“O que você acha?” Daniel disse, levantando uma sobrancelha. “Ela usou Chantelle novamente, dizendo que só viria para o casamento se prometêssemos deixá-la passar um tempo regularmente com a neta. Queria que percebesse que força destrutiva ela pode ser e compreendesse por que não quero que tenha contato com minha filha. Não enquanto ainda estiver bebendo tanto. Chantelle precisa estar junto de adultos sóbrios depois do que viveu com sua própria mãe”. Ele desabou na borda da cama. “Mas ela não consegue entender. Não entende. 'Todo mundo bebe', é o que ela sempre diz. 'Não sou pior do que ninguém'. Talvez não, mas não é do que Chantelle precisa. Se se importasse com a neta o tanto que diz se importar, deixaria de beber para o bem dela”.
Emily subiu na cama atrás dele e massageou seus ombros tensos. Daniel relaxou sob o toque suave. Ela o beijou no pescoço.
“Também acabei de ligar para minha mãe”, falou.
Daniel virou-se para ela, surpresa. “Ligou? E como foi?”
“Terrível”, Emily disse, e de repente, desatou a rir. Havia algo sombriamente cômico naquilo tudo.
Vê-la se dissolver em riso fez Daniel começar a rir também. Logo, ambos estavam rindo histericamente, compartilhando suas misérias um com o outro, conectados naquele momento e emergindo dele juntos.
“Estava pensando”, Daniel disse, assim que parou de rir. “Lembra-se de quando Gus veio se hospedar aqui?”
“Sim, é claro”, Emily replicou. O cavalheiro idoso havia sido o primeiro hóspede de verdade da pousada. Graças a ele e seus amigos, ela havia salvo a propriedade da falência iminente. Ele também foi uma das pessoas mais encantadoras que Emily já teve o privilégio de conhecer. “Como poderia me esquecer de Gus? Mas o que tem ele?”
Daniel brincava relaxadamente com a manga da camisa dela. “Lembra daquela festa que ele foi, em Aubrey? Na prefeitura?”
Emily assentiu, franzindo o cenho e se perguntando por que Daniel estava falando daquilo.
“Já esteve lá?” Daniel perguntou.
Emily ficou cada vez mais curiosa. “Em Aubrey? Ou na prefeitura?” Então, ela riu. “Na verdade, nunca estive em nenhum dos dois”.
Daniel parou, subitamente em silêncio. Emily esperou pacientemente.
“A prefeitura realiza casamentos”, ele disse, finalmente tocando no assunto. “Estava pensando... a gente podia agendar um horário, ou não sei como eles chamam... com o pessoal que planeja a recepção? Quer dizer, se você preferir casar no Maine, ao invés de em Nova York”.
Dizer que ela estava chocada era pouco! Ouvir Daniel sugerir algo a ver com a organização do casamento sem ela ter que pressioná-lo era um alívio imenso.
“Sim, quero me casar no Maine”, Emily balbuciou. “Sinto-me mais em casa aqui do que jamais me senti em Nova York. E tenho mais amigos aqui. Não quero fazer todo mundo viajar até lá só por causa da tradição”.
“Legal”, Daniel replicou, desviando o olhar, tímido.
“Quando está pensando em ir?” Emily perguntou.
“Poderíamos ir no final de semana que vem”, Daniel sugeriu, ainda tímido. “E levar Chantelle. Ela iria adorar”.
Próximo final de semana? Emily teve vontade de gritar. Já?
Sentiu-se cada vez mais animada. O que havia acontecido com seu noivo relutante? O que havia subitamente mudado o coração dele? Talvez, os alertas de Jayne fossem completamente infundados, afinal. Daniel queria se casar tanto quanto ela. Tinha sido uma idiota por duvidar dele.
Mas, no instante seguinte, seus pensamentos mudaram de direção. Ela se perguntou se as ligações terríveis para suas mães tiveram algo a ver com o súbito interesse de Daniel. Ele havia sido motivado pelo ceticismo de Patricia, querendo provar a si mesmo como honrado, e que suas intenções eram sérias? Ou pior, estava apenas sugerindo aquilo para animar Emily, como uma maneira de acalmá-la um pouco?
Depois de concordar em marcar uma reunião para o próximo sábado, foram dormir. Daniel adormeceu rapidamente. Mas, com as preocupações perturbando sua mente, Emily lutou por muito tempo até conseguir repousar naquela noite.
Serena chegou na pousada bem cedo na manhã de sábado, com os braços cheios de revistas.
“A árvore está linda”, ela disse, olhando para a enorme árvore de Natal.
“Para que estas revistas?” Emily perguntou, de trás da mesa da recepção.
Serena foi até ela e deixou as revistas caírem sobre o balcão, na frente de Emily. Eram edições especiais de casamento.
“Ah”, Emily falou, um pouco surpresa. Estava noiva há uma semana inteira e ainda não tinha folheado nenhuma revista.
“Achei que precisasse de um pouco de inspiração”, Serena disse.
Emily folheou uma delas, indiferente. “Na verdade, Chantelle fez uma lista das coisas que temos que fazer. O item número um é escolher o lugar”.
Serena riu. “Sim, ela me mostrou. Adoro ver como está envolvida em tudo isso. Já tem algum lugar em mente?”
Emily sorriu. “Na verdade, temos uma reunião marcada daqui a uma hora”.
“Verdade?” Serena disse, os olhos arregalados de animação.
Pela primeira vez desde o pedido, Emily sentiu-se alegre ao pensar na organização do casamento, e em entrar na igreja.
“É em Aubrey”, ela continuou. “Foi sugestão de Daniel, aquela prefeitura sobre a qual Gus e seus amigos não paravam de falar a respeito”.
Nesse momento, ouviu o som dos passos de Daniel descendo a escada, e virou-se para vê-lo. Estava usando sua melhor camisa xadrez e até penteou o cabelo para trás. Emily sorriu, satisfeita ao ver que ele pelo menos tinha se esforçado um pouco. Serena levantou a sobrancelha, rindo em aprovação.
“Chantelle está só escolhendo a roupa”, Daniel disse, ao chegar no último degrau.
Emily notou o olhar dele cair na revista de capa brilhosa nas mãos dela. Estava aberta numa matéria sobre lindos vestidos de casamento. Emily não podia ter certeza, mas achou ver um traço de surpresa nos olhos de Daniel, e se perguntou o que significava. Ele não havia pensado num casamento de branco, em que ela usasse um típico vestido com véu, e ele a aguardasse vestido num terno preto? Será que pensou apenas que se casariam com o jeans e camisetas de todo dia? Ela fechou a revista, com uma súbita irritação.
Um momento depois, Chantelle apareceu no topo das escadas. Estava usando um de seus vestidos mais chiques, meias brancas e sapatos tipo bonequinha, de verniz. Parecia feita de porcelana. Emily estava feliz ao ver o quanto o casamento era importante para Chantelle. Pelo menos alguém estava entrando no espírito das coisas.
Emily pegou sua bolsa e jaqueta e, deixando a pousada nas mãos capazes de Serena, levou sua família até a caminhonete.
“Está animada para ver o local?” Emily perguntou a Chantelle, olhando pelo retrovisor para a menina, no banco traseiro.
“Sim!” Chantelle exclamou. “E para experimentar o bufê!”
Emily havia esquecido completamente da degustação. Talvez nem conseguisse experimentar alguma coisa; estava tão nervosa com sua primeira reunião com um organizador de casamentos de verdade que chegava a sentir enjoo.
Após a viagem de vinte minutos até Aubrey, chegaram no local. Chantelle parecia a mais tranquila de todos no carro. A menina subiu os degraus de pedra saltitando, alegremente admirada com as cestas de flores pendentes e com os vitrais nas janelas. Emily achou o lugar lindo do lado de fora; era um prédio antigo e de aparência clássica. Havia grandes faixas de grama circundando o prédio, com macieiras que ficariam adoráveis nas fotos do casamento.
Eles foram saudados na porta por uma jovem bem vestida chamada Laura. Ela os levou para dentro.
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