Sequei o meu cabelo o mais rápido possível e o enrolei em um coque desleixado antes de agradecer a ambos, um pouco triste por só conhecer o vizinho simpático um dia antes de me mudar.
De volta ao apartamento geladeira, abri minhas cortinas para deixar a luz do sol entrar antes de enrolar um lenço em volta do pescoço, puxar meu casaco e erguer minha bolsa. Como eu nunca percebi como ela ficava tão pesada assim com o notebook e o carregador nas minhas caminhadas de apenas uma quadra da minha casa até o ponto de ônibus?
Posso não receber um pagamento pelo dia hoje, mas ainda era um dia útil. Eu tinha muito trabalho a fazer e ainda mais coisas para pensar. Então era melhor já começar a arregaçar as mangas.
O ar estava úmido, o tipo de clima pré-outono que fazia tudo parecer um pouco mais fresco. Foi uma caminhada mais curta do que o esperado. Um pouco mais de um quilômetro. Isso é o que acontece quando você nunca não vai além do que a própria vizinhança, você perde a oportunidade de encontrar jóias escondidas.
Entrei na cafeteria e inspirei o aroma inebriante de café. Estar lá novamente foi a primeira coisa que me fez sentir bem, algo que parecia certo, nos últimos dois dias.
Aproximei-me do balcão, feliz por poder pedir outro daquele mocha delicioso e estranhamente não me surpreendi ao encontrar Abby no balcão novamente.
Ela olhou para mim e balançou a cabeça. — É assim que você sai de casa?
Eu olhei para minhas calças de ioga e jaqueta esportiva.
— Sim. É assim que saio de casa quando preciso caminhar dois quilômetros para sentar e tomar um café enquanto trabalho.
Ela balançou a cabeça novamente, desgosto emanando dela como se ela tivesse acabado de descobrir que eu chutava gatinhos como passatempo.
— Se você insiste em sair assim, vai continuar solteira.
— Eu só estou solteira desde a noite passada, você sabe, quando você me acusou de sair por aí traindo.
— Então. Bem-vinda à Terra dos Solteiros. — Abby me entregou meu mocha como se ele fosse algo muito bom para alguém como eu. — Você vai ficar nessa Terra por um bom tempo.
— Talvez eu queira ficar solteira por um tempo.
Ela olhou para mim por cima da névoa do vapor. — Você não parece alguém que gosta de ficar solteira. — Com isso, ela foi até o final do balcão para limpar alguma máquina.
Fiquei olhando para ela me perguntando se ela estava certa. Eu era do tipo de garota que não gostava de ficar solteira? Era? Foi por isso que fiquei tanto tempo com Jason?
Achava que não, mas estava aprendendo muitas coisas novas sobre mim mesma esta semana.
Sentei-me na mesma poltrona da noite anterior e ponderei. Eu estava definitivamente em um momento de reflexão de vida.
Assim que deixei de lado a reflexão sobre a Terra dos Solteiros, comecei a considerar o verdadeiro problema em questão. No fundo da minha mente, eu tive uma ideia, uma que tinha vivido lá por um tempo tentando criar coragem para emergir. Mas agora, em uma situação mental de luta ou fuga, ela abriu caminho na minha mente e está cutucando o meu cérebro desde que acordei com frio e irritada.
Meu próprio negócio de marketing e design. Divulgação, sites, banners, anúncios… Muitos designs divertidos para fazer sozinha. Sem todas aquelas grandes contas corporativas discutindo sobre o que tal ou tal tom de laranja diz subconscientemente. Apenas trabalho direto para startups, indivíduos e pequenas empresas.
Trabalho acessível, mas lindo.
Eu tinha as habilidades. Eu tinha a vontade.
Examinando meus contatos, tentei descobrir onde poderia encontrar alguns clientes para lançar meu novo negócio assim que o colocasse em funcionamento. Eu não tinha certeza de onde estava a linha ética sobre entrar em contato com ex-clientes. Uma coisa que eu sabia sobre mim mesma, essa não era uma linha que eu cruzaria.
Obviamente, eu precisaria de algo para mostrar a eles. Algo tão bom quanto o que eu conseguia fazer quando tinha recursos, mas com um orçamento muito menor. O que eu poderia oferecer para me destacar? O que faria de mim um sucesso? E que me permitiria pagar o aluguel?
Pesquisei designers no Google e comecei a pegar capturas de tela. Peguei o meu Moleskine e fiz anotações de diferentes coisas ofertadas, preços, cronogramas, esquemas de cores, sites... qualquer coisa que outras pessoas estavam fazendo. Eu marquei exemplos. Fiz anotações do que poderia ser feito melhor, diferente, ou apenas que fosse mais eu.
Foi divertido. Foi emocionante. Mas foi apenas o começo e quando tentei pensar além disso, fiquei um pouco assustada.
Depois de uma hora, já tinha bebido todo o meu mocha. Definitivamente, outro era necessário para traçar um plano de negócios enquanto eu esperava por John.
E, para minha sorte, Abby ainda estava trabalhando no balcão.
— Sabe qual é o seu problema? — começou ela, antes mesmo que eu pudesse fazer o meu pedido.
— Não, mas tenho certeza de que, como minha barista, não há nada que você gostaria mais do que me dizer.
É uma situação triste quando não me sinto estranha ou culpada por discutir verbalmente com uma criança.
— Olhe para você. Você está uma bagunça.
Olhei para baixo. Provavelmente por hábito. Será que Abby começou a canalizar a minha mãe. Eu estava uma bagunça? Emocionalmente ou fisicamente? Ela provavelmente queria dizer um pouco dos dois.
— Isso não é bom — disse ela, como se estar uma bagunça ocasionalmente fosse uma coisa boa e eu pudesse ficar confusa. — Já é difícil ser uma garota, quanto mais uma garota comum. Mas você está reduzindo sua própria classificação de crédito social vindo aqui assim.
Eu não deveria perguntar. Foi um movimento idiota e eu sabia disso mesmo enquanto a pergunta escapava dos meus lábios. — Classificação de crédito social?
— Eu chamo isso de Teoria da Garota Comum. É a razão pela qual você está solteira e não sabe o que fazer sobre isso.
Eu sabia o que fazer sobre isso: Nada.
Eu estava solteira, olhei para o relógio, há catorze horas. Eu não tinha morrido por não ter um homem em minha vida ainda.
Eu estava mais do que viva. Eu estava me sentindo super bem.
Quando decidi morar com Jason, minha mãe não ficou feliz. Tantas indiretas sobre gente interesseira que perdi a conta. Minhas tias se juntaram a ela. Os casais felizes da família também juntaram forças para tentar me convencer do contrário. Ninguém, nenhuma pessoa simplesmente veio até mim e disse que não gostava dele. Eles apenas pensaram que deveríamos nos casar em vez de morarmos juntos.
Ou talvez não gostassem dele.
Mas já essa… essa adolescente, autoproclamada guru do amor, era demais.
— Veja, os caras são muito visuais. — A Garota Barista Abby acenou com a cabeça como se eu não fosse acreditar nela ou isso fosse, sei lá, novidade . — Tudo gira em torno do que eles podem ver. Eles não podem ver que você é inteligente ou engraçada, ou o que quer que seja o seu Poder Feminino. É tudo uma questão visual.
— Se você diz. — Não era minha culpa se isso soou grosseiro até mesmo para mim.
— Agora você entra aqui desse jeito. — Ela acenou com a mão vagamente para mim do seu lado do balcão. — Nada bom.
— Ontem à noite você me acusou de ser uma adúltera.
Eu estava realmente começando a desejar já não ter pago a bebida. Ou que ela já tivesse me dado o meu mocha. Ou que meu ego não estivesse sendo metralhado sem motivo aparente.
Ou… ou… ou…
Ah, a vida fabulosa da garota recém-solteira. A garota solteira comum , aparentemente.
Claro, eu não tinha me arrumado já que viria andando até aqui e trabalharia o dia todo. Calças de ioga e uma camiseta justa eram a melhor escolha. Eu já havia planejado levar todas as minhas peças executivas para revender em um bazar e conseguir um dinheiro para o aluguel.
Читать дальше