â Vá para a cama. Eu ajudarei Naomi â ele disse.
Welita se virou para o filho e deu um tapinha na bochecha dele. â Você é um bom menino e você criou uma boa filha. Meus graduados â ela disse enquanto pegava suas mãos nas dela. â Estou muito orgulhosa de vocês dois.
Naomi olhou para Chuy, que ainda estava conversando com alguns de seus amigos, enquanto ela e seu pai pegavam os copos e os pratos sujos. Sempre que Chuy olhava para uma das garotas, ela piscava os olhos e fingia que estava arrebatada por cada palavra que saÃa de sua boca. Ele as recompensava flexionando seu bÃceps toda vez que levava a garrafa de cerveja aos lábios, ou quando se movia em volta da caixa de gelo, o que ele fazia muito.
Em um momento, Chuy olhou para Naomi e balançou as sobrancelhas quando uma garota chamada Rosie roçou contra ele. Ela era uma daquelas garotas â o tipo com impressionante decote que fazia os homens babarem. Rosie passou os longos cabelos ondulados por cima do ombro e deu a Chuy um dos seus já conhecido sorrisos. Naomi enfiou o dedo na boca e fingiu engasgar. Ela não ficou impressionada. Rosie tinha uma reputação de flertar com qualquer coisa que se movesse, e ela tinha alguns bebês para provar isso. Se Welita estivesse acordada, provavelmente pegaria sua vassoura e afastaria Rosie.
â Ei, Naomi, venha aqui â gritou Chuy.
â O que houve? â Naomi acenou com uma oferta de cerveja de Lalo.
â O que há de errado com sua prima, cara? Ela é boa demais para beber conosco? â perguntou Mateo, um dos amigos de Chuy.
â Estou bem aqui, Mateo â disse Naomi, colocando as mãos nos quadris. â E para responder à sua pergunta, vim de moto, então a menos que eu queira passar a noite no sofá com os roncos de Chuy sacudindo a casa inteira, sem bebida para mim.
â Eu não ronco. Você ronca â disse Chuy.
â Uh, huh. Sim, claro. â Ela revirou os olhos.
â Vamos lá, Chuy, esfregue logo â disse Lalo. â Se sairmos agora, podemos ficar um par de horas na mesa de dados e estar de volta antes do nosso trabalho a tarde.
â Esfregar o que? E onde você está indo tão tarde? Você não tem trabalho amanhã? â Naomi golpeou as mãos de Chuy enquanto ele tirava o cabelo do ombro dela. â O que você está fazendo?
â Estamos indo para o Casino Lake Charles em Louisiana â disse ele enquanto tentava dobrar a parte de trás do colarinho da sua camisa. â Vamos lá, Naomi. Deixe-me esfregar para dar sorte.
Naomi bateu novamente nas mãos dele. â Pare com isso, Chuy. Meus esquisitos defeitos de nascença não são para o seu entretenimento.
â Eu vou te dar vinte dólares, se eu ganhar.
â Não.
â Aww, vamos lá.
â Ã apenas uma mancha de sardas, Chuy.
â Eles dão boa sorte.
â Você está falando sobre suas sardas? â Javier gritou enquanto passava por eles, arrastando um par de sacos de lixo cheios. â Elas dão boa sorte â disse ele antes de desaparecer no jardim da frente.
â Papai. â Ela gemeu.
â Viu? Até seu pai acha que dá boa sorte â disse Chuy.
â Eu tenho que ver isso. â Mateo deu um passo em direção a Naomi.
Chuy ficou na frente dele e colocou a mão em seu peito, mantendo-o à distância. â Sem chance, cara. à uma coisa de famÃlia.
â Sério, Chuy, você está ficando supersticioso como Welita. Só porque minhas sardas formam o número sete, isso não significa que dão sorte. Se fosse, você acha que eu deixaria Welita morar neste bairro... com você? â Era uma marca estranha na parte de trás do seu pescoço. Ela não tinha notado isso aparecendo até um dia, quando ela e Chuy foram nadar. Ele tinha se esgueirado atrás dela e estava prestes a empurrá-la na piscina quando notou a marca de formato estranho. Welita lhes dissera que Naomi nasceu com isso e que ela estava destinada a algo especial. Chuy entendeu que era um amuleto de boa sorte.
â à sorte. Na semana passada, depois de massagear seu pescoço, comprei um bilhete de loteria e ganhei cinquenta dólares.
Ela se irritou. â Eu pensei que você estava tentando ser legal porque eu estava tão estressada durante a última semana de aula!
Chuy tentou tocar seu pescoço novamente, e ela bateu nas mãos dele. â Pare com isso! Eu não sou um gênio em uma garrafa.
â E se eu deixar você entrar na minha aula de autodefesa?
Chuy se oferecera para dar aulas de autodefesa no centro comunitário local e ela estava pedindo a ele durante semanas para deixá-la entrar. Morando em Houston, especialmente neste bairro, autodefesa era algo que toda mulher precisava saber.
Naomi suspirou. â Tudo bem. â Ela levantou o cabelo e puxou a gola de sua camisa. â Depressa, acabe logo com isso.
Chuy deu um rápido esfregar. â AÃ, isso não foi tão ruim, foi?
â Ugh, vá embora. E leve seus amigos com você. â Ela o empurrou de brincadeira e foi procurar o pai.
Naomi jogou o último saco na lata de lixo e sentou-se em frente ao pai nos degraus da varanda da frente. Ele estava brincando com uma moeda vermelha, seu sÃmbolo de sobriedade de um mês, lançando-a por entre os dedos. Ela se encostou no corrimão olhando as estrelas no céu sem nuvens e ambos ficaram em um silêncio confortável, não querendo perturbar a rara quietude da noite. Tiros e sirenes soando à distância eram comuns. Mesmo que Naomi morasse a poucos quilômetros de distância, ela se preocupava com a avó e Chuy morando em um bairro tão perigoso.
â Você se divertiu, Mijita ? â Perguntou Javier.
â Eu adorei, pai. â Naomi olhou para a garrafa marrom que ele segurava. Ela esperava que ele não estivesse bebendo de novo.
â à cerveja de raiz â disse ele, lendo a expressão em seu rosto. â Eu sei que você está preocupada que eu vou começar a beber de novo. Você tem a minha palavra que não vou beber novamente.
â Você mantém contato com seu padrinho?
â Todo dia.
â Bom.
Seu pai ficou quieto por um momento, se mexeu e limpou a garganta antes de falar. â Há algo que eu quero te dar.
â Papai...
â Antes de dizer não, deixe-me explicar. â Ele deu um tapinha no local ao lado dele. â Venha aqui.
â Mas...
â Por favor, isso é importante.
Ela deslizou através do degrau, e o desconforto tomou conta enquanto esperava que seu pai falasse. A última vez que ele fez a cara que estava fazendo agora foi quando teve que dizer a ela que sua mãe morreu.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou um delicado colar de prata. FaÃscas azuis e brancas brilhavam nos minúsculos diamantes que se alinhavam no crucifixo enquanto pendia sob a luz da varanda â o colar de sua mãe. Lágrimas nadaram em seus olhos quando se lembrou de estar sentada na cama do hospital, a mãe pálida de dor, cÃrculos escuros sob os olhos, as bochechas magras, mas sempre que ela tocava o colar, a paz cintilava em seus olhos. Sua fé era tão forte; Era algo que Naomi desejava que também tivesse.
Ela deslizou os dedos, sentindo o toque frio da prata. Quando a mãe morreu, o pai guardou-a numa pequena bolsa aveludada e levava-a sempre consigo. â Eu não posso.
â Ã seu â disse ele, sua voz soando alta na noite tranquila, mesmo que ele falasse com um sussurro.
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