, ao avançar sobre ele. Ele colocou as duas mãos carnudas em torno da garganta de Reid e apertou. Reid tentou pensar, mas o medo tomou conta dele.
Quando voltou a si, ergueu a faca de precisão novamente e enfiou-a no pulso do brutamontes. Ele retesou os ombros enquanto a empurrava. O brutamontes gritou e caiu, agarrando-se ao ferimento grave.
O homem alto e magro olhou incrédulo. Assim como antes, na rua em frente à casa de Reid, ele parecia hesitante em se aproximar dele. Em vez disso, procurou apressadamente uma arma na bandeja de plástico. Pegou uma lâmina curva e tentou apunhalar o peito de Reid.
Reid recuou, derrubando a cadeira e evitando a facada. Ao mesmo tempo, forçou as pernas para fora o mais forte que pôde. Quando a cadeira bateu no concreto, suas pernas se partiram. Reid se levantou e quase tropeçou, sentindo as próprias pernas fracas.
O homem alto gritou por ajuda em árabe e então cortou o ar indiscriminadamente com a faca, para a frente e para trás, com movimentos amplos para manter Reid a distância. Reid manteve a distância, observando a lâmina de prata balançar hipnoticamente. O homem a balançou para a direita e Reid se lançou, prendendo o braço - e a faca - entre seus corpos. Seu impulso levou-os para a frente e, quando o iraniano tombou, Reid torceu e cortou a artéria femoral na parte de trás de sua coxa. Ele jogou um pé e balançou a faca no sentido oposto, perfurando a jugular do homem.
Ele não sabia como sabia fazer tudo aquilo, mas sabia que o homem tinha cerca de quarenta e sete segundos de vida.
Pés bateram nas escadas próximas. Com os dedos tremendo, Reid correu para a porta aberta e se encostou em um lado. A primeira coisa que passou foi uma arma – ele a identificou imediatamente como uma Beretta 92 FS - e seguiu-se um braço e depois um torso. Reid girou, pegou a arma e deslizou a faca de precisão de lado entre duas costelas. A lâmina perfurou o coração do homem. Ele gritou quando caiu no chão.
Então, seguiu-se um silêncio.
Reid cambaleou para trás. Sua respiração era entrecortada.
"Ai, meu Deus", respirou. "Ai, meu Deus."
Ele acabara de matar - não, ele acabara de assassinar quatro homens em minutos. Pior ainda foi o fato de ser natural, automático, como andar de bicicleta. Ou, de repente, falar em árabe. Ou saber o destino do sheik.
Ele era professor. Ele tinha um passado. Ele tinha filhas. Uma carreira. Mas claramente seu corpo sabia como lutar, mesmo que ele não soubesse por quê. Ele sabia como escapar das amarras. Ele sabia como desferir um golpe letal.
"O que está acontecendo comigo?" perguntou-se. Reid cobriu os olhos quando uma onda de náusea tomou conta dele. Havia sangue em suas mãos - literalmente. Sangue na sua camisa. Quando a adrenalina diminuiu, as dores permearam seus membros por ficarem imóveis por tanto tempo. Seu tornozelo ainda latejava. Ele fora esfaqueado na perna. Tinha uma ferida aberta atrás da orelha.
Ele nem queria pensar em como seu rosto poderia estar.
Saia, seu cérebro gritou para ele. Mais está por vir.
"Tudo bem", Reid disse em voz alta, como se estivesse concordando com outra pessoa na sala. Acalmou sua respiração o melhor que pôde e examinou o que o rodeava. Seus olhos desfocados pousaram em certos detalhes - a Beretta. Uma peça retangular no bolso do interrogador. Uma marca estranha no pescoço do brutamontes.
Ele se ajoelhou ao lado do homem e olhou para a cicatriz. Estava da linha da mandíbula, parcialmente obscurecida pela barba e não maior que um centavo. Parecia ser algum tipo de marca, queimada na pele, e parecia semelhante a um glifo, como uma letra em outro alfabeto. Mas não reconheceu aquilo. Reid a examinou por vários segundos, gravando a imagem daquilo em sua memória.
Rapidamente vasculhou o bolso do interrogador e encontrou um celular velho. Parece um maçarico, seu cérebro lhe disse. No bolso de trás do homem alto, encontrou um pedaço de papel branco rasgado, um dos cantos manchado de sangue. Feita à mão, rabiscada e quase ilegível, havia uma longa série de dígitos que começavam com 963 - o código do país para fazer uma ligação internacional para a Síria.
Nenhum dos homens tinha qualquer identificação, mas o pretenso atirador tinha uma carteira recheada de notas de euro, alguns milhares certamente. Reid guardou isso também e, finalmente, pegou a Beretta. O peso da pistola parecia estranhamente natural em suas mãos. Calibre de nove milímetros. Quinze tiros. Cilindro de 125 milímetros.
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