–Os corpos estavam aqui, um no sofá e outro no chão. Parece que a mãe foi morta primeiro, provavelmente devido ao corte no pescoço, embora um pareça ter acertado bem perto do coração, mas pelas costas. A teoria é de que houve uma luta com o pai. Havia hematomas em seus antebraços, um pouco de sangue saindo de sua boca e a mesa de centro estava torta.
–Alguma ideia inicial do tempo que passou entre os assassinatos e a filha descobrindo-os? Perguntou Kate.
–Não mais do que um dia, respondeu Palmetto. E foi provavelmente mais de doze ou dezesseis horas. Tenho certeza de que o legista terá algo um pouco mais concreto ainda hoje.
–Mais alguma coisa digna de anotação? Perguntou DeMarco.
–Sim, na verdade. É uma prova… Apenas uma única peça. Ele enfiou a mão no bolso interno de sua jaqueta e tirou um pequeno saquinho. Consegui permissão, então não fiquem assustadas. Eu imaginei que vocês gostariam de levá-lo e analisar. É a única evidência que encontramos, mas é bem desalentador.
Ele ofereceu o saquinho de plástico transparente para Kate. Ela pegou e olhou o conteúdo dentro. Pelo que poderia dizer, era um simples pedaço de pano, cerca de um centímetro e meio. Era grosso, de cor azul, e tinha uma textura fofa. Todo o lado direito estava manchado de sangue.
–Onde foi encontrado isso? Kate perguntou.
–Enfiado na boca da mãe. Foi empurrado lá no fundo, quase abaixo de sua garganta.
Kate ergueu-o para a luz. Alguma ideia de onde veio? Ela perguntou.
–Nenhuma. Parece ser apenas um recado aleatório.
Mas Kate não tinha tanta certeza disso. De fato, a intuição de avó começou a avançar. Este não era um pedaço aleatório de tecido. Não… Era macio, era azul claro e parecia bastante fofo.
Isso fazia parte de um cobertor. Talvez o cobertor de uma criança.
–Você tem alguma outra evidência surpresa para nós? DeMarco perguntou.
–Não, isso é tudo, disse Palmetto, já voltando para a porta. Se vocês, senhoras, precisarem de alguma ajuda a partir de agora, sintam-se à vontade para nos telefonar na DP.
Kate e DeMarco compartilharam um olhar irritado pelas costas dele. Sem ter que dizer nada, cada uma sabia que o termo vocês senhoras tinha irritado ambas.
–Bem, isso foi breve, disse DeMarco quando Palmetto lhes deu um aceno evasivo da porta da frente.
–E bom também, disse Kate. Dessa forma, podemos começar a examinar o caso com nossos próprios olhos, sem a influência do que os outros descobriram.
–Você acha que precisamos falar com a filha em seguida?
–Provavelmente. Aí então nós vamos olhar a primeira cena do crime e ver se podemos encontrar alguma coisa lá. Espero que encontremos alguém que seja um pouco mais sociável do que nosso amigo Palmetto.
Elas saíram da casa, desligando as luzes enquanto iam. Enquanto se dirigiam para fora, com o sol finalmente aparecendo na borda do mundo, Kate cuidadosamente colocou o que ela pensava ser um pedaço de cobertor de criança em seu bolso e não pôde deixar de pensar em sua neta dormindo sob um cobertor similar.
Andar em direção ao sol não reprimiu o frio que se apoderou dela.
O café da manhã foi no Panera Bread drive-thru em Roanoke. Foi lá, enquanto esperava na pequena fila matinal, que DeMarco fez várias ligações para marcar uma reunião com Olivia Nash, filha do casal recentemente assassinado. Estava atualmente com sua tia em Roanoke e estava, pelas próprias palavras de sua tia, em um estado de desastre absoluto.
Depois de receber o endereço e a aprovação da tia, foram para a casa dela logo depois das sete horas. Ser cedo não era um problema, porque, de acordo com a tia, Olivia se recusou a dormir desde que encontrara seus pais.
Quando Kate e DeMarco chegaram à casa, a tia estava sentada na varanda. Cami Nash se levantou quando Kate saiu do carro, mas não fez nenhum movimento para encontrá-las. Estava com uma xícara de café na mão e o olhar cansado em seu rosto fez Kate pensar que certamente não era a primeira que ela tomava nesta manhã.
–Cami Nash? Kate perguntou.
–Sim, sou eu, ela disse.
–Em primeiro lugar, por favor, aceite meus sentimentos por sua perda, disse Kate. Você e seu irmão eram próximos?
–Muito próximos, sim. Mas agora, tenho que olhar para, além disso. Eu não posso… chorar agora, porque Olivia precisa de alguém. Não é a mesma pessoa com quem falei no telefone na semana passada. Algo nela está quebrado. Eu não posso nem imaginar… Como deve ter sido encontrá-los assim e…
Parou e bebeu muito rapidamente um pouco de seu café, tentando se distrair do ataque de lágrimas que pareciam estar se aproximando em passo acelerado.
–Ela vai ficar bem em se falar com a gente? DeMarco perguntou.
–Talvez por um tempo. Eu disse a ela que vocês estavam vindo e parecia entender o que eu queria dizer. É por isso que eu estou encontrando vocês aqui antes de entrarem. Eu sinto que preciso dizer a você que ela é uma jovem normal e completa. No estado em que está agora, no entanto, eu não queria que vocês pensassem que ela tem algum tipo de problema mental ou algo assim.
–Obrigada, disse Kate. Ela tinha visto pessoas absolutamente devastadas pela dor antes e nunca foi uma visão bonita. Não podia deixar de pensar em quanta experiência DeMarco tinha com aquele tipo de situação.
Cami as levou para a casa. Era tão silenciosa quanto um túmulo, o único som vindo era do zumbido do ar-condicionado. Kate notou que Cami andava devagar, certificando-se de não fazer muito barulho. Kate seguiu o exemplo, imaginando se Cami estava esperando que o silêncio ajudasse Olivia a finalmente cair no sono ou se ela estivesse simplesmente tentando não alarmar a frágil jovem de alguma forma.
Elas entraram na sala de estar, onde uma jovem estava meio sentada, meio deitada no sofá. Seu rosto estava vermelho, os olhos ligeiramente inchados por causa do choro recente. Parecia não ter dormido por uma semana, em vez de apenas um dia. Quando ela viu Kate e DeMarco entrarem, sentou-se um pouco.
–Oi, senhorita Nash, disse Kate. Obrigada por concordar em se encontrar conosco. Sentimos muito pela sua perda.
–É Olivia, por favor. Sua voz estava rouca e cansada, quase tão desgastada quanto seus olhos pareciam estar.
–Vamos fazer isso o mais rápido possível, disse Katie sei que você tinha acabado de chegar da faculdade. Você sabe se seus pais planejaram receber mais alguém naquele dia?
–Se sim, eu não sabia sobre isso.
–Por favor, me perdoe por perguntar, mas você sabe se algum dos seus pais tinha algum ressentimento de longa data com alguém? Pessoas que eles poderiam ter considerado inimigos?
Olivia sacudiu a cabeça com firmeza. O pai foi casado uma vez antes… Antes de conhecer a mamãe. Mas mesmo com sua ex-esposa, estava tudo bem.
Olivia começou a chorar sem fazer barulho. Uma série de lágrimas escorreu de seus olhos e não se incomodou em tentar limpá-la.
–Eu quero lhe mostrar uma coisa, disse Katie não sei se tem algum significado para você ou não. Caso tenha, pode ser bastante emocional. Você estaria disposta a dar uma olhada e nos avisar se parecer familiar para você?
Olivia pareceu alarmada, talvez até um pouco assustada. Kate realmente não a culpava e quase não queria mostrar a ela o pedaço de tecido que Palmetto havia lhes dado ─ o pedaço que Kate tinha certeza de que fazia parte de um cobertor ou colcha. Um pouco relutante, ela tirou do bolso.
Ela soube imediatamente que Olivia não o reconheceu. Havia uma sensação imediata de alívio e confusão no rosto da jovem enquanto olhava para a sacola de plástico e o que ela continha dentro.
Olivia balançou a cabeça, mas manteve os olhos fixos no saco plástico transparente. Não. Eu não reconheço. Por quê?
Читать дальше