– Bom dia. Eu sou Aobhel, a professora. Bem-vinda à Telecinesia I. Srta. Longstrom – disse a professora, enquanto sorria para Maurelle. – Fico contente por ter se juntado a nós.
Espantada, Maurelle imaginou como ela sabia o seu nome e o que mais a professora devia saber sobre ela. Sua chegada ao conservatório tinha sido bastante agitada. Ainda estava esperando para ver qual seria a sua punição por causa daquele arroubo.
Por medo de ser isolada, ou pior, cooperou com o pessoal da enfermaria. Após aquele primeiro dia, as emoções e a dor lancinante tinham sido embotadas, deixando as coisas mais fáceis. Em algum lugar da sua mente, sabia que a mudança na atitude e nas emoções não era muito normal, mas o alívio era grande demais para questionar qualquer coisa.
– Obrigada. Eu, é… não me deram nenhum livro ainda – confessou. A sua nuca se eriçou como se alguém a observasse. Virando a cabeça discretamente, Maurelle teve um vislumbre de uma fêmea da sua idade lhe olhando feio. Ignoraria aquilo por agora, o foco permaneceu na professora.
– Não se preocupe. Não precisará deles para a minha aula. Praticamos e polimos habilidades nessa aula. Aedan ensinará a parte teórica, e ele lhe dará os livros. Formem duplas e continuem o treino. Vocês precisarão fazer o lápis levitar – explicou-lhe Aobheal.
Brokk, com Ryker ao seu lado, aproximaram-se dela com um sorriso. Nenhum dos machos notou a fêmea se aproximando deles. Era a mesma que a olhava de cara feia há menos de um minuto. Ótimo, já tinha inimigas, ao que parecia. Não deveria ficar surpresa. O único motivo para os comentários sobre sua aparência não estarem circulando era porque ela estava na enfermaria.
– Podemos treinar aqui – grunhiu Ryker. Tirando os olhos de cima da fêmea raivosa, Maurelle olhou para o macho de relance. Ele era muito lindo. Não era de se admirar que a feérica esguia com seus esplêndidos olhos azuis quisesse formar dupla com ele.
– Você deve ter complexo de herói – frisou ela, enquanto atravessava o lugar e ficava de frente para ele.
A risada dele era baixa e rouca, o oposto de como ele tinha soado um segundo antes. A alegria fez coisas com o seu corpo que ela odiaria que ele soubesse. Enquanto seu ventre se agitava e o resto dela se aquecia, desejou que ele soubesse. Ryker estava sendo legal. Não havia a mais remota possibilidade de ele estar atraído por ela. A péssima postura que o macho teve até então provava aquilo. Mas preferia quando ele era legal.
– Quem disse que eu falei contigo? – rebateu ele, e parou de sorrir.
Brokk deu um tapinha nas costas dele e lhe deu um sorriso sedutor.
– Ignore-o. Quero você no nosso grupo.
O rosto de Maurelle se aqueceu e ela abaixou a cabeça. Gostava da paquera descarada de Brokk e não conseguia entender as oscilações de humor de Ryker. Era óbvio que ele não gostava dela, mas gostava muito quando ele não era totalmente mau com ela.
Um sussurro baixo chegou aos seus ouvidos naquele segundo, fazendo-a erguer a cabeça bruscamente.
– Eu tentaria ir embora, se não fosse por você. – Jurava que foi Ryker quem sussurrou aquela última parte, mas não tinha certeza, já que ele estava lá de pé olhando feio para ela.
– Peguei os lápis – declarou Brokk, quando voltou para o seu lado. Não notou que ele tinha se afastado. O que significava que ele não tinha dito nada.
– O que eu faço? – perguntou, mantendo o foco em Brokk.
– Você faz o lápis levitar – latiu Ryker, e logo sacudiu a cabeça.
– Isso eu entendi, Capitão Óbvio – disse ela, sarcástica.
– O que a professora nos disse é que é para focar no objeto e imaginar que ele está levitando – interveio Brokk, antes de a conversa virar uma briga.
– Caramba! Você deve ter nascido para isso – declarou Brokk, um segundo depois de o lápis estar flutuando sobre a palma da mão dela.
Erro número cem, pensou. Não tinha ideia se o pai se meteria em problemas caso alguém descobrisse que a esconderam por mais de um ano e que ela andou praticando tanto quanto possível.
Não que tenha sido muito, devido ao risco de exposição, mas era muito mais habilidosa do que alguém em sua posição deveria ser.
– O quê? – perguntou, e sacudiu o dedo, atirando o pincel na parede de pedra mais próxima.
Uma rápida olhada lhe mostrou que a professora estava mexendo no tablet. Ficou surpresa ao ver tecnologia. Os feéricos não podiam usar qualquer tipo de tecnologia na Edge. Imaginou milhares de vezes o porquê de os humanos quererem reter os itens para si. Não era como se os aparelhos fossem deixá-los mais fortes. Apostava que os humanos obrigavam os professores a usá-los só para que pudessem monitorar os alunos.
– Parece que não nasceu para isso, afinal das contas – disse Ryker, gargalhando. A risada não alcançou os olhos, mas era melhor que a cara feia.
Maurelle riu com ele, disfarçando o nervoso. Era melhor colocar a cabeça no lugar. Não podia deixar ninguém suspeitar de que seus poderes tinham se manifestado há tanto tempo. O pai era tudo o que ela e as irmãs tinham.
– Agora não há mais dúvidas. Eu sou um desastre de dar gosto. Isso é mais difícil do que parece.
– Com certeza você é de dar gosto – murmurou Brokk, enquanto a olhava da cabeça aos pés. Gostava daquele flerte. Era óbvio que ele estava atraído por ela, e ela não se sentia desconfortável perto dele.
– Se treinar, vai ficar mais fácil – disse Ryker, como se tivesse ignorado totalmente o que Brokk falou.
Aobheal se aproximou deles e cruzou os braços sobre o peito, prendendo o tablet sobre os seios pequenos.
– Telecinesia é um talento que todo feérico tem, então não levará muito tempo para controlá-lo. Você teve o pensamento certo ao imaginar o que queria que acontecesse.
– Quando começaremos a treinar habilidades de ar? – perguntou para a professora. Esperava aprender mais sobre o que podia fazer. Os pais não ousaram encorajá-la ou a permitir que explorasse demais suas habilidades. A única coisa que sabia que tinha era psicometria.
– Em breve – explicou Aobheal. – Primeiro vocês precisam controlar as habilidades básicas. Dessa forma, minimizamos as lesões acidentais.
Fazendo que sim, Maurelle voltou a se concentrar, mais uma vez, nas ferramentas de escrita. Ryker fazia o dele girar no ar. Ela também tinha erguido o dela no ar. Fez o objeto bambear e fazer movimentos bruscos, fazendo-o bater no lápis de Ryker. Ambos foram voando na direção da professora.
Com os lábios franzidos, Aobheal moveu a mão e os dois lápis pousaram na mesa da lateral da sala. Maurelle olhou para Ryker, mas ele já estava indo para a mesa, então voltou os olhos para Brokk. Quando o olhou nos olhos, ambos caíram na gargalhada.
– Eu quero ser poderoso assim – confessou ele.
Eu também. Pensou. As emoções podiam estar em guerra. A necessidade de ver a família era maior do que nunca, e só poderia ir para casa quando não fosse mais considerada um perigo para a sociedade.
– Hey, Ryker. Está indo jantar?
Ryker virou a cabeça bruscamente ao ouvir a voz feminina e familiar. Quando pôs os olhos na fêmea sexy, o nó que se formava em seu estômago nas duas últimas horas ficou mais apertado. O maior responsável era o fato de ele estar dividido entre ficar feliz por vê-la e precisando fugir dela, mas o menor era porque ele estava começando a suspeitar que havia algo podre se passando ali no conservatório.
– Estou. Quer ir comigo? – A pergunta saiu antes que ele percebesse.
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