– Não se esqueça dos homens – Bryn adicionou, mexendo as sobrancelhas.
Keira lhe deu um olhar fulminante. – Sim, as pessoas são maravilhosas também. Cristiano me levou para conhecer os pais dele em Florença. Eles foram super amigáveis.
Mallory olhou para Cristiano, impressionada. – Você é próximo da sua família?
Ele sorriu e assentiu. – Muito. Tirando quando estou viajando a trabalho, eu os vejo no mínimo uma vez por semana.
– Isso é tão legal – Mallory disse, abaixando o olhar contemplativamente para sua lasanha. – Minhas meninas estão sempre muito ocupadas para me ver. Estou a apenas uma viagem de táxi de distância, mas parece que vivo no Canadá.
Bryn revirou os olhos. – Somos mulheres modernas, mãe. Nós trabalhamos.
– Eu passei mais ou menos 48 horas em Nova Iorque nos últimos dois meses! – Keira adicionou.
Mallory apenas deu de ombros, mantendo a expressão ferida em seu rosto para obter o efeito máximo. Bryn parecia ser imune àquele tipo de coisa, mas isso sempre irritava Keira. Ela sentia que seu relacionamento com sua mãe era muito bom. E dificilmente era como se Mallory fosse uma velha solitária que ficava sentada em casa o dia todo! Ela podia estar aposentada agora, mas tinha muitas amizades e todo tipo de hobbies com que se ocupar.
– Como está sua lasanha? – Mallory perguntou a Cristiano em seguida. – Suponho que não se compare à receita da sua supermãe, não é?
Bryn apenas riu do tom de abandono de sua mãe. Keira não estava a fim de paparicá-la. Ela respondeu antes que Cristiano ao menos tivesse a chance, na tentativa de aliviá-lo da estranha interação social.
– Claro que não se compara – ela disse. – Nossa comida é completamente diferente. A maior parte é importada. Quer dizer, os ingredientes italianos são tão frescos e nutritivos – ela cutucou sua massa emborrachada com o garfo. – Até os tomates têm sabor diferente na Itália.
– Mas comida americana é boa também – Cristiano adicionou, diplomaticamente. – Keira e eu comemos bagels no café da manhã hoje cedo. Foi muito empolgante.
Bryn fez uma cara que indicava que ela achava a empolgação de Cristiano por um bagel adorável. Keira não suportou a forma como ela olhava para Cristiano, como se ele fosse um cachorrinho fofo.
– E por quanto tempo você vai ficar em Nova Iorque? – Mallory perguntou.
Ótimo, Keira pensou. De novo essa pergunta.
– Eu ainda não sei – Cristiano respondeu. – Mas não tenho nenhuma razão para sair correndo.
Uma pequena ranhura apareceu na testa de Mallory. – Não? Você não tem que voltar para casa para trabalhar?
Cristiano meneou a cabeça, desprendido. – Meu trabalho é só casual, e a maior parte durante o verão. Guia turístico. Garçom. Essas coisas.
Keira notou que a ruga na testa de sua mãe se aprofundou.
– Trabalho casual? – ela repetiu, o tom de sua voz revelando seu desgosto.
– As coisas são diferentes lá – Keira explicou. – A cultura é diferente. As pessoas não passam uma por cima da outra por uma promoção como fazem aqui.
– Mas ele não é mais uma criança – Mallory disse a Keira, exasperada. – Ele não devia ter alguma ideia do que quer fazer com a vida dele?
– Mãe! – Keira exclamou.
Cristiano apenas riu, de alguma forma encontrando humor na situação. – Eu vou encontrar meu caminho um dia, Mallory – ele a tranquilizou. – Não estou com pressa.
Ele baixou o olhar sereno para sua lasanha. Por cima da cabeça dele, Mallory disparou uma expressão dolorida a Keira. Se ela pensava que Keira estava deixando para casar e ter filhos muito tarde, o que ela devia pensar sobre o fato de Cristiano não ter encontrado uma carreira ainda?
Com os pratos vazios, Mallory foi buscar a sobremesa. Sorvete. Keira tinha comido tanto gelato na Itália que aquela era a última coisa que queria, especialmente o péssimo substituto americano que sua mãe tinha comprado. Mas Cristiano foi educado como sempre e produziu todos os sons apropriados enquanto comia.
– Vocês estão todos espremidos no apartamento da Bryn por enquanto? – Mallory perguntou.
– Eu estou deixando que eles fiquem com a cama – Bryn disse, aparentando estar orgulhosa de si mesma por realmente colocar as necessidades dos outros antes das dela, possivelmente pela primeira vez em sua vida.
– Por que vocês não ficam aqui? – Mallory sugeriu. – Keira tem o quarto dela.
– Você tem? – Cristiano perguntou, franzindo o cenho levemente, como se não entendesse por que Keira tinha escolhido o sofá de sua irmã ao invés de seu próprio quarto.
Keira sacudiu a cabeça. – Não é uma boa ideia – ela disse a ele em voz baixa. – Ir para o trabalho daqui é uma dor de cabeça.
– O que ela está falando? – Mallory perguntou a Cristiano em voz alta. – Deixe-me adivinhar. O trajeto. É sempre o trajeto. Quando ela se mudou do apartamento dela com Zach, foi direto para Bryn! Como se eu nem existisse. E quando eu pergunto por que, ah, é sempre o trajeto.
– Mãe, eu demoro mais de uma hora para chegar ao trabalho daqui – Keira disse a ela pela que deveria ser a milionésima vez.
– Uma hora é o normal – Bryn respondeu. – Antes você tinha sorte com a localização do seu apartamento. E só porque o Zach pagava a maior parte.
– Bryn! – Keira a repreendeu. Então, cruzando os braços com teimosia, ela acrescentou em voz baixa. – Era do primo dele. Nós dois pagávamos um aluguel barato.
Cristiano parecia muito confuso. – Quem é Zach?
– Ninguém – Keira o contou. Ela lançou olhares apelativos para sua mãe e sua irmã, desejando que elas mantivessem as bocas grandes fechadas para variar.
Mallory sorriu para Cristiano. – Você gostaria de passar um tempo aqui, não gostaria, querido? Eu posso te mostrar os arredores amanhã.
Os olhos de Keira se arregalaram. – De jeito nenhum, mãe. Cristiano tem coisas melhores para fazer com o tempo dele. – Só de pensar em sua mãe passando o dia todo com ele a enchia de pavor.
– Que coisas? – Bryn a desafio com uma risada. – Alguém tem que leva-lo para dar uma volta. Distraí-lo. Pode até ser eu – ela cruzou uma de suas pernas torneadas sobre a outra.
– Não! – Keira disse com mais força. Ela não confiava em nenhuma delas perto de Cristiano!
– Na verdade, eu gosto de explorar sozinho – Cristiano disse, finalmente tendo a chance de ter sua voz ouvida. – Pelo menos quando estou em uma cidade nova. Tudo bem, Mallory?
– Claro – ela riu. Então, sorrindo, adicionou para ninguém em particular – Ele é tão educado.
– Mas eu acho, sim, que seria bom aceitar sua oferta para ficar aqui – ele acrescentou. – Keira pôde ver minha casa e eu adoraria ver o quarto antigo dela também.
Keira enterrou a cabeça entre as mãos. Essa era praticamente a última coisa que ela queria que acontecesse! Mas então pensou na completa falta de privacidade que eles tinham na casa de Bryn. Mesmo com ela oferecendo sua cama para eles, ainda estava muito lotado. Sem mencionar bagunçado e barulhento. Aqui, pelo menos Mallory iria para a cama cedo e eles teriam um pouco de espaço e privacidade.
– Está bem – Keira enfim respondeu. Não conseguia lembrar a última vez que dormira na casa de sua mãe. Mas, graças a Cristiano, isso aconteceria pela primeira vez em anos. – Vamos ficar.
– Maravilha! – Mallory exclamou, preenchendo as taças de todos com mais do desagradável vinho rosa.
*
Keira e Cristiano dividiram um táxi com Bryn até o apartamento dela para que pudessem buscar algumas coisas. Cristiano enfiou suas roupas em sua bolsa de couro e Keira recolheu coisas de higiene pessoal, roupas íntimas limpas, sua maquiagem, perfume e roupas para o trabalho, incluindo sapatos de salto, algo que ela não tinha usado durante todo o tempo que estivera na Itália!
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