Scarlett passou as mãos sobre a túnica vermelha escura e olhou para o quarto. Ela usaria botas. Aquelas com salto de sete centímetros que ela geralmente usava apenas no palco. Eles eram de camurça preta e subiam até seus joelhos e combinavam bem com jeans, mas ficavam ainda melhor com uma saia curta. Ela mordiscou os lábios. Ela se atreveria a usá-la?
Scarlett entrou no quarto e vestiu uma minissaia preta. Ela manteve a túnica vermelha, que passava pela bunda e parava no meio do caminho até a bainha da saia. Ela deslizou as botas e as fechou, depois foi ao espelho até o chão para se admirar. Uma roupa como essa era uma armadura corporal. Isso a ajudava a canalizar sua presença no palco. A pessoa que ela era quando os fãs estavam gritando seu nome enquanto cantava um de seus maiores sucessos. Ela estava pronta.
Ela pegou sua bolsa de uma mesa próxima e as chaves no gancho acima da mesa, em seguida, saiu pela porta. Demorou alguns minutos para alcançar o carro na garagem. Scarlett se sentou no banco do motorista e se preparou para sair. Mudar de roupa fora a coisa certa a fazer. Isso lhe deu a coragem que lhe faltava desde que encontrara JD. Ela dirigiu seu Corvette para um café próximo e estacionou. Scarlett saiu do carro e caminhou em direção às mesas ao ar livre. As duas irmãs já estavam sentadas e examinando o cardápio. Ela foi até a cadeira vazia e sentou-se nela.
– Pensei que você talvez não aparecesse – Ashlyn murmurou por trás do menu.
– Você quer dizer que não sabia? – Scarlett disse sarcasticamente.
Às vezes, o dom de Ashlyn era irritante como o inferno. Uma pequena parte dela realmente não perdoou sua irmã por ter a visão que destruiu a vida de Scarlett. Ela sabia que, no fundo, Ashlyn não tinha culpa, mas os sentimentos nem sempre eram racionais.
– Era cinquenta e cinquenta – disse ela como se a pergunta de Scarlett tivesse sido real. – Minhas visões não são infalíveis.
Faith estendeu a mão sobre a mesa e colocou a mão no braço de Scarlett e balançou a cabeça silenciosamente. Scarlett suspirou e fez o que Faith queria. Não adiantaria atacar Ashlyn verbalmente. A maior parte disso passaria reto pela sua cabeça.
– Então, algo novo? – Scarlett disse o mais levemente que pôde.
– Além de sua amor perdido retornando a Sparkle City – disse Ashlyn em um tom de improviso. – Não. Apenas trabalho para mim. Embora eu tenha tido um caso interessante com a polícia na semana passada.
Scarlett mal conseguiu não revirar os olhos. Ashlyn havia terminado o doutorado há um ano. Ela tinha dupla formação, se formou em história e psicologia e começou a trabalhar na universidade local, ensinando ambos os assuntos. Com seus dons e educação, ela também se tornou um bem valioso para a aplicação da lei. Faith tinha comprado um bar e o transformado em uma boate de sucesso. Ela, muitas vezes, convidada cantores em ascensão como entretenimento ao vivo.
Suas irmãs eram muito diferentes, e havia momentos em que Scarlett não se identificava com nenhuma delas. Em vez de incentivar Ashlyn a discutir sua gloriosa carreira como consultora do Departamento de Polícia de Sparkle City – DPSC, ela voltou sua atenção para Faith.
– Como está o clube? Você teve alguma apresentação interessante ultimamente?
– Eu tenho um hoje à noite. Você deveria ouvi-lo cantar. – Faith colocou o cardápio em cima da mesa. – Ele tem uma voz maravilhosa.
Ela não entrava no clube de Faith com muita frequência. Era um caos quando ela aparecia, especialmente sem aviso prévio. Havia muitas pessoas esperando que Scarlett aparecesse. Era bom para os negócios de Faith, mas às vezes a irritava. Ela queria que sua irmã tivesse sucesso, então fazia sua parte e passava uma noite ocasional lá.
– Interessante. É alguém que eu possa conhecer?
– Talvez – respondeu Faith. – Você conhece Thatcher Wyatt?
– Você quer dizer o vocalista do Harrowed Souls? Uma das maiores bandas de rock do sul que já existiu? Quem não conhece ele? – Scarlett era fã de Harrowed Souls desde que percebeu que a música existia. Ouvi-los a inspirou a seguir a música como carreira. Claro, era útil que seu dom a ajudou a criar algumas melodias incríveis para acompanhar as letras que ela escrevia. – Por favor, me diga que ele vai cantar no seu clube.
– Não – Faith disse com um rápido movimento de cabeça. – Desculpe por aumentar suas esperanças. Na verdade, é o filho dele, Remington Wyatt.
– A voz dele é tão espetacular quanto a do pai?
Ashlyn abaixou o cardápio e olhou para Scarlett e Faith. – Parem com essa conversa ridícula neste minuto. Temos coisas mais importantes a discutir.
Scarlett discordou. Para ela, não havia nada mais importante do que descobrir todos os detalhes sobre Remington Wyatt.
– Agora não, Ash. Qualquer visão que penetre em seu cérebro pode esperar até outra hora. – Ela se virou para Faith e disse. – Diga-me tudo sobre ele. Só me lembro que ele é dois anos mais velho do que eu. Não é um pouco tarde para começar uma carreira musical? – Ela completara 28 anos algumas semanas atrás, o que faria Remington ter por volta dos trinta.
– Ele é legal, lindo e muito talentoso. Não faço ideia porque ele não começou mais cedo, talvez estivesse com medo de se perder na sombra do pai.
– Seria difícil viver com isso.
Ela odiaria ser sempre comparada a um de seus pais. Não que ela conhecesse o pai, sua mãe nunca havia lhe dito seu nome. Casou-se com Bartolomeu Penn logo após Scarlett nascer, e ele foi o único pai que Scarlett já conhecera. Sua mãe disse que era melhor se ela não soubesse nada sobre o homem que era seu pai biológico. Isso não impediu Scarlett de se perguntar quem ele era ou se seria capaz de convencer sua mãe a dizer a verdade. Ainda assim, ela se sentia um pouco mal por Remington Wyatt. Seu pai era super talentoso.
– Talvez eu vá ao seu clube hoje à noite. – Sua curiosidade estava tirando o melhor dela.
O telefone de Scarlett vibrou no bolso. Ela franziu a testa e puxou para fora e depois suspirou quando leu a mensagem de texto.
– O que é? – Faith perguntou. – Más notícias?
Ela balançou a cabeça.
– Não – ela respondeu e colocou o telefone em cima da mesa. – Apenas meu agente. Ele está tentando me convencer a participar de uma festa que está dando para um de seus novos clientes. Ele está convidando todas as pessoas que ele representa.
– Existe uma razão para você não querer ir? – Faith perguntou enquanto inclinava a cabeça para o lado. – Você não socializa o suficiente, eu acho que seria bom você ir.
– Primeiro, você tenta me fazer visitar o seu clube, e agora você está me empurrando para um evento que eu prefiro não participar ? – Scarlett levantou uma sobrancelha. – Por que você está tão interessada na minha vida social?
Ashlyn bateu a mão na mesa com impaciência.
– Eu acho que a resposta é óbvia. Ela está preocupada que você tenha uma recaída agora que JD está por perto.
Scarlett não voltaria a ser a pessoa que costumava ser. Ela lutou muito para se tornar quem ela era agora. JD não teria tanto efeito em sua vida. Ela se recusava a permitir-lhe tanto controle sobre suas decisões.
– E notei que você não respondeu à minha pergunta – disse Faith. – O que há nesta festa que você quer evitar?
Ela encolheu os ombros.
– Não há nada me impedindo. – Além da necessidade de evitar situações sociais em geral. – Eu nem sei o nome do novo cliente. Calvin falhou em fornecer todos os detalhes. No que diz respeito a ele, tudo o que precisamos saber é quando e onde. Ele apenas quer se destacar, ele faz isso para todos os seus clientes.
Читать дальше