Фернандо Пессоа - Livro do Desassossego

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Tudo vem de fora e a mesma alma humana não é porventura mais que o raio de sol que brilha e isola do chão onde jaz o monte de estrume que é o corpo.

Nestas considerações está porventura toda uma filosofia, para quem pudesse ter a força de tirar conclusões. Não a tenho eu, surgem-me atentos pensamentos vagos, de possibilidades lógicas, e tudo se me esbate numa visão de um raio de sol dourando estrume como palha escura humidamente amachucada, no chão quase negro ao pé de um muro de pedregulhos.

Assim sou. Quando quero pensar, vejo. Quando quero descer na minha alma, fico de repente parado, esquecido, no começo do espiral da escada profunda, vendo pela janela do andar alto o sol que molha de despedida fulva o aglomerado difuso dos telhados.

59.

Cada vez que o meu propósito se ergueu, por influência dos meus sonhos, acima do nível quotidiano da minha vida, e um momento me senti alto, como a criança num balouço, cada vez dessas tive que descer como ela ao jardim municipal, e conhecer a minha derrota sem bandeiras levadas para a guerra nem espada que houvesse força para desembainhar.

Suponho que a maioria daqueles, com que cruzo no acaso das ruas, traz consigo — noto-lho no movimento silencioso dos beiços e na indecisão indistinta dos olhos ou no altear da voz com que rezam juntos – uma igual projeção para a guerra inútil do exército sem pendões. E todos — viro-me para trás a contemplar os seus dorsos de vencidos pobres — terão, como eu, a grande derrota vil, entre os limos e os juncos, sem luar sobre as margens nem poesia de pauis, miserável e marçana.

Todos têm, como eu, um coração exaltado e triste. Conheço-os bem: uns são moços de lojas, outros são empregados de escritório, outros são comerciantes de pequenos comércios; outros são os vencedores dos cafés e das tascas, gloriosos sem saberem no êxtase da palavra egotista, a contento no silêncio do egotismo avaro sem ter que guardar. Mas todos, coitados, são poetas, e arrastam, aos meus olhos, como eu aos olhos deles, a igual miséria da nossa comum incongruência. Têm todos, como eu, o futuro no passado.

Agora mesmo, que estou inerte no escritório, e foram todos almoçar salvo eu, fito, através da janela baça, o velho oscilante que percorre lentamente o passeio do outro lado da rua. Não vai bêbado; vai sonhador. Está atento ao inexistente; talvez ainda espere. Os Deuses, se são justos na sua injustiça, nos conservem os sonhos ainda quando sejam impossíveis, e nos deem bons sonhos, ainda que sejam baixos. Hoje, que não sou velho ainda, posso sonhar com ilhas do Sul e com Índias impossíveis; amanhã talvez me seja dado, pelos mesmos Deuses, o sonho de ser dono de uma tabacaria pequena, ou reformado numa casa dos arredores. Qualquer dos sonhos é o mesmo sonho, porque são todos sonhos. Mudem-me os deuses os sonhos, mas não o dom de sonhar.

No intervalo de pensar isto, o velho saiu-me da atenção. Já o não vejo. Abro a janela para o ver. Não o vejo ainda . Saiu. Teve, para comigo, o dever visual de símbolo; acabou e virou a esquina. Se me disserem que virou a esquina absoluta, e nunca esteve aqui, aceitarei com o mesmo gesto com que fecho a janela agora.

Conseguir?...

Pobres semideuses marçanos que ganham impérios com a palavra e a intenção nobre e têm necessidade de dinheiro com o quarto e a comida!

Parecem as tropas de um exército desertado cujos chefes tivessem um sonho de glória, de que a estes, perdidos entre os limos de pauis, fica só a noção de grandeza, a consciência de ter sido do exército, e o vácuo de nem ter sabido o que fazia o chefe que nunca viram.

Assim cada um se sonha, um momento, o chefe do exército de cuja cauda fugiu. Assim cada um, entre a lama dos ribeiros, saúda a vitória que ninguém pôde ter, e de que ficou como migalhas entre nódoas na toalha que se esqueceram de sacudir.

Enchem os interstícios da ação quotidiana como o pó os interstícios dos móveis quando não são limpos com cuidado. Na luz vulgar do dia comum vêem-se a luzir como vermes cinzentos contra o mogno avermelhado. Tiram-se com um prego pequeno. Mas ninguém tem paciência para os tirar.

Os meus pobres companheiros que sonham alto, como os invejo e desprezos!

Comigo estão os outros — os mais pobres, os que não têm senão a si mesmos a quem contar os sonhos e fazer o que seriam versos se eles os escrevessem — os pobres diabos sem mais literatura que a própria alma, sem ouvirem bem da crítica, que morrem asfixiados pelo facto de existirem sem terem feito aquele desconhecido exame transcendente que habilita a viver.

Uns são heróis e prostram cinco homens a uma esquina de ontem. Outros são sedutores e até as mulheres inexistentes lhes não ousaram resistir. Creem isto quando o dizem, talvez o digam para que o creiam. Outros para todos eles os vencidos do mundo, quem quer que sejam, são gente.

E todos como enguias num alguidar, se enrolam entre eles e se cruzam uns acima dos outros e nem saem do alguidar. As vezes falam deles os jornais. Os jornais falam d’alguns mais do que algumas vezes — mas a fama nunca.

Esses são os felizes porque lhes é dado o sonho mentido da estupidez.

Mas aos que, como eu, têm sonhos sem ilusões

60.

Intervalo doloroso

Se me perguntardes se sou feliz, responder-vos-ei que o não sou.

61.

É nobre ser tímido, ilustre não saber agir, grande não ter jeito para viver.

Só o Tédio, que é um afastamento, e a Arte, que é um desdém, douram de uma semelhança de contentamento a nossa.

Fogos-fátuos que a nossa podridão geral, são ao menos luz nas nossas trevas.

Só a infelicidade elementar e o tédio puro das infelicidades contínuas, é heráldico como o são descendentes de heróis longínquos.

Sou um poço de gestos que nem em mim se esboçaram todos, de palavras que nem pensei pondo curvas nos meus lábios, de sonhos que me esqueci de sonhar até ao fim.

Sou ruínas de edifícios que nunca foram mais do que essas ruínas, que alguém se fartou, no meio de construí-las, de pensar em que construía.

Não nos esqueçamos de odiar os que gozam porque gozam, de desprezar os que são alegres, porque não soubemos ser, nós, alegres como eles... Esse sonho falso, esse ódio fraco não é senão o pedestal tosco e sujo da terra em que se finca e sobre o qual, altiva e única, a estátua do nosso Tédio se ergue, escuro vulto cuja face um sorriso impenetrável nimba vagamente de segredo.

Benditos os que não confiam a vida a ninguém.

62.

Tenho a náusea física da humanidade vulgar, que é, aliás, a única que há. E capricho, às vezes, em aprofundar essa náusea, como se pode provocar um vómito para aliviar a vontade de vomitar.

Um dos meus passeios prediletos, nas manhãs em que temo a banalidade do dia que vai seguir como quem teme a cadeia, é o de seguir lentamente pelas ruas fora, antes da abertura das lojas e dos armazéns, e ouvir os farrapos de frases que os grupos de raparigas, de rapazes, e de uns com outras, deixam cair, como esmolas da ironia, na escola invisível da minha meditação aberta.

E é sempre a mesma sucessão das mesmas frases... ("E então ela disse..." e o tom diz da intriga dela. "Se não foi ele, foste tu... " e a voz que responde ergue-se no protesto que já não oiço. "Disseste, sim senhor, disseste..." e a voz da costureira afirma estridentemente "A minha mãe diz que não quer... "

"Eu?" e o pasmo do rapaz que traz o lunch embrulhado em papel-manteiga não me convence, nem deve convencer a loura suja. "Se calhar era. . . " e o riso de três das quatro raparigas cerca do meu ouvido a obscenidade que... "E então pus-me mesmo diante do gajo, e ali mesmo na cara dele — na cara dele, hein, ó Zé. .." e o pobre diabo mente, pois o chefe do escritório — sei pela voz que o outro contendor era chefe do escritório que desconheço – não lhe recebeu na arena entre as secretárias o gesto de gladiador de palhinhas. "... E então eu fui fumar para a retrete..." ri o pequeno de fundilhos escuros. Outros, que passam sós ou juntos, não falam, ou falam e eu não oiço, mas as vozes todas são-me claras por uma transparência intuitiva e rota. Não ouso dizer — não ouso dizê-lo a mim mesmo em escrita, ainda que logo a cortasse — o que tenho visto nos olhares casuais, na sua direção involuntária e baixa, nos seus atravessamentos sujos. Não ouso porque, quando se provoca o vómito, é preciso provocar só um.

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