— Então, Mocha, qual é o plano? — perguntou John, sentando na cadeira ao meu lado. — Você vai apenas acampar aqui?
Pude ver que o cara estava realmente preocupado. Um completo estranho, preocupado com meu bem-estar. Não pude deixar de pensar que Jason não estaria neste momento pensando se eu estava bem, muito menos se preocuparia com uma estranha.
— Estou apenas tentando recuperar minhas forças para voltar para casa. Vai ser um exercício e tanto com estes saltos.
Ele olhou para mim, olhou para meus sapatos, olhou de volta para mim.
— Minha namorada chegará daqui a pouco se você quiser uma carona. Podemos deixá-la em sua casa, sem problemas.
A namorada dele. Óbvio. Mais uma prova de que todos os bons já foram tomados.
Mas, eu não era de olhar dente de cavalo dado, ou de uma carona.
— Isso seria excelente. Muito mesmo. — Eu olhei para a Garota Barista. — Eu não acho que você poderia dizer a ela que eu estava tendo um caso com sua namorada?
John sorriu. Era incrível como a diferença era sutil entre um sorriso verdadeiro e um sorriso desdenhoso. Era incrível como você pode ter pensado por anos que alguém estava sorrindo para você e então, de um só golpe, você começa a se perguntar se todos aqueles olhares significavam algo menos agradável.
Claro, o universo colocaria o perfeito anti-Jason na minha frente para questionar minha própria cegueira proposital.
— Não ligue para Abby. Ela está em um programa especial de trabalho e estudo para adolescentes. Ela está aprendendo gerenciamento em primeira mão.
— Este programa de estudo e trabalho envolveria checagem com o guardião todas as noites?
O sorriso vacilou. — Não exatamente.
Fiquei surpresa com o quão próximo da verdade eu cheguei com aquele chute.
— Bem, bom para ela. Ela está melhor do que eu.
— Ei, uma noite ruim não é o fim do mundo.
— Verdade. Mas é o combo desempregada-despejada-levar-um-fora que realmente mata uma garota.
— Ah.... Ai, novamente.
— Suponho que você não conheça um lugar para morar ótimo e barato que não precise que eu tenha, sabe, um trabalho, pertences ou um plano?
John se recostou, olhando ao redor enquanto pensava.
— Talvez. — Ele pegou o telefone e mandou uma mensagem para alguém. — Você pode passar aqui amanhã? Posso ter algo para você.
Devia ter feito uma cara tão chocada quanto me sentia, porque John se levantou e me deu o que só poderia ser chamado de um sorriso reconfortante.
— Aproveite o seu mocha. Relaxe. Sarah estará aqui mais tarde e nós cuidaremos de tudo amanhã.
Mais tarde, quando ergui os olhos de um dos livros de autoajuda usados que peguei, uma loira pequena e curvilínea estava com o braço em volta da cintura de John. Eu meio que esperava que ela me olhasse feio quando eles viessem em minha direção, mas em vez disso, seu sorriso se alargou.
— Ouvi dizer que você está tendo uma noite péssima.
Eu ri. Como não poderia? Ela era tão simpática quanto ele. Eles eram, aparentemente, um casal adorável.
— Sim. Bem isso… — Eu puxei meu casaco e peguei minha pequena bolsa. — Obrigada pela carona.
— Sem problemas. Acho que vou aproveitar para te levar para casa enquanto ele fecha — disse ela, pegando sua própria bolsa e caminhou até a porta da frente. — Espero que goste de receber ajuda. John é o Sr. Conserta-Tudo e agora que sabe que você está procurando um lugar, ele colocou seu chapéu de corretor de imóveis amador.
— Não posso discutir sobre o amadorismo de ninguém no momento.
— Ótimo. Só não o deixe pendurar nada em seu novo lar. — Ela pareceu incrivelmente inflexível sobre isso. Eu meio que me perguntei que tipo de arte John andava pendurando pela cidade.
Então, eu apenas sorri, porque quem era eu para julgar, afinal?
Talvez as coisas estivessem melhorando.
QUATRO
AS COISAS DEFINITIVAMENTE não estavam melhorando.
Na manhã seguinte, não apenas meu apartamento estava congelando, mas eu não tinha água quente. Algumas semanas atrás, o clima estava apenas friozinho. Mas, com o verão se transformando em outono, a noite agora estava congelante.
Parece que, faltando apenas um dia para o fim do meu contrato de locação, o prédio começaria a ter problemas. Liguei para o zelador do prédio e não fiquei surpresa quando deu direto na caixa de mensagem.
— Micah? É Kasey Lane do 304. Estou no meu apartamento e não tenho aquecimento ou água quente… Espere. — Eu olhei para o meu despertador. O pequeno ícone da bateria estava aceso. — Eu também não tenho eletricidade. O que exatamente está acontecendo aqui? Por favor, me liga.
Enrolei meu edredom verde-musgo em volta de mim, feliz por não ter doado ele ou minha cama, embora ela não “combinasse” com o apartamento de Jason, e me dirigi para a minha porta da frente.
O corredor do prédio estava agradável e quentinho e… iluminado. Isso não era um bom sinal.
Beth, a garota que mora do outro lado, abriu a porta e me pegou em pé no meio do corredor, o edredom puxado para cima em volta do meu nariz enquanto eu tentava me aquecer.
— Sem aquecimento ou água quente. — Olhe para mim. A garota do óbvio.
Ela se inclinou para olhar para o meu apartamento, como se o ar frio pudesse parecer diferente. — Sério? Está tudo bem aqui.
É claro.
Beth me deu um sorriso do tipo o-que-se-pode-fazer-quanto-a-isso e desceu as escadas. O que também não foi uma surpresa. Ela era o tipo de vizinha que passava para avisar que ela estava dando uma grande festa, só para que você soubesse do que se tratava o barulho, mas nunca para te convidar.
Apertei para rediscar e esperei pelo correio de voz de Micah.
— Sério, Micah. Por que meu apartamento é o único que parece uma geladeira? Favor ligar de volta. Estou apenas, você sabe, passando um tempo no corredor de pijama.
Uma porta no andar de cima se abriu e passos pesados cruzaram sobre minha cabeça em direção à escada. O cara, por quem Beth chamava a polícia o tempo todo por fazer o treino P90X depois das sete da manhã de um sábado, dobrou a esquina e parou no patamar.
— Trancada do lado de fora? — Ocorreu-me o quão ruim eu devia parecer antes de tomar meu banho, ou antes da dose de cafeína.
— Não.
— Só passando o tempo? — Ele abriu um sorriso.
E por que não deveria. Devo parecer ridícula. — Sem aquecimento, água quente ou eletricidade.
— Sério? — Ele olhou para a minha porta como se pudesse ver o problema através do painel frágil. — Escute, eu só estou correndo para pegar um café e bagels, mas minha namorada está aqui para passar o fim de semana. Por que você não pega suas coisas e vem tomar banho na minha casa. Ela não vai se importar.
Dan, que aparentemente era o nome do cara P90X, me acompanhou até o apartamento dele, me apresentou a sua namorada e se dirigiu para a porta.
Isso mostrou o quão baixo eu tinha afundado, que eu nem me importava se estava tomando banho no apartamento de um cara estranho. A namorada de Dan pegou uma toalha para mim e certificou-se de que eu tinha tudo de que precisava.
— Para sua sorte, ele sempre contrata uma diarista na semana anterior à minha visita. Tenho um medo mortal do que você poderia encontrar aqui caso contrário.
— Obrigada. — Tentei imaginar Dan, que sempre parecia incrivelmente arrumado, tendo um banheiro imundo. Simplesmente não fazia sentido.
Mas, quem era eu para tentar decifrar o namorado de outra pessoa quando nem mesmo consegui decifrar o meu?
Corri para o meu banho, não querendo interromper o tempo da Namorada do Dan. Além disso, eu tinha um encontro com o dono de uma cafeteria que esperava encontrar um teto para eu morar. Eu estava disposta até a implorar naquela altura.
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