1 ...7 8 9 11 12 13 ...19 Rais continuou sua conversa na língua estrangeira, usando frases curtas e pontuadas. Ele se virou e separou as grossas cortinas ligeiramente, apenas alguns centímetros ou mais, para espiar o estacionamento.
Ele estava de costas para ela, provavelmente pela primeira vez desde que chegaram ao motel decadente.
Maya estendeu a mão e cuidadosamente abriu a gaveta da mesa de cabeceira. Era tudo o que ela conseguia alcançar, algemada a sua irmã e sem se mexer da cama. Seu olhar passou nervosamente pelas costas de Rais e depois para a gaveta.
Havia uma Bíblia nela, muito antiga, com a lombada descascada e lascada. Ao lado havia uma simples caneta esferográfica azul.
Ela a pegou e fechou a gaveta novamente. Quase no mesmo instante, Rais se virou. Maya congelou, a caneta apertada em seu punho fechado.
Mas ele não lhe deu nenhuma atenção. Ele parecia entediado com a ligação agora, ansioso para desligar o telefone. Algo na televisão chamou sua atenção por alguns segundos e Maya escondeu a caneta na cintura elástica da calça de pijama de flanela.
O assassino grunhiu um adeus indiferente e terminou a ligação, jogando o telefone na poltrona. Ele se virou para eles, examinando cada uma. Maya olhou para frente, seu olhar tão vazio quanto ela conseguia, fingindo assistir ao noticiário. Aparentemente satisfeito, ele voltou a seu posto na cadeira novamente.
Maya gentilmente acariciou as costas de Sara com a mão livre enquanto sua irmã mais nova olhava para a televisão, ou talvez para o nada, seus olhos semicerrados. Depois que o incidente no banheiro da parada de descanso, demorou horas para que Sara parasse de chorar, mas agora ela simplesmente estava ali, com o olhar vazio e vidrado. Parecia que ela não tinha mais nada.
Maya passou os dedos para cima e para baixo na espinha de sua irmã na tentativa de confortá-la. Não havia como elas se comunicarem entre si; Rais deixara claro que não lhes era permitido falar a menos que lhes fizesse uma pergunta. Não havia como Maya enviar uma mensagem, criar um plano.
Embora... Talvez não tenha que ser verbal, ela pensou.
Maya parou de tocar as costas da irmã por um momento. Quando ela recomeçou, ela pegou seu dedo indicador e, sorrateiramente, desenhou a forma de uma letra entre as omoplatas de Sara - um grande A.
Sara ergueu a cabeça curiosamente por um momento, mas ela não olhou para Maya nem disse nada. Maya esperava desesperadamente que ela entendesse.
P, ela desenhou em seguida.
Então E.
Rais sentou-se na cadeira, na visão periférica de Maya. Ela não ousou olhar para ele por medo de parecer suspeita. Em vez disso, ela olhou para frente, como sempre, e desenhou as letras.
R. T. E.
Ela moveu o dedo de forma lenta, deliberada, parando por dois segundos entre cada letra e cinco segundos entre cada palavra até que ela soletrasse sua mensagem.
Aperte minha mão se você entender.
Maya nem viu Sara se mexer. Mas suas mãos estavam próximas, por estarem algemadas juntas, e ela sentiu dedos frios e úmidos fecharem-se ao redor dos seus por um momento.
Ela entendeu. Sara entendeu a mensagem.
Maya começou de novo, movendo-se o mais lentamente possível. Não havia pressa, e ela precisava ter certeza de que Sara entendesse cada palavra.
Se você tiver uma chance, ela escreveu, corra.
Não olhe para trás.
Não espere por mim.
Encontre ajuda. Encontre o papai.
Sara ficou ali, quieta e perfeitamente imóvel, durante toda a mensagem. Eram três e quinze antes de Maya terminar. Finalmente, ela sentiu o toque frio de um dedo fino na palma da mão esquerda, aninhada parcialmente sob a bochecha de Sara. O dedo traçou um padrão na palma da mão dela, a letra N.
Não sem você, a mensagem de Sara dizia.
Maya fechou os olhos e suspirou.
Você tem que fazer, ela escreveu de volta. Ou não haverá chance para nenhuma de nós.
Ela não deu a Sara a oportunidade de responder. Assim que terminou a mensagem, ela limpou a garganta e disse baixinho:
— Eu tenho que ir ao banheiro.
Rais arqueou uma sobrancelha e apontou para a porta aberta do banheiro, no outro extremo da sala.
— Claro.
— Mas... — Maya levantou o pulso algemado.
— E daí? O assassino perguntou.
— Leve ela com você. Você tem uma mão livre.
Maya mordeu o lábio. Ela sabia o que ele estava fazendo; a única janela no banheiro era pequena, mal tinha tamanho o suficiente para Maya passar completamente e seria totalmente impossível enquanto estava algemada à irmã.
Ela deslizou para fora da cama lentamente, cutucando sua irmã para ir com ela. Sara se moveu mecanicamente, como se tivesse esquecido como usar corretamente seus membros.
— Vocês têm um minuto. Não tranque a porta — alertou Rais. — Se trancar eu vou derrubá-la no chute.
Maya liderou o caminho e fechou a porta do pequeno banheiro, era apertado com as duas lá dentro. Acendeu a luz - quase certa de ter visto uma barata se arrastando para um esconderijo seguro embaixo da pia - e depois ligou o ventilador do banheiro, que zumbia ruidosamente no alto.
— Eu não vou — Sara sussurrou quase imediatamente. — Eu não vou sem...
Maya rapidamente ergueu um dedo a frente dos próprios lábios para sinalizar silêncio. Pelo que ela sabia, Rais estava bem do outro lado da porta com os ouvidos colados nela. Ele não se arriscava.
Ela rapidamente puxou a caneta da bainha de suas calças. Precisava de algo para escrever, e a única coisa disponível era papel higiênico. Maya arrancou alguns pedaços e espalhou-os na pequena pia, mas toda vez que pressionava a caneta, o papel rasgava com facilidade. Ela tentou novamente com alguns pedaços novos, porém, novamente o papel rasgou.
Isso não funciona, ela pensou amargamente. A cortina de chuveiro não ajudaria; era apenas uma folha de plástico pendurada na banheira. Não havia cortinas sobre a pequena janela.
Contudo, havia algo que ela poderia usar.
— Fique parada — ela sussurrou no ouvido da irmã. As calças do pijama de Sara eram brancas com estampa de abacaxi - e elas tinham bolsos. Maya virou um dos bolsos ao avesso e, com o máximo de cuidado, rasgou-o até que ela tirou um pedaço de tecido triangular de bordas ásperas com a estampa de fruta de um lado, porém, era todo branco do outro.
Ela rapidamente achatou-o na pia e escreveu com cuidado enquanto sua irmã observava. A caneta se enroscou várias vezes no tecido, mas Maya mordeu a língua para evitar grunhir em frustração irritada enquanto escrevia uma nota.
Porto de Nova Jersey.
Dubrovnik.
Havia mais que ela queria escrever, mas estava quase sem tempo. Maya guardou a caneta embaixo da pia e enrolou a nota de tecido no formato de um cilindro. Então ela olhou em volta desesperadamente para um lugar para esconder a nota. Não podia simplesmente colocá-lo embaixo da pia com a caneta; isso seria muito evidente, e Rais era minucioso. O chuveiro estava fora de questão. Molhar a nota borraria a tinta.
Uma batida abrupta na porta do banheiro assustou as duas.
— Já passou um minuto — disse Rais claramente do outro lado.
— Estou quase terminando — ela disse apressadamente. Ela prendeu a respiração enquanto levantava a tampa da caixa de descarga da privada, esperando que o ventilador do banheiro abafasse qualquer ruído. Enfiou a nota enrolada pela corrente no mecanismo de descarga, alto o suficiente para não tocar na água.
— Eu disse que você tem um minuto. Estou abrindo a porta.
— Só me dê alguns segundos, por favor! — Maya implorou quando ela rapidamente recolocou a tampa. Por fim, ela puxou alguns cabelos da cabeça e os jogou sobre a caixa fechada. Com alguma sorte - com muita sorte - qualquer um que seguisse o rastro delas reconheceria a pista.
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