“O que você acha—deveríamos chamar o DP de Culver City para nos dar apoio?” Perguntou Ray. “Tecnicamente, estamos fora da nossa jurisdição.”
“Não. Vai levar muito tempo e eu quero ser discreta, entrar e sair numa boa. Quanto mais formal for a maneira de lidarmos com isso, mais tempo vai demorar. Se algo aconteceu com a Sarah, não temos tempo a perder.”
“Ok, então vamos lá,” disse ele.
Eles saíram do carro e caminharam rapidamente para o endereço que Mariela Caldwell lhes deu. Lanie vivia na frente de uma casa Geminada em Corinth, ao sul de Culver Boulevard. A Rodovia 405 estava tão perto que Keri conseguia ver a cor do cabelo dos motoristas que passavam.
Quando Ray bateu na porta metálica exterior, Keri viu duas casas depois cinco homens reunidos em torno do motor de um Corvette na entrada da garagem. Vários deles lançaram olhares desconfiados para eles, como se fossem intrusos, mas ninguém disse nada.
O som de várias crianças gritando veio de lá de dentro. Depois de um minuto, a porta interna foi aberta por um pequeno menino loiro que não tinha mais do que cinco anos. Ele usava um jeans rasgado e uma camiseta branca com o símbolo do Superman “S” rabiscado nela.
Ele olhou para Ray, o pescoço dele ficou todo esticado. Então ele olhou para Keri e, aparentemente, viu ela como menos ameaçadora, e falou.
“O que você quer, senhora?”
Keri sentiu que a criança não teve doçura e luz em sua vida, então ela se ajoelhou para ficar no mesmo nível que ele e falou o mais suave que pôde.
“Nós somos policiais. Precisamos falar com a sua mãe por um minuto.”
O garoto, imperturbável, virou-se e gritou lá dentro da casa.
"Mamãe. Policiais estão aqui. Querem falar com você.” Aparentemente, esta não era a primeira vez que ele recebia a visita de profissionais da lei.
Keri viu o Ray olhando para os caras ao redor do Corvette e sem olhar para a cena, perguntou-lhe baixinho: “Temos um problema lá?”
“Ainda não,” Ray respondeu baixinho. “Mas poderíamos ter em breve. Devemos fazer isso
rápido.”
“Qual tipo de policiais são vocês?” O menino perguntou. “Não têm uniformes. À paisana? Vocês são detetives?”
“Detetives,” Ray disse a ele e, aparentemente, decidiu que o menino não precisava ser mimado, ele fez a sua própria pergunta. “Quando foi a última vez que viu a Lanie?”
“Ah, Lanie está em apuros novamente,” disse ele, com um sorriso alegre consumindo seu rosto. “Que novidade. Ela saiu na hora do almoço para ver seu amiguinho. Eu acho que ela estava esperando levar alguma vantagem. Não ponho as mãos no fogo por ela.”
Só então uma mulher vestindo calças de moletom e uma blusa pesada de moletom cinza que dizia ‘Keep Walking’ apareceu no final do corredor. Quando ela se arrastou em direção a eles Keri a observou. Ela tinha praticamente a mesma altura de Keri mas pesava bem mais de 90 quilos.
Sua pele pálida parecia fundir-se com a roupa cinzenta, tornando-se impossível dizer claramente onde uma terminava e a outra começava. Seu cabelo, loiro acinzentado, estava preso em um coque frouxo que estava prestes a desmanchar completamente.
Keri achava que ela tinha menos do que quarenta anos, mas seu rosto exausto e desgastado poderia ser de uma pessoa de cinquenta anos.
Ela tinha bolsas sob os olhos e seu rosto inchado estava salpicado de manchas vermelhas, possivelmente causadas pelo álcool. Estava claro que ela já tinha sido bastante atraente, mas o peso da vida parecia ter drenado ela e só se podia ver resquícios de beleza agora.
“O que ela fez agora?” Perguntou a mulher, ainda menos surpresa do que o seu filho por ver a polícia em sua porta.
“Você é a Sra. Joseph?” Perguntou Keri.
“Eu não tenho sido a Sra. Joseph por sete anos. Foi quando o Sr. Joseph me deixou para ficar com um uma massagista chamada Kayley. Agora eu sou a Sra. Hart, embora o Sr. Hart tenha desaparecido sem dar sequer adeus há cerca de 18 meses. Mas dá problema demais mudar o nome novamente, então estou presa nisso por enquanto."
“Então, você é a mãe de Lanie Joseph,” Ray disse, tentando fazê-la ir na direção certa. “Mas o seu nome é...?”
“Joanie Hart. Eu sou a mãe de cinco diabinhos, incluindo aquele que estava aqui. Então, o que exatamente ela fez desta vez?
“Não temos certeza de que ela fez alguma coisa, Sra. Hart,” Keri garantiu isso não querendo criar conflitos desnecessários com uma mulher que estava claramente confortável nessa posição. “Mas os pais da amiga dela, Sarah Caldwell, não conseguem falar com a filha e estão preocupados. Você falou com a Lanie desde meio-dia hoje?”
Joanie Hart olhou para ela como se fosse de outro planeta.
“Eu não fico de olho na menina desse jeito,” disse ela. “Eu trabalhei durante todo o dia; as lojas de conveniência não fecham só porque ontem foi dia de Ação de Graças, sabia?
Eu só voltei cerca de meia hora atrás. Então, eu não sei onde ela está. Mas isso não é nada especial. Ela fica fora boa parte do seu tempo e nunca me diz onde está indo. Aquela ali gosta de guardar segredos. Eu acho que ela tem um cara e não quer que eu fique sabendo.”
“Ela já mencionou o nome desse cara?”
“Como eu disse, eu não sei mesmo se ele existe. Eu só estou dizendo que eu não duvido que ela faça isso. Ela gosta de fazer coisas para me irritar. Mas eu estou muito cansada ou ocupada para ficar com raiva, aí quem fica irritada é ela. Você sabe como é isso,” disse ela, olhando para Keri, que não tinha ideia de como era isso.
Keri sentiu uma raiva crescente por aquela mulher que parecia não saber ou se importar por onde sua filha estava. Joanie não perguntou sobre seu bem-estar ou expressou qualquer preocupação. Ray pareceu perceber como ela estava se sentindo e falou antes que ela pudesse abrir a boca.
“Podemos pegar o número de telefone de Lanie e uma foto recente dela, por favor?” Ele perguntou.
Joanie parecia que iria dar a informação, mas não deu.
“Um segundo,” ela disse e andou de volta pelo corredor.
Keri olhou para Ray, que balançou a cabeça sentindo um desgosto compartilhado.
“Você se importaria se eu esperasse no carro?” Disse Keri. “Eu estou preocupada, corro o risco de dizer uma coisa... improdutiva para a Joanie.”
“Vá em frente. Eu fico. Talvez você possa chamar o Edgerton e ver se ele consegue hackear e acessar as contas de mídia social.”
“Raymond Sands, puxa,” disse ela, redescobrindo um pouco de seu senso de humor. “Você parece estar adotando alguns dos meus métodos mais questionáveis de aplicação da lei. Eu acho que gosto disso.”
Ela se virou e se afastou antes que ele pudesse responder. Com o canto do olho, ela viu que os homens duas portas estavam todos olhando para ela. Ela fechou o zíper de sua jaqueta, subitamente consciente do frio. O fim de novembro em Los Angeles era bastante inofensivo, mas como o sol se foi, a temperatura estava abaixo dos 10 ºC. E todos aqueles olhos nela adicionaram um arrepio extra.
Quando ela chegou ao carro, ela virou-se e inclinou-se com as costas contra o banco para que ela pudesse manter uma boa visão de ambos, da casa de Lanie e de seus vizinhos, enquanto ela discava o número de Edgerton.
“Edgerton falando,” veio a voz entusiástica de Kevin Edgerton, o mais jovem detetive da unidade. Ele tinha apenas vinte e oito anos, mas o garoto alto e magro era um gênio da tecnologia responsável por desvendar muitos casos.
Na verdade, ele contribuiu para ajudar Keri a entrar em contato com o Colecionador enquanto a identidade dela estava protegida. Keri imaginou que agora, ele estava escovando a sua franja castanha para longe de seus olhos. Por que ele não deixa o cabelo de qualquer jeito, o estilo de corte de cabelo dele estava além do que ela podia compreender, assim como a maioria de suas habilidades técnicas.
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