Keira riu e guardou o celular. A música no andar de baixo com certeza iria mantê-la acordada por algumas horas, então era melhor ficar um tempo no laptop. Ela o tirou da mala e começou a escrever um e-mail para Elliot com algumas de suas ideias iniciais para o artigo. Graças a todos os Guinnesses, ela foi capaz de adotar um tom ainda mais crítico do que tinha antecipado.
Se você já se perguntou qual o cheiro de décadas de pisoteio de Guinness estagnado em um carpete, então não precisa procurar além do St. Paddy’s Inn em Lisdoonvarna, Condado de Clare. Na forma de uma americana exótica, minha chegada aqui provocou uma onda de hospitalidade irlandesa sufocante. Digo sufocante, porque recusar as ofertas de quantidades abundantes de álcool simplesmente não era uma opção, daí o cheiro de Guinness estagnado já mencionado que impregna cada centímetro dessa espelunca escura e sombria. Na verdade, o lugar está tão saturado de Guinness, que os carpetes, cortinas e papeis de parede são pegajosos ao toque. Vamos apenas dizer que não me surpreenderia se a água do meu banho matinal (na suíte antiquada e apertada) fosse preta e espumosa.
Ela continuou no mesmo tom sarcástico. Mesmo sabendo que era cruel depreciar a pousada e as pessoas amigáveis que tinha conhecido, ela não conseguia evitar.
Ela terminou e clicou enviar. Elliot respondeu quase que imediatamente com um elogio.
Continue nesse ritmo Keira. Isso vale ouro!
Naquele momento, o celular de Keira tocou. Era Bryn. Keira suspirou, sabendo que não iria conseguir mais trabalhar naquela noite. Ela fechou o laptop e atendeu o telefone, subindo na cama enquanto atendia.
“E aí, beleza?” ela perguntou para sua irmã.
“Acabei de ter um fracasso de encontro,” explicou Bryn. “Então pensei em te ligar para saber detalhes desse guia turístico bonitão.”
Keira gargalhou. “Bem, ele tem muito cabelo. E o estilo dele é horrível. Mas seria bem agradável se melhorasse a aparência.”
“Eu acho que você deveria ir fundo,” Bryn disse.
Keira ofegou, surpresa com o pensamento avançado de Bryn, avançado até para ela. “E o Zach!” ela gargalhou
“O que tem ele?” Bryn respondeu com desdém.
Keira lamentou. “Ele é meu namorado, ” ela recordou Bryn. “E mesmo que Shane cortasse o cabelo e trocasse todo o guarda-roupa, eu não conseguiria ficar mais do que cinco minutos com ele sem estrangulá-lo.”
Bryn gargalhou. “Isso vai dificultar um pouco as próximas semanas, não vai?”
“Isso e o fato de que meu quarto é em cima de um bar que aparentemente não tem hora para fechar, com uma banda de folk que toca vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.”
“Isso parece incrível,” refutou Bryn. “Jesus, Keira, você trabalha tanto que nem sequer consegue ver a situação emocionante em que está! Você acabou de me dizer que a festa nunca acaba com um gemido .”
“Você parece o Shane falando,” respondeu Keira. “Se eu não quero beber, dançar e casar, então não sou obrigada a nada disso!”
Ela e Bryn terminaram a conversa e Keira percebeu que apesar de todo o barulho vindo do andar de baixo, ela mal conseguia manter os olhos abertos. Então, ela se acomodou debaixo da colcha fina e apoiou a cabeça no travesseiro grumoso. Ainda não havia resposta de Zach a nenhuma de suas mensagens divertidas. Ela tentou ligar para ele, mas o telefone só tocou e tocou.
Ela conferiu o Instagram e viu fotos de Zach no casamento de Ruth. Ele estava lindo de terno, mas com uma expressão tão desolada. Ele ficou estranho parado ali sozinho e ela se sentiu culpada por não estar lá com ele. Talvez sua mãe tivesse um pouco de razão. Ir sozinho a casamentos era nitidamente muito constrangedor.
Quando pegou no sono, Keira começou a sonhar que estava no casamento com Zach. Só que não era o Zach, era Shane, com a barba feita e vestindo um terno atraente. Ele estava mais bonito do que ela havia previsto.
Keira acordou com um sobressalto. As coisas já estavam complicadas o bastante sem ela desenvolver uma paixonite pelo seu guia turístico!
Ela tirou todos os pensamentos de sua mente e, finalmente, caiu num sono profundo.
“Você dormiu bem?” perguntou Orin assim que Keira desceu as escadas no início da manhã seguinte, aparecendo no bar da pousada.
Ela esfregou os olhos cansados. “Sim, obrigada.” A mentira veio tão facilmente. Melhor fingir que adorou a cama bamba, colcha fina e travesseiros grumosos do que reclamar e Orin ficar irritado. Afinal de contas, ela poderia escrever sobre isso mais tarde e sentir um alívio catártico daquela forma.
“Sente-se e tome seu café da manhã,” disse Orin, guiando-a para uma mesa e colocando café na frente dela. O café foi rapidamente seguido por uma tigela de mingau aveia. Ele sentou no assento oposto. “Preparei no estilo irlandês. Espero que goste.”
Ele estava com um grande sorriso.
“O que é o estilo irlandês?” Keira murmurou desconfiadamente.
Ela tomou um gole do café e ficou surpresa do quanto estava delicioso. Seja lá qual for o estilo irlandês, era bom! Então, ela colocou uma colherada do mingau de aveia em sua boca e quase chorou de prazer. Ela nunca tinha experimentado nada tão cremoso, tão perfeitamente fantástico.
“Uau, o que faz isso ser tão gostoso?” disse Keira, enquanto saboreava outra colherada do mingau de aveia. “As vacas são alimentadas com grama orgânica e ordenhadas pelas mãos de donzelas?” ela brincou.
O sorriso de Orin cresceu. “Tem Baileys no café. E um borrifo de uísque no leite.”
Keira ficou chocada. “Bebida alcoólica às oito da manhã?” ela sussurrou. “Isso é uma boa ideia?”
Orin piscou para ela. “A melhor forma de começar o dia. Isso e uma rápida caminhada, a qual você vai fazer assim que eu te acompanhar até seu encontro com William Barry, o diretor do festival.”
Naquele momento, Keira percebeu que Orin já estava pronto para sair da pousada. Ele estava usando botas que chegavam até o meio da panturrilha, como se estivesse prevendo poças da água. Ou lama. De qualquer forma, Keira não estava a fim de perambular.
“Você não precisa fazer isso,” ela disse. “Tenho SatNav no carro, não vou me perder.”
Orin apontou para o café dela. “Este não é o motivo pelo qual estou fazendo isso.”
A parte cética da mente de Keira queria saber se Orin tinha deliberadamente embriagado ela para garantir que não recusasse sua oferta de uma caminhada. Mas ela sabia que aquele pensamento era um absurdo. Orin era apenas um senhor gentil, orgulhoso de sua cidade. Ele queria mostrar a cidade para a nova-iorquina cética.
“Fala sério”, Orin continuou. “Você está aqui para conhecer a verdadeira Irlanda! Para viver como uma local! Você não vai saber como são nossas vidas se você não fizer o que fazemos!”
Ele puxou seu braço alegremente, encorajando-a a ir junto com ele. Seu entusiasmo estava rapidamente se tornando adulador e Keira percebeu que literalmente não havia como recusar. Orin iria fazê-la caminhar com ele até o encontro, independente do que ela dissesse! Não havia como recusar.
Rendendo-se, ela bebeu o restante de seu café alcoólico, sentindo os efeitos assim que levantou. Então, ela e Orin deixaram a pousada escura e emergiram no sol brilhante da manhã. Embora o céu estivesse moderadamente cinza, Keira semicerrou os olhos com o brilho ofuscante.
“Mostre o caminho”, ela disse a Orin, ao mesmo tempo em que olhava para o único caminho, uma estrada sinuosa que serpenteava pela encosta. Ocasionalmente, havia alguns imóveis espalhados em ambos os lados, mas a estrada era em grande parte cercada por campos de vegetação exuberante cheios de ovelhas.
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