"Há quanto tempo foi isso?"
Ele pensou sobre isso, ainda abalado pela notícia dois dos assassinatos. "Quatro anos, eu diria. Talvez mais perto de quatro e meio."
“Você se lembra de encontrar um homem chamado Kenneth Abel quando esteve lá? Ele também foi morto recentemente."
Novamente, ele parecia perdido em pensamento. Seus olhos pareciam quase congelados. "O nome não me parece familiar. Mas não significa que eu nunca tenha falado com ele enquanto eu estava por lá."
Mackenzie assentiu, ficando cada vez mais certa de que Robbie Huston estava longe de ser um assassino. Ela não poderia ter certeza, mas ela pensou ter visto os olhos dele reluzindo com lágrimas enquanto ela tomava um gole do café que ele havia lhe dado.
Não se pode ser cuidadosa demais, entretanto ela pensou.
“Sr. Huston, nós sabendo com certeza que a Sra. Ridgeway foi morta a oitocentos metros de distância do terreno do Wakeman, em algum momento entre sete e cinco e nove e quarenta e cinco da noite de terça-feira. Você tem algum tipo de álibi para esse período de tempo?"
Ela viu aquele olhar de busca pela terceira vez, mas então ele começou a acenar com a cabeça vagarosamente. "Eu estava aqui, no apartamento. Em uma chamada de conferência com três outros rapazes. Nós estamos iniciando essa pequena organizaçãozinha para ajudar os sem teto do centro da cidade e em outras cidades ao redor."
"Alguma prova?"
"Eu poderia mostrar a você onde eu fiz o login. Eu acho que um dos outros caras mantém anotações muito boas sobre as chamadas também. Terá todo tipo de tópicos de mensagens com horário, edições de anotações e coisas como essas." Ele já estava buscando seu notebook, sentando-se em uma mesa em frente a uma das largas janelas. “Aqui, eu posso mostrá-la se você quiser."
Agora ela estava certa de que Robbie Huston era inocente, mas ela queria levar a cabo. Dada a forma que as notícias o afetaram, ela também queria que Robbie sentisse que contribuiu com alguma coisa para o caso. Então ela assistiu por cima do ombro dele enquanto ele entrava no site da plataforma de conferência, fazia o login e abria o histórico dele, não apenas dos últimos dias, mas também das últimas várias semanas. Ela viu que ele esteve falando a verdade: ele participou de uma chamada de conferência e sessão de planejamento das 6:45 às 10:04 na noite de terça-feira.
O processo todo levou menos de cinco minutos para ele repassar, mostrar a ela as notas e edições e, também, quando fizera o login e saíra da chamada.
"Muito obrigado pela sua ajuda, Sr. Huston," ela disse.
Ele assentiu enquanto a acompanhava até a porta. "Duas pessoas cegas…" ele disse, tentando fazer sentido disso. "Por que alguém faria isso?"
"Eu mesma estou tentando descobrir isso," ela disse. "Por favor, me ligue se pensar em alguma coisa que possa ajudar," ela acrescentou, oferecendo um cartão a ele.
Ele o pegou, acenou um lento adeus e então fechou a porta quando ela saiu. Mackenzie quase sentia que ela acabara de dar a noticia dos assassinatos a membros da família, ao invés de um jovem rapaz de bom coração que parecia se importar genuinamente com ambos os falecidos.
Ela quase invejou isso… sentir remorso genuíno por estranhos. Ultimamente, ela estava vendo os mortos como nada mais que cadáveres─montes sem nome, repletos com vestígios em potencial.
Não era a melhor forma de viver a vida, ela sabia. Ela não podia deixar o trabalho liquidar seu senso de compaixão. Ou sua humanidade.
Mackenzie estacionou às 11:46 na frente do Lar para Cegos Treston, fazendo em melhor tempo do que o GPS havia estimado. Contudo, quando Mackenzie estacionou em frente do prédio, ela conferiu novamente o endereço que Clarke havia lhe dado. O lar parecia pequeno, não maior que a frente de uma loja comum. Era localizado distante no lado oeste da cidade de Treston, a qual, embora muito maior que Stateton, ainda não era muito do que se gabar. Enquanto a cidade estava muitos passos a frente da morbidez rural de Stateton, se vangloriava apenas com dois semáforos. A única coisa que a tornava pelo menos um pouco urbana era o McDonald's à margem da Main Street.
Confiante de que estava com o endereço certo—o que foi reforçado pela placa em ruínas que ficava na frente da propriedade—Mackenzie saiu do seu carro e caminhou pela calçada rachada. A porta da frente era separada da calçada por apenas três degraus de concreto que pareciam não ser varridos em anos.
Ela entrou, pisando no que servia como saguão e área de espera. Uma mulher estava sentada atrás de um balcão ao longo da parede frontal, falando ao telefone. A parede atrás dela era pintada por um surpreendente tom de branco. Um quadro branco à esquerda dela continha um punhado de anotações. Fora isso, a parede era nua e inexpressiva.
Mackenzie teve que caminhar até o balcão e ficar ali, pressionada contra ele e fazendo seu melhor para sugerir que ela precisava de assistência. A mulher atrás do balcão parecia terrivelmente irritada com isso e terminou a chamada relutantemente. Ela finalmente olhou acima para Mackenzie e perguntou: "Posso ajudá-la?"
"Estou aqui para falar com o gerente," ela disse.
"E você é?"
“Agente Mackenzie White, do FBI.”
A mulher parou por um momento, como se não acreditasse em Mackenzie. Dessa vez foi a vez de Mackenzie de dar um olhar irritado. Ela mostrou seu distintivo e assistiu enquanto a mulher entrou em ação repentinamente. Ela pegou o telefone, pressionou uma extensão e falou brevemente com alguém. Ela evitou contato visual com Mackenzie o tempo inteiro.
Quando a mulher terminou, ela finalmente olhou acima de volta para Mackenzie. Estava claro que ela estava envergonhada, mas Mackenzie fez o seu melhor para não gozar muito disso.
"A Sra. Talbot a verá em um instante," a moça disse. “Se dirija para trás. O escritório dela é o primeiro que aparecerá."
Mackenzie andou pela única outra porta no lobby e entrou em um corredor. O corredor era bem curto, contendo apenas três portas. No final dele, um conjunto de portas duplas estava fechado. Ela assumiu que as acomodações ficavam atrás dessas portas e esperou que os quartos estivessem em melhor condição que o restante da construção.
Ela se aproximou do primeiro cômodo ao longo do corredor. A placa com nome ficava juntamente ao lado do portal e se lia Gloria Talbot. A porta estava parcialmente aberta, mas mesmo assim Mackenzie bateu. A porta foi atendida imediatamente por uma mulher com sobrepeso que vestia um grosso par de óculos bifocais.
“Agente White, por favor, entre,” disse Talbot.
Mackenzie fez como lhe foi solicitado, tomando o único assento que ficava do lado oposto da pequena e bagunçada mesa.
"Eu vou assumir que isso se trata do assassinato de Kenneth Able?" perguntou Talbot.
"Sim senhora," disse Mackenzie. "Nós temos outro assassinato em uma cidade a cerca de duas horas e meia ao sul daqui. Outra pessoa cega—um membro de um lar para cegos."
“Duas horas e meia de distância?" perguntou Talbot. “Deve ser o Lar para Cegos Wakeman, certo?”
“É. E a maneiro pela qual a vítima foi morta parece ser idêntica a Kenneth Able. Eu estava esperando que você pudesse me mostrar o lar, incluindo o closet onde o corpo dele foi encontrado."
"Absolutamente," disse Talbot. "Venha comigo."
Talbot a levou de volta para fora no corredor e então através das portas duplas que Mackenzie havia visto no seu caminho até o escritório de Talbot. Elas adentraram um amplo espaço aberto que se esgotava no que parecia ser um tipo de sala comum. Dentro desse espaço aberto, Mackenzie contou oito quartos.
"Estes," disse Talbot, "são os quartos nos quais os residentes ficam. Diferentemente do Wakeman, nós não temos acomodações modernas estilosas."
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