Cristiano estava vestido em um dos seus elegantes ternos italianos, bonito, mas nem um pouco prático. Ele começou a esfregar seus braços. Ela os esfregou também, tentando aquecê-lo através do tecido fino.
– Só nesta época do ano – ela respondeu. – Temos que comprar um casaco melhor para você. – Ela gesticulou para a rua com a loja de roupas mais próxima. Era uma grande loja vendendo o fim da coleção a preços reduzidos. – Podemos achar algo para você aqui.
Pela expressão de Cristiano, Keira podia dizer que ele não estava nada impressionado com a escolha dela!
– Prefiro esperar e encontrar uma loja mais apropriada – ele explicou. – Eu posso aguentar o frio mais um pouco.
– Você prefere congelar a parecer fora de moda, mesmo que temporariamente? – ela zombou dele.
– É claro – Cristiano respondeu, com um sorriso maroto.
Mas a palavras mal haviam saído de sua boca quando uma grande rajada de vento gélido de novembro passou por eles. Keira estremeceu, se abraçando com força, e olhou para Cristiano.
– Coitadinho – ela disse, rindo. – Você não está mais na Itália!
Cristiano cedeu rapidamente e ela o conduziu para a loja bem iluminada. Ele examinou os cabides cheios de jaquetas quebra-vento de cores gritantes, aparentemente, sem gostar de nenhuma. Lá se foram os dias de comprar roupas finas de designers italianos, Keira pensou.
Enfim, ele encontrou uma jaqueta preta acolchoada – uma cópia barata do tipo de coisa que um homem italiano elegante talvez usasse – e a comprou.
– Dez dólares – ele disse, balançando a cabeça. – Isso vai se desfazer em uma semana.
– Só precisa durar até encontrarmos a Gucci mais próxima – ela brincou.
Eles continuaram, virando a esquina na rua de Bryn e caminhando ao longo dela antes de pararem do lado de fora de um apartamento antigo estilo Brown Stone. Ele ostentava um grafite fresco, corrimões recentemente quebrados e várias plantas mortas.
– Então é aqui? – Cristiano perguntou, olhando para o alto bloco de apartamentos à sua frente.
Dizer que ele não estava impressionado era um eufemismo. As expectativas dele haviam sido nocauteadas pelo bairro pobre em que Bryn vivia. Ele provavelmente se sentia como ela havia se sentido quando se encontrara em Nápoles.
Ela esperava que ele não estivesse muito decepcionado, porque as coisas só ficariam ainda mais estranhas daqui para frente.
– Minha irmã é um pouco... Bem... Digamos que louca – ela o avisou. – É melhor estar preparado.
Cristiano riu, claramente achando que ela estava fazendo mais uma de suas piadas.
“Coitadinho”, Keira pensou. “Ele não tem ideia onde se meteu!”
De imediato, ficou evidente que Bryn tinha esquecido completamente que Keira voltaria hoje no momento em que eles entraram no apartamento.
Estava um caos. Havia roupas e sapatos espalhados por todos os lugares, uma coleção de taças de vinho manchadas no balcão da cozinha, e embalagens vazias de salgadinhos e molhos cobrindo a mesa de centro, que também estava forrada por uma camada de migalhas. Keira se encolheu com a visão. O que Cristiano pensaria?
Para completar a imagem de total desordem, a própria Bryn estava deitada no sofá, roncando alto. Sua maquiagem estava borrada por todo seu rosto. Seu vestido de lantejoulas brilhante mal a cobria. Sua boca de batom vermelho estava aberta.
Keira fez uma careta e olhou para o relógio. Nem era tão tarde. Bryn deve ter tido uma de suas maratonas de bebidas dos sábados, começando ao meio-dia para depois pular de bar em bar pela cidade até que ela voltasse para casa e desmaiasse no sofá.
Bem atrás dela, Keira podia sentir Cristiano protelando, hesitando. Ela estava assustada demais para se virar e analisar sua expressão. Sim, ela podia ter dito para ele se preparar, mas isso era pior do que ela mesma tinha antecipado!
Keira atirou sua bolsa no chão e Bryn acordou com o barulho de sobressalto. Ela se sentou com um ronco assustado. Balançando, ela tocou a bagunça de cabelos amarrados no topo de sua cabeça. Então, ela espiou Keira por olhos semicerrados.
– Você está em casa? – ela perguntou.
– Estou – Keira respondeu, seca. – Você esqueceu que eu estava voltando hoje, não foi? E esqueceu que eu estava trazendo um convidado.
Ela disse a última declaração entre os dentes, como um aviso para Bryn de que elas tinham companhia, outra coisa que ela aparentemente tinha falhado em perceber.
Bryn apertou os olhos, olhando além de Keira para Cristiano. Com algumas piscadas descrentes, ela de repente acordou para a vida.
– Ah, olá – ela disse, pela primeira vez soando desperta e alerta. – Eu sou Bryn. Você deve ser Cristiano.
Pela primeira vez depois de entrar no apartamento, Keira voltou-se para ver a reação de Cristiano ao caos para o qual ela havia lhe trazido. Longe de parecer chocado, ele tinha uma expressão divertida. Enquanto Keira se encolhia ao ver Bryn cambaleando para ficar de pé e andar em direção a ele, Cristiano parecia estar levando a coisa toda com leveza.
– Uau, você é lindo – Bryn disse conforme se aproximou de Cristiano e o abraçou. – Pensei que Keira só estivesse exagerando para me deixar com ciúmes.
Keira percebeu um cheiro de álcool misturado com perfume exagerado.
– Obrigado, eu acho – Cristiano respondeu, soando incerto, mas rindo do mesmo jeito. – Você e sua irmã herdaram genes muito bonitos.
Bryn ergueu as sobrancelhas para Keira, sem tentar esconder seu encanto. Keira foi atingida por um medo repentino. Sua irmã era considerada pela maior parte das pessoas como a mais bonita entre as duas. Ela também flertava de forma ultrajante. E se Cristiano caísse no charme dela? Sua personalidade mais exuberante? Era impossível dizer, ao estudar o comportamento de Cristiano, o que ele realmente pensava de Bryn, já que ele agia da mesma forma encantadora com todas as mulheres bonitas que conhecia.
– Vocês querem algo para beber? – Bryn disse, seu olhar fixo nas feições perfeitas de Cristiano. – Cerveja? Vinho? Prosecco?
– Será que é uma boa ideia? – Keira perguntou, erguendo uma sobrancelha para a aparência desgrenhada da irmã.
Bryn revirou os olhos e voltou o olhar para Cristiano outra vez. – Ela era assim o tempo todo na Itália também? Keira às vezes é tão quadrada.
– Ei! – Keira protestou.
- Nenhum pouco – Cristiano disse. Ele parecia estar levando isso tudo com bom-humor, mesmo que a própria Keira estivesse se sentindo extremamente constrangida. – Passamos muitas noites bebendo ótimos vinhos, não foi, minha querida? – Ele reluziu seus lindos olhos na direção dela e sorriu maliciosamente, de um jeito que a fazia sentir como se fosse a única mulher no mundo.
– Sim – ela murmurou em transe.
Bryn interrompeu com seu habitual jeito impertinente. – Bem, você deve ter tido algum efeito nela, Cris, porque fazê-la sair de casa à noite é como tentar tirar leite de pedra.
Keira balançou a cabeça com as provocações de Bryn.
– Apenas sirva as bebidas, por favor – ela resmungou.
Bryn abriu um sorriso maldoso para Keira, claramente curtindo o processo de acabar com ela, e depois sorriu para Cristiano com doçura. – Qual é o seu veneno, Cris?
Keira fez careta. Ela já estava odiando como Bryn tinha dado um apelido para ele. Era muito familiar. A própria Keira ainda não tinha o chamado de outra coisa que não Cristiano! Se alguém deveria dar-lhe um apelido carinhoso, devia ser ela!
– Vinho tinto – Cristiano respondeu. – Um Shiraz da Nova Zelândia, se você tiver.
Bryn riu alto, como seu flerte habitual. – Vou ver o que posso fazer – ela ronronou. Depois, olhou para Keira. – Você pode arrumar um pouco as coisas? – perguntou, acenando com a mão em direção ao cômodo bagunçado.
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