Watson se afastou, deixando um confuso detetive Noles gaguejando em seu telefone. Reid levantou a bolsa e seguiu, mas parou no SUV.
— Espere — disse ele antes que Watson pudesse subir no banco do motorista. — O que é isso? Para onde vamos?
— Podemos conversar enquanto dirigimos, ou podemos conversar agora e perder tempo.
A única razão pela qual Reid poderia conceber para Watson estar lá era se a agência o enviasse, com a intenção de pegar o Agente Zero para que eles pudessem ficar de olho nele.
Ele balançou a cabeça.
— Eu não vou para Langley.
— Nem eu — respondeu Watson. — Estou aqui para ajudar. Entre no carro. Ele deslizou para o banco do motorista.
Reid hesitou por um breve momento. Ele precisava estar na estrada, mas não tinha destino. Ele precisava de uma pista. Reid não tinha motivos para acreditar que ele estivesse mentindo; Watson era um dos agentes mais honestos e dentro das regras que ele já conheceu.
Reid sentou no assento do passageiro ao lado dele. Com seu braço direito em uma tipoia, Watson teve que estender o outro braço sobre seu corpo para conduzir e guiar o volante com uma mão. Eles se afastaram em segundos, indo a mais de vinte acima do limite de velocidade, movendo-se rapidamente, mas evitando a fiscalização.
Ele olhou para a bolsa preta no colo de Reid.
— Onde você estava planejando ir?
— Eu tenho que encontrá-las, John. — Sua visão se turvou com o pensamento delas lá fora, sozinhas, nas mãos daquele louco assassino.
— Sozinho? Desarmado, com um celular de civil? — Agente Watson sacudiu a cabeça. Você deveria ter pensado melhor.
— Eu já conversei com Cartwright — Reid disse amargamente.
Watson zombou.
— Você acha que Cartwright estava sozinho na sala quando falou com você? Você acha que ele estava em uma linha segura, em um escritório em Langley?
Reid franziu a testa.
— Eu não tenho certeza se entendo. Parece que você está sugerindo que Cartwright quer que eu faça a coisa que ele acabou de me dizer para não fazer.
Watson balançou a cabeça, sem tirar os olhos da estrada.
— Está mais para ele saber que você vai fazer a coisa que ele acabou de lhe dizer para não fazer, quer ele queira ou não. Ele te conhece melhor que ninguém. Do jeito que ele vê, a melhor maneira de evitar outro problema é garantir que você tenha algum apoio desta vez.
— Ele mandou você — Reid murmurou. Watson não confirmou nem negou, mas ele não precisou. Cartwright sabia que Zero estava indo atrás de suas filhas; a conversa deles foi em benefício de outros ouvidos em Langley. Ainda assim, conhecendo a tendência de Watson em seguir o protocolo, não fazia sentido para Reid por que ele iria ajudar. — E quanto a você? Por que está fazendo isso?
Watson apenas deu de ombros.
— Há duas crianças lá fora. Assustadas, sozinhas, em mãos erradas. Não gosto muito disso.
Não era realmente uma resposta, e pode até não ter sido a verdade, mas Reid sabia que era o melhor que ele conseguiria tirar do agente estoico.
Ele não pôde deixar de pensar que parte da anuência de Cartwright em ajudá-lo era uma medida de culpa. Por duas vezes, enquanto estava fora, Reid pediu ao diretor adjunto que colocasse suas filhas em um local seguro. Contudo, em vez disso, ele inventou desculpas sobre a mão de obra e a falta de recursos... E agora elas estavam desaparecidas.
Cartwright poderia ter evitado isso. Ele poderia ter ajudado. Mais uma vez Reid sentiu seu rosto ficar quente quando uma onda de raiva cresceu dentro dele, e novamente ele a reprimiu. Agora não era hora para isso. Agora era a hora de ir atrás delas. Nada mais importava.
Vou encontrá-las. Vou resgatá-las. E eu vou matar o Rais.
Reid respirou fundo, pelo nariz e pela boca.
— Então, o que sabemos até agora?
Agente Watson sacudiu a cabeça. Não muito. Descobrimos logo depois de você, quando ligou para os policiais. Mas a agência está agindo no caso. Nós devemos ter uma pista em breve.
— Quem está no caso? Alguém que eu conheço?
— O Diretor Mullen deu o caso para as Operações Especiais, então Riker está assumindo a liderança...
Reid zombou outra vez. Menos de quarenta e oito horas atrás, ele recuperou uma memória, uma de sua antiga vida como o agente Kent Steele. Ainda estava embaçada e fragmentada, mas era sobre uma conspiração, algum tipo de encobrimento do governo. Uma guerra pendente. Dois anos atrás, ele sabia disso - pelo menos sabia de alguma parte - e estava trabalhando para construir um caso. Independentemente de quão pouco ele sabia, ele estava certo de que pelo menos alguns membros da CIA estavam envolvidos.
No topo de sua lista estava a recém-nomeada Diretora Assistente, Ashleigh Riker, chefe do Grupo de Operações Especiais. Com sua falta de confiança nela, ele definitivamente não esperava que ela desse seu melhor para encontrar suas filhas.
— Ela designou um cara novo, jovem, mas capaz — continuou Watson. — O nome é Strickland. Ele é um ex-Ranger do exército, excelente rastreador. Se alguém pudesse descobrir quem fez isso, seria ele. Além de você, é claro.
— Eu sei quem fez isso, John. — Reid balançou a cabeça amargamente. Ele imediatamente pensou em Maria; ela era uma agente, uma amiga, talvez mais - e definitivamente uma das únicas pessoas em quem Reid podia confiar. Da última que ele ouviu, Maria Johansson estava em uma missão rastreando Rais na Rússia. — Eu preciso entrar em contato com a Johansson. Ela deve saber o que aconteceu. Ele sabia que, até que pudesse provar que era Rais, a CIA não a traria de volta.
— Você não poderá fazer isso, não enquanto estiver em campo — respondeu Watson. — Porém, eu posso tentar falar com ela de outra maneira. Vou pedir para que ela te ligue quando conseguir encontrar uma linha segura.
Reid assentiu. Ele não gostava de não poder contatar Maria, mas tinha pouca escolha. Os telefones pessoais nunca eram levados em operações, e a CIA provavelmente estaria monitorando sua atividade.
— Você vai me dizer para onde estamos indo? — Reid perguntou. Ele estava ficando ansioso.
— Para alguém que possa ajudar. Aqui. — Ele jogou para Reid um pequeno telefone flip prateado, um descartável que a CIA não conseguia localizar a menos que soubessem dele e tivessem o número. — Tem alguns números programados nele. Um é uma linha segura para mim. Outro é para o Mitch.
Reid piscou. Ele não conhecia um Mitch.
— Quem diabos é Mitch?
Em vez de responder, Watson guiou o SUV para fora da estrada e entrou na garagem de uma oficina de automóveis chamada Third Street Garage. Ele manobrou o veículo em uma vaga de garagem aberta e estacionou. Assim que desligou a ignição, a porta desceu lentamente atrás deles.
Ambos saíram do carro enquanto os olhos de Reid se ajustavam à escuridão relativa. Então as luzes piscaram, lâmpadas fluorescentes brilhantes que faziam pontos nadarem em sua visão.
Ao lado do SUV, na segunda vaga da garagem, estava um carro preto, um modelo Trans Am, do final da década de 1980. Não era muito mais jovem do que ele, mas a pintura parecia nova em folha.
Também na garagem com eles estava um homem. Ele usava macacão azul-escuro que mal escondia manchas salpicadas de graxa. Suas feições estavam encobertas por uma massa emaranhada de barba marrom e um boné vermelho de beisebol puxado para baixo sobre a testa, a aba descolorida com suor seco. O mecânico limpou lentamente as mãos em um trapo sujo e manchado de óleo, olhando para Reid.
— Este é o Mitch — disse Watson. — Mitch é um amigo.
Ele jogou um molho de chaves para Reid e gesticulou para o Trans Am.
— É um modelo antigo, então não tem GPS. É confiável. Mitch vem consertando isso nos últimos anos. Então tente não destruí-lo.
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