Dawn Brower
Apaixonada pelo Espião Americano
APAIXONADA PELO ESPIÃO AMERICANO
DESCENDÊNCIA MARSDEN LIVRO TRÊS
DAWN BROWER
Translated by WÉLIDA MUNIZ
Loving an American Spy Copyright © 2019 por Dawn Brower
Todos os direitos reservados.
Capa e edição: Victoria Miller
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Created with Vellum
– Nossas dúvidas são traiçoeiras,
e nos fazem perder o bem que muitas vezes
poderíamos ganhar,
por temer tentar.
– WILLIAM SHAKESPEARE
Janeiro de 1915
O apito do trem ecoou pelo terminal. Victoria Grant olhou para cima, do banco onde estava sentada, enquanto o som a afastava dos pensamentos. Tinha chegado cedo à estação para que não perdesse o trem que a levaria para uma cidadezinha na França. De lá, viajaria com o regimento para um hospital de campanha no qual tinha sido designada para trabalhar como enfermeira.
O trem entrou na estação e parou perto da plataforma. A fumaça saía da chaminé no topo da locomotiva. Os passageiros logo começaram a desembarcar. Ainda levaria vários minutos para Victoria poder ir a bordo. O atendente do trem avisaria quando o embarque fosse permitido. Os carregadores já estavam descarregando as bagagens dos outros passageiros. Não levaria muito para estarem substituindo as bagagens antigas pelas novas.
Victoria ficou de pé e começou a andar pela plataforma. Não tinha muito no que dizia respeito a pertences. Como enfermeira, não precisa de luxos. Tinha um baú com os uniformes e os poucos itens pessoais que ainda possuía. Crescendo como filha de vigário, foi ensinada a renunciar tudo o que conduzisse à avareza. Levou aquelas lições a sério e ansiava por uma vida na qual poderia ajudar aos necessitados. Com a Grande Guerra assolando o mundo, mulheres como ela eram uma necessidade. Tinha usado suas habilidades de enfermeira para salvar a quem podia, e estava ansiosa para se pôr a serviço da causa.
Continuou andando para lá e para cá e acabou batendo em um peito másculo. Victoria ergueu o olhar e encontrou os olhos do homem. Ele tinha olhos azuis tão escuros que pareciam negros, o cabelo brilhava como caramelo salpicado com mel.
– Perdão – disse ela, dando um passo atrás.
– Foi culpa minha – emendou ele, com sotaque americano, do Sul, se não estivesse enganada. Aquilo a deixou um pouco surpresa. Não havia muitos americanos na França desde que a guerra tinha sido deflagrada. A última coisa que ouviu falar foi que eles permaneciam neutros no que dizia respeito ao conflito. – Eu deveria estar prestando mais atenção. – Os lábios dele se curvaram para cima em um sorriso estonteante. Aquilo a deixou meio atordoada, momentaneamente deslumbrada.
Victoria sacudiu a cabeça brevemente, recuperando o equilíbrio.
– Está a caminho do norte da França? – Aquela pergunta parecia bastante normal, mas sentiu como se estivesse fazendo uma pergunta boba.
Ele olhou para além dela, para o trem, e então de volta para ela.
– Estou. – Ele ergueu uma sobrancelha. – A senhorita também está?
Ela fez que sim rapidamente. A conversa estava ficando estranha. Victoria nunca foi muito boa em falar com, bem, qualquer um. Mas um homem… aquela era uma tarefa que se provava quase impossível. Não sabia por que, mas homens sempre a desconcertavam, e ela sempre acabava metendo os pés pelas mãos em qualquer conversa ou interação.
– Sim, bem, sim. – Parecia uma idiota. Ele logo pediria licença para se livrar daquela conversa. A maior parte dos homens tinha problemas para falar com ela tanto quanto ela tinha dificuldade para discutir qualquer coisa com eles que não fossem assuntos médicos.
Ele riu baixinho.
– Então estou ansioso para fazer essa viagem com a senhorita.
Ele estava falando sério? Ela franziu as sobrancelhas e o observou. Talvez ele sentisse prazer em zombar das pessoas. Não queria fazer mais perguntas. Não conhecia este homem, e provavelmente nunca conheceria.
Um dos atendentes saiu e gritou:
– Todos a bordo!
Os passageiros começaram a se mover e a embarcar. Victoria foi em direção ao trem e seguiu outro grupo de pessoas. Ela não tinha um vagão privado ou até mesmo um vagão-dormitório para se esconder da multidão. Victoria iria se sentar com qualquer um que estivesse no vagão de passageiros. Ao menos a viagem não seria muito longa. Percorreu o corredor e encontrou um assento perto da janela. Aquilo a distrairia durante o percurso.
– Voltamos a nos encontrar – disse o homem enquanto se sentava perto dela. – A senhorita deve perdoar os meus péssimos modos. – Ele levou a mão ao peito. – Eu deveria ter me apresentado. Eu me chamo William.
Victoria o encarou, incerta do que fazer… ele era um charme. Não pôde deixar de corresponder ao sorriso simpático.
– Victoria – disse depois de alguns momentos de um silêncio desconfortável.
– Prazer em conhecê-la, senhorita Victoria. Fico feliz por ter o prazer de fazer essa viagem ao seu lado. – Ele parecia sincero, mas ela teve dificuldade para imaginar que ele realmente queria conversar com ela.
Talvez fosse gostar da companhia dele. Odiava viajar, e ter alguém interessante com quem conversar a ajudaria a se distrair por algum tempo, e talvez lhe fizesse bem. Além do mais, a companhia de William poderia se provar interessante.
– Do que falaremos?
– Do que a senhorita quiser – respondeu William enquanto se acomodava no assento. – Conte-me um pouco sobre você.
Não havia muito a dizer, sua vida era muito desinteressante.
– Prefiro ouvir sobre o senhor. – Não queria fazê-lo adormecer com o tédio que era a sua vida.
– As damas bonitas sempre falam isso – ele murmurou a declaração e então piscou para ela. Seu coração saltou uma batida. Não estava acostumada a ter a atenção de um homem, e ficou um pouco frustrada por aquele ali ter se dado ao trabalho. – O que acha de um assunto mais inofensivo? Diga-me qual é a sua flor favorita.
Victoria se recostou no assento e pensou na pergunta dele. Ninguém nunca lhe perguntou qual era o seu favorito qualquer coisa. Flores eram lindas, e gostava de todas.
– Eu acho, que se eu tivesse que escolher alguma, seriam as violetas. Elas são resilientes e têm maravilhosas propriedades de cura.
Ele balançou a cabeça.
– A senhorita não é uma dama comum, é?
– Gosto de pensar que sou não muito digna de nota – disse ela. Quanto mais eles falavam, mais imaginava se ele estava flertando com ela. Nenhum homem nunca se dera ao trabalho, e não estava certa sobre o que dizer. É claro que estava imaginando coisas… – Tenho um propósito e um dever. O resto não importa.
– Isso é um pouco… sério – disse ele, em um tom soturno que não se refletia em seus olhos. – Acho que é o lugar onde nos encontramos agora. Todos fomos forçados a nos adaptar por causa da atmosfera que a guerra impõe.
– Sim – concordou. – É uma desventura, mas devemos fazer o nosso melhor com o que a vida joga em nosso caminho.
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