Amy Blankenship - Chuva De Sangue

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— Isso começou com você — acusou o símbolo.

Levantando a outra mão, levou-a sobre o desenho complexo na palma da mão, pretendendo tratá-lo da mesma forma que trataria qualquer outra marca de demônio que havia removido de vítimas no passado.

A ponta do dedo indicador pairou sobre o formato da marca, sondando pelo menor sinal maligno para se conectar a sua procura. Seu rosto enrugou levemente, sem más intenções sob suas feições. Concentrando-se mais no complexo símbolo, mordeu o lábio inferior quando começou a seguir o caminho profundo, até poder finalmente superar sua barreira poderosa.

Seus lábios se abriram e inspirou fundo em face das sensações que logo a inundaram. Houve um momento de vertigem, seguido de um forte puxão vindo do selo, no mesmo instante em que seus poderes se conectaram a ele. A ação a surpreendeu tanto que ela de fato entrou em pânico e sacudiu seu poder de volta, sentindo a magia do símbolo açoitá-la e lamber sua pele, antes de desaparecer de volta da onde quer que tinha vindo.

Se ela não tivesse juízo, juraria que a maldita marca acabava de sentir seu gosto.

Syn surgiu silenciosamente por trás de Angélica, tendo sentido ela manipular a conexão que lhe possibilitava acessar o poder dele, para sua própria proteção. Pensou em deixá-la sozinha por algumas horas, para que pudesse recuperar a calma, depois de ver a rejeição dela mais uma vez. Porém, por ela violar o selo dele na palma da sua mão, inconscientemente invocou-o para lá para presenciar sua tentativa inútil de quebrar o vínculo entre eles.

Isso fez a raiva dele ressurgir... será que ela estava ansiosa de se livrar dele para poder parar de mentir a si mesma? Depois de procurar por tantos milênios e finalmente encontrá-la, não iria deixá-la romper nem mesmo a mais leve conexão que conseguiu reformular com ela.

— Covarde — Angélica se autocriticou sobre sua reação e abriu a mão em punho para tentar de novo. Tomou um fôlego profundo quando o selo instantaneamente começou a reluzir com poder revigorado.

— Por que você não tenta descontar sua frustração naquele que a causou? — perguntou Syn, logo atrás dela.

Angélica se encolheu diante da proximidade imediata dele e girou para colocar o olhar fixo em seu perseguidor. Era difícil segurar o olhar, uma vez que ele parecia muito mais bravo do que ela.

Antes de perceber as intenções dele, ele a fisgou pela cintura com um dos braços e a puxou contra seu corpo rijo. Ela prontamente pressionou a palma da mão contra o peito dele, para manter alguma réstia de distância entre eles. Francamente, se ele estava tentando deixá-la maluca, então faria uma viagem curta.

— Você está certo. Devo descontar em você — ela disse sugestivamente e empurrou-o para longe, surpreendida quando ele soltou tão facilmente, que quase perdeu o equilíbrio. Cerrou os dentes, tentando esquecer a decepção bizarra que estava sentindo porque ele a soltara tão depressa.

Fechando a mão em volta da marca na palma da mão, ela disse a primeira coisa que lhe veio à mente. — Que diabos você fez comigo?

— Eu te assusto? — perguntou Syn, encostando contra a cabeceira da cama dela e cruzando os braços sobre o peito.

Angélica foi tomada de surpresa pela pergunta, fazendo com que enrugasse a testa levemente ao ver os braços cruzados dele, antes de erguer o olhar para encontrar seus luminosos olhos de ametista. Estavam brilhando de um jeito que ela juraria que era de raiva, mas ele parecia tão calmo que foi sereno.

— Não tenho medo de você — ela lhe informou com audácia, depois recuou rápido, quando ele se moveu da cabeceira e se dirigiu em sua direção.

— Não fiz nenhum mal a você — Syn defendeu-se, com um rosnado contido de maneira insatisfatória, sabendo que já tinham vivido essa situação. Ela lutou com ele no passado até perder a sanidade, antes de finalmente admitir derrota, e ele não estava interessado na repetição desse fato. Ele sentiu uma estremecida mental ao lembrar como essa história terminou. — Você é a única razão de eu estar aqui.

Angélica sacudiu a cabeça, rejeitando a responsabilidade de ser a razão de qualquer coisa para qualquer um. Colocou tantos muros a sua volta que o único que esteve perto de rompê-los foi Zachary. Ou, para ser honesta, foi o alter ego Zach que os atravessava sem piedade. Entristeceu-se momentaneamente pelo fato de agora sentir falta da amizade e dos conselhos indesejados dele.

Os olhos de Syn entrecerraram, ouvindo o luto dela por causa da intimidade que tivera com a fênix. Era lamentável ela ter esquecido que ele, Syn, era um homem muito possessivo e jamais dividiria ela com outros. Ele havia matado para ficar com ela antes, e mataria de novo, sem hesitar.

Empurrou seu poder para dentro quando ele tentou incidir na recordação, e Syn percebeu que estava próximo do seu limite. Como teria ela o reduzido a esse estado impaciente tão depressa?

— Você não veio aqui por minha causa — Angélica amarrou a cara, enfatizando o que pensou ser óbvio. — Veio porque seus garotos estão aqui, e devo acrescentar, parecem ter a mesma idade que você... mais como seus irmãos, e não filhos seus. E agora está permanecendo aqui para ajudar Storm a lutar contra os demônios — sua voz esmoreceu, quando suas costas bateram na parede, ao mesmo tempo em que as palmas das mãos dele encostaram nela, em cada lado... prendendo-a de modo eficiente contra a pedra pintada do castelo.

— Meu colega é quem está ajudando Storm... não eu — Syn rosnou asperamente. — Estou aqui apenas para protegê-la de ser morta à toa de novo!

— Nunca me mataram — revidou Angélica, negando, depois se encolheu quando a parede rachou sob as palmas das mãos dele, fazendo com que linhas tortas se esgueirassem pela pedra, perto da cabeça e dos ombros dela.

— Pare — ela murmurou, mal soprando a palavra.

Havia definitivamente algo de errado nele, mas em vez disso assustá-la... estava, de súbito, partindo seu coração. Ela abrandou a respiração, querendo ser cuidadosa agora, pois sentiu que se não fosse, aquele homem poderoso a sua frente se despedaçaria e isso seria o começo do seu mais genuíno medo.

— Eu vou te segurar até eu me acalmar — Syn avisou, assim que se inclinou para frente e a arrastou para si.

Quando Angélica não lhe resistiu, Syn sentiu um pouco do sofrimento opressivo sair dos seus ombros tensos. Ela podia não se lembrar da própria morte, mas era uma lembrança que ele ainda se esforçava em manter enterrada dentro de si... para sua própria sanidade. Mantendo-a presa, lentamente se abaixou até os joelhos, puxando-a para baixo da parede com ele. Ele deixou uma mão trêmula percorrer por cima e por baixo do cabelo negro e sedoso dela, pressionando suas bochechas na curva de seu pescoço, e colocando seus lábios contra sua têmpora enquanto fazia isso.

Angélica pestanejou quando sentiu o corpo dele estremecer contra o dela e sua respiração ofegante na orelha. Era como se ele estivesse lutando contra algo que ela não podia ver. Usando isso como motivo para ceder por enquanto, aos poucos relaxou o contato com ele, e o deixou abraçá-la. Ficou espantada por quão aquecida e protegida rapidamente se sentiu, ao ser abraçada por ele. Ele era bastante alto e forte, ainda assim ela podia sentir seu comedimento enquanto a abraçava.

Criando coragem para satisfazer sua curiosidade, ela manteve a voz suave e calma quando falou:

— Não entendo o que fiz para ganhar a sua atenção.

— Não... você não entenderia — concordou Syn e delicadamente beijou o cabelo negro dela, antes de colocar suas bochechas contra ele.

Uma parte dele não queria lembrá-la do passado maculado deles... não queria ver o lampejo de ódio nos olhos dela pelo que ele fez. Não quando não tinha intenção de pedir seu perdão. Tinham merecido morrer... todos eles.

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