Serena franziu o cenho. Então, estreitou os olhos, desconfiada, e um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. Claramente, percebeu que eles estavam escondendo algo.
“Humm”, ela disse, caminhando lentamente até eles, como uma detetive. “Neve em sua mão. Areia no seu jeans. Meu palpite é que estavam na praia”. Ela deu uma batidinha no queixo. “Mas, por quê?” Parou por um momento, e então um brilho de compreensão passou pelos seus olhos. Sem fôlego, ela agarrou a mão esquerda de Emily, procurando pela confirmação do pensamento que lhe ocorrera. Ao ver o anel, seus olhos se arregalaram e seu queixo caiu.
“Ai. Meu. Deus! Vocês estão noivos!”
Emily sentiu o rosto corar. Era a primeira vez que ouvia alguém dizer a palavra “noivos” em relação a ela e parecia tão estranho. Todos aqueles anos desejando e sonhando com isso, e ela finalmente estava ali, naquele estado abstrato de “noivado”.
Ela assentiu rapidamente. Serena deu um grito e abraçou os dois desajeitadamente, numa mistura de cotovelos e braços.
“Sou a primeira pessoa a saber?” perguntou ao soltá-los, com uma voz cada vez mais animada.
“Sim”, Daniel confirmou. “Mas poderia chamar Chantelle? Quero que ela saiba antes dos outros”.
“É claro!” Serena exclamou.
Com um olhar de adoração, ela admirou mais uma vez o anel antes de se afastar, quase saltitante. Emily deixou escapar um som que era algo entre uma risada de nervosismo e um gemido envergonhado.
Daniel apertou sua mão para tranquilizá-la. Parecia que ele estava ao mesmo tempo parabenizando-a por ter sobrevivido à reação de uma pessoa, como também animando-a para sua próxima revelação, muito mais importante.
Emily respirou fundo. Seu coração estava a mil por hora. Era agora. O grande momento.
O barulho da festa ficou muito mais alto quando a porta da sala de jantar se abriu um pouco. O rosto de Chantelle apareceu, espiando ao redor timidamente. Emily ouviu a voz de Serena do outro lado, encorajando a menina a entrar no corredor.
“Vá, não tenha medo!”
Chantelle saiu do cômodo e Serena fechou a porta atrás dela, abafando a alegria dos convidados mais uma vez. Emily achou a quietude subitamente sufocante.
A menina estava de pé no final do corredor, parecendo aterrorizada. Na outra ponta estavam Emily e Daniel, tão nervosos quanto. Emily fez sinal para a criança e ela foi rapidamente até eles.
“Fiz algo errado?” ela disse, com sua vozinha trêmula. “Serena disse que vocês queriam falar comigo”.
“Deus do céu, não!” Emily exclamou. Aproximou-se de Chantelle e a puxou num abraço apertado. “Você não fez nada de errado!” Ela acariciou o cabelo loiro da menina. “É só que seu pai e eu queremos contar uma coisa. Nada de ruim”.
Chantelle saiu do abraço e franziu o cenho para Emily, os olhos azuis traindo seu ceticismo. Tinha apenas sete anos, mas já aprendera a suspeitar e a não confiar nos adultos.
“Vão me mandar de volta para o Tennessee?” Chantelle disse abruptamente, levantando o queixo com uma falsa indiferença.
“Não!” Daniel exclamou, sacudindo a cabeça. Se não fosse tão triste, seria cômico. Procurando eliminar a angústia de Chantelle o mais rápido possível, Daniel se acocorou para ficar no mesmo nível do olhar da filha, pegou suas mãos e então, respirando fundo, exclamou: “Emily e eu vamos nos casar”.
Houve um momento de hesitação enquanto Chantelle absorvia a novidade. Então, o medo se dissolveu de seu rosto e seus olhos se arregalaram com a surpresa. Ela sorriu.
“Verdade?” quase gritou, olhando para os dois, maravilhada.
“Sim, verdade”, Emily disse.
Ela mostrou sua mão, para que a menina pudesse ver o anel. Os olhos de Chantelle se arregalaram ainda mais ao olhar, perplexa, para o lindo anel. A menina segurou firme a mão de Emily.
“Eu pensei...” ela balbuciou. “Pensei que estavam se livrando de mim. Mas, na verdade, se tornou realidade”.
“O que se tornou realidade?” Emily perguntou, curiosa.
“Meu desejo de Ação de Graças”, Chantelle disse. Ela ainda estava segurando a mão de Emily, e apertou-a ainda mais. “Desejei que vocês se casassem, para que fôssemos uma família para sempre”.
Ao som da revelação tão sincera de Chantelle, um nó se formou na garganta de Emily. Olhou para Daniel. Pela expressão no rosto dele, podia dizer que seu coração estava se derretendo, assim como o dela.
Naquele momento, Emily se sentiu mais abençoada do que nunca. De algum modo, os planetas tinham se alinhado e lhe enviaram Daniel para amá-la e Chantelle para lhe ensinar sobre humildade. Tudo estava no lugar.
“Posso contar a todo mundo?” Chantelle perguntou de repente.
“Quer dizer todo mundo lá dentro?” Emily perguntou, apontando para a porta da sala de jantar, de onde vinha o som de risos e de conversa.
“Sim. Se não se importarem, ou vocês mesmos querem contar a novidade?”
“Você pode contar!” Emily exclamou, aliviada por não ter que fazer isso.
“Posso contar agora mesmo?” Chantelle perguntou, saltitando.
Emily sorriu. A reação da menina a deixou mais do que pronta para este momento. Ver a animação e alegria dela havia acalmado Emily completamente. Desde que Chantelle estivesse feliz, as reações de outras pessoas não importavam tanto!
“Agora mesmo, neste instante”, Emily repetiu.
Ao ouvir isso, Chantelle deu um grito de alegria e saiu correndo. Foi tão rápida que Daniel e Emily tiveram que se apressar para acompanhá-la. A menina entrou na sala de jantar de forma tão abrupta que todo mundo se virou com a surpresa. Chantelle gritou com todo o ar de seus pulmões:
“Eles vão se casar! Eles vão se casar!”
Na porta, Emily e Daniel se prepararam para lidar com os segundos de choque enquanto as pessoas compreendiam o que a menina estava gritando.
Então, observaram as expressões de surpresa nos rostos de seus amigos e vizinhos: da expressão exagerada de assombro de Cynthia, até o gesto nervoso de Vanessa, que levou a mão à boca.
Os convidados começaram a sorrir. Yvonne e Kieran, Suzanna e Wesley, todas as pessoas que eles passaram a amar e a chamar de amigos começaram a bater palmas.
“Parabéns!” Yvonne gritou, a primeira a correr até Emily e abraçá-la.
Kieran veio logo atrás. Ele apertou a mão de Daniel, e então abraçou Emily assim que Yvonne a soltou. Todo mundo se revezou, vindo até Daniel e Emily com abraços e beijos, votos de felicidade e exclamações de alegria. Emily sentiu o amor de sua comunidade envolvê-la. Nunca havia sentido tanto apoio. Com o que estava preocupada?
“Vamos fazer um brinde para o casal”, o prefeito Derek Hansen anunciou com sua voz forte.
As pessoas começaram a encher as taças de champanhe. Uma taça foi parar nas mãos de Emily. Ao seu lado, Serena encheu uma taça com refrigerante para Chantelle poder participar. Emily se viu tonta de tanta emoção, estava tomada por um senso de euforia. Parecia um sonho.
Então, todo mundo levantou suas taças, e a luz do lustre fez milhares de pontos de luz dançarem pelas paredes, chão e teto.
“À felicidade de Emily e Daniel”, o prefeito exclamou. Então, acrescentou para o noivo, “Um brinde à alegria de encontrar sua alma gêmea”, e, para Emily, “e à coragem de seguir os próprios sonhos”.
Todos comemoraram e brindaram, enquanto Emily enxugava as lágrimas.
Foi o melhor dia de Ação de Graças que ela já teve.
*
A festa se estendeu noite adentro. O senso de amizade e a alegria transbordavam, e Emily estava mais feliz do que achava ser possível, sem mencionar seu sentimento de gratidão. Mas, finalmente, a festa diminuiu o ritmo, os convidados foram deixando a pousada para sair na noite fria, e a casa ficou silenciosa.
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