— Obrigado. — Ele estava esperando algo mais discreto, mas, pegaria o que pudesse. — Que lugar é este?
— Isso... Isso é uma garagem, Kent. Eles consertam carros aqui.
Reid revirou os olhos.
— Você sabe o que eu quero dizer.
— A agência já está tentando manter olhos e ouvidos em você — explicou Watson. — De qualquer forma que eles puderem te rastrear, eles vão. Às vezes, em nossa linha de trabalho, você precisa de... Amigos do lado de fora, por assim dizer. — Ele gesticulou novamente em direção ao mecânico corpulento. — Mitch é um informante da CIA, alguém que eu recrutei dos meus dias na Divisão de Recursos Nacionais. Ele é especialista em “aquisição de veículos”. Se você precisa ir a algum lugar, ligue para ele.
Reid assentiu. Ele não sabia que Watson esteve na recruta de informantes antes de ser um agente de campo - embora, para ser justo, ele não tinha certeza se John Watson era seu nome verdadeiro.
— Vamos, eu tenho algumas coisas para você. — Watson abriu o porta-malas e, em seguida, o zíper de uma bolsa de lona preta.
Reid deu um passo para trás, impressionado; dentro do saco havia uma série de suprimentos, incluindo aparelhos de gravação, uma unidade de rastreamento GPS, um scanner de frequência e duas pistolas - uma Glock 22 e sua escolha reserva, a Ruger LC9.
Ele balançou a cabeça em descrença.
— Como você conseguiu tudo isso?
Watson deu de ombros.
— Tive um pouco de ajuda de um amigo em comum.
Reid não precisou perguntar. Bixby. O excêntrico engenheiro da CIA que passava a maior parte de suas horas de vigília em um laboratório subterrâneo de pesquisa e desenvolvimento, abaixo de Langley.
— Você e ele se conhecem há tempos, mesmo que não se lembre de tudo. Disse Watson. — Embora ele tenha se certificado de mencionar que você ainda lhe deve alguns testes.
Reid assentiu. Bixby foi um dos co-inventores do supressor de memória experimental, que havia sido instalado em sua cabeça, e o engenheiro perguntou se poderia fazer alguns testes na cabeça de Reid.
Ele pode abrir meu crânio se isso significar trazer minhas garotas de volta. Ele sentiu outra onda poderosa e esmagadora de emoção se chocar contra si, sabendo que havia pessoas dispostas a quebrar as regras, a se colocar em perigo para ajudá-lo - pessoas de quem ele mal conseguia se lembrar, mesmo tendo um relacionamento próximo. Ele piscou para segurar a ameaça de lágrimas que tentavam deixas seus olhos.
— Obrigado, John. De verdade.
— Não me agradeça ainda. Nós mal começamos. O telefone de Watson tocou em seu bolso. — Deve ser Cartwright. Dê-me um minuto. — Ele recuou para um canto para atender a chamada, sua voz baixa.
Reid fechou o saco e o porta-malas. Enquanto o fazia, o mecânico grunhiu, fazendo um som entre limpar a garganta e murmurar alguma coisa.
— Você... Disse alguma coisa? — Reid perguntou.
— Disse que sinto muito. Sobre suas filhas. — A expressão de Mitch estava bem escondida atrás de sua barba marrom grisalha e o boné de baseball, porém, sua voz soou genuína.
— Você sabe sobre… Elas?
O homem assentiu.
— Já está no noticiário. As fotos delas, um disque-denúncia para informar pistas ou avistamentos.
Reid mordeu o lábio. Ele não tinha pensado nisso, a publicidade e a conexão invariável com ele. Ele imediatamente pensou na tia delas, Linda, que morava em Nova York. Esse tipo de coisa tinha um jeito de se espalhar rapidamente e, se ela soubesse disso, ficaria preocupada, ligaria sem parar para o telefone de Reid pedindo informações e não receberia nenhuma.
— Tenho algo — disse Watson de repente. — A caminhonete de Thompson foi encontrada em uma parada de descanso a setenta milhas ao sul daqui, na interestadual 95. Uma mulher foi encontrada morta no local. Sua garganta foi cortada, seu carro desapareceu, a identificação foi tirada.
— Então não sabemos quem ela era? — Reid perguntou.
— Ainda não. Mas estamos trabalhando nisso. Eu tenho um técnico infiltrado fazendo varreduras na rádio da polícia e mantendo um olho em transmissões via satélite. Assim que algo for relatado, você saberá.
Reid grunhiu. Sem um documento de identificação, eles não conseguiriam encontrar o veículo. Mesmo que não fosse uma grande vantagem, ainda assim era algo para ir atrás, e ele estava ansioso para seguir o rastro. Ele abriu a porta do Trans Am quando perguntou:
— Qual saída?
Agente Watson sacudiu a cabeça.
— Não vá até lá, Kent. Estará cheio de policiais e tenho certeza de que o Agente Strickland está a caminho.
— Serei cuidadoso. — Ele não confiava que a polícia ou este agente novato encontraria tudo o que ele conseguiria encontrar. Além disso, se Rais estivesse jogando assim, da forma com que Reid achava que ele faria, poderia haver outra pista na forma de uma provocação, algo destinado apenas a ele.
A foto de suas garotas relampejou novamente em sua memória, a que Rais enviara do telefone de Maya, e isso o lembrou de uma última coisa.
— Aqui, fique com isso por mim. — Ele entregou a Watson seu celular pessoal. — Rais tem o número da Sara, e eu tenho o telefone dela encaminhando para o meu. Se alguma coisa acontecer, eu quero saber a respeito.
— Claro. A cena do crime está na saída sessenta e três. Você precisa de mais alguma coisa?
— Não se esqueça de pedir para a Maria me ligar. — Ele ajeitou o banco atrás do volante do carro esportivo e acenou para Watson. — Obrigado. Por toda sua ajuda.
— Não faço isso por você — Watson lembrou sombriamente. — Faço isso por aquelas crianças. E Zero, se eu for descoberto, se ficar comprometido de alguma forma, se eles descobrirem o que estou fazendo com você, eu caio fora. Você entendeu? Não posso me dar ao luxo de entrar na lista negra da agência.
O instinto inicial de Reid foi uma rápida onda de raiva - isso é sobre minhas filhas e ele tem medo de ser colocado na lista negra? - mas ele a sufocou tão rápido quanto ela surgiu. Watson era um aliado inesperado em tudo isso e o homem estava se arriscando pelas meninas. Não por ele, mas pelas suas duas filhas, que ele só conhecera brevemente.
Reid assentiu com firmeza.
— Eu entendo.
Ao mecânico solene e de poucas palavras, acrescentou:
— Obrigado, Mitch. Aprecio sua ajuda.
Mitch grunhiu em resposta e pressionou o interruptor para abrir a porta daquela vaga da garagem, enquanto Reid subia no Trans Am. O interior era todo de couro preto, limpo e agradável. O motor ligou imediatamente e cantou sob o capô. Um modelo de 1987, seu cérebro lhe disse. Motor V8 de 5,0 litros. Pelo menos duzentos e cinquenta cavalos de potência.
Ele saiu da Third Street Garage e dirigiu-se para a estrada, com as mãos firmemente enroladas no volante. Os horrores que estavam girando em sua cabeça anteriormente foram substituídos por uma determinação de aço, uma determinação sólida. Tinha um disque-denúncia. A polícia estava agindo. A CIA estava agindo. E agora ele também estava na estrada atrás delas.
Estou a caminho. Papai está indo até vocês.
E até ele.
— Vocês deveriam comer. O assassino gesticulou para uma caixa de comida chinesa na mesa de cabeceira ao lado da cama.
Maya negou com a cabeça. A comida já tinha esfriado há muito tempo e ela não estava com fome. Em vez disso, ela se sentou na cama com os joelhos dobrados, Sara encostada nela com a cabeça no colo da irmã mais velha. As meninas foram algemadas juntas, o pulso esquerdo de Maya com o direito de Sara. Onde ele havia conseguido as algemas, ela não sabia, mas o assassino as avisara várias vezes que, se uma delas tentasse alguma coisa para escapar ou fizesse barulho, a outra sofreria como consequência.
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