José Saramago - O homem duplicado

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Tertuliano Máximo Afonso é professor de História. Ao visionar um filme banal que um colega de matemática lhe recomendara descobre que um dos actores é um seu sósia. O argumento do livro é a sua demanda, e depois confronto com o actor que é seu duplicado. Uma história que se lê de um fôlego e na qual Saramago se revela mestre do suspense. Romance que nos faz lembrar um thriller onde o autor aborda questões ligadas à identidade (e a falta dela).
Na contracapa: "O caos é uma ordem por decifrar" Livro dos contrários

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A casa estava arrumada, limpa, a cama parecia de noivos, a cozinha como um brinco, a casa de banho rescendendo a olores de detergente, algo assim como cheiro de limão, que só de o respirar uma pessoa se lhe lustra o corpo e a alma se sublima. Nos dias em que a vizinha de cima desce a pôr em ordem esta casa de homem só, o morador dela vai comer fora, sente que seria uma falta de respeito sujar pratos, acender fósforos, descascar batatas, abrir latas, e então levar uma frigideira ao lume, isso nem pensar, que o azeite espirra para todos os lados. O restaurante está perto, na última vez que lá esteve comeu carne, hoje irá comer peixe, é preciso variar, se não tivermos cuidado a vida toma-se rapidamente previsível, monótona, uma seca. Tertuliano Máximo Afonso sempre teve muito cuidado. Sobre a pequena mesa de centro, na sala, estão já empilhadas as trinta e seis cassetes que trouxe da loja, numa gaveta da secretária guardam-se as três que sobraram da encomenda anterior e que ainda não foram vistas, a magnitude da tarefa que tem pela frente é simplesmente acabrunhante, Tertuliano Máximo Afonso não a desejaria nem ao seu maior inimigo, que aliás não sabe quem seja, talvez por ser ainda novo, talvez por ter tido tanto cuidado com a vida. Para se entreter até à hora de jantar pôs-se a ordenar as cassetes segundo as datas da produção do filme original, e, como não cabiam na mesa nem na secretária, decidiu alinhá-las no chão, ao longo de uma das estantes, a mais antiga, à esquerda, chama-se Um Homem como Qualquer Outro, a mais recente, à direita, A Deusa do Palco. Se Tertuliano Máximo Afonso fosse coerente com as ideias que anda a defender sobre o ensino da História ao ponto de as aplicar, sempre que tal fosse possível, às actividades correntes do seu dia-a-dia, visionária esta fileira de vídeos de diante para trás, isto é, principiaria por A Deusa do Palco e iria terminar em Um Homem como Qualquer Outro. É de todos conhecido, porém, que a enorme carga de tradição, hábitos e costumes que ocupa a maior parte do nosso cérebro lastra sem piedade as ideias mais brilhantes e inovadoras de que a parte restante ainda é capaz, e se é verdade que em alguns casos essa carga consegue equilibrar desgovernos e desmandos de imaginação que Deus sabe aonde nos levariam se fossem deixados à solta, também não é menos verdade que ela tem, com frequência, artes de submeter subtilmente a tropismos inconscientes o que críamos ser a nossa liberdade de actuar, como uma planta que não sabe por que terá sempre de inclinar-se para o lado de onde lhe vem a luz. O professor de História seguirá portanto fielmente o programa de ensino que lhe puseram nas mãos, verá portanto os vídeos de trás para diante, desde o mais antigo até ao mais recente, desde o tempo dos efeitos a que não precisávamos de chamar naturais até este outro tempo de efeitos a que chamámos especiais porque, não sabendo como se criam, fabricam e produzem, algum nome indiferente teríamos de lhes dar. Tertuliano Máximo Afonso já voltou do jantar, afinal não comeu peixe, o prato era de tamboril, e ele não gosta de tamboril, esse bentónico animal marinho que vive em fundos arenosos ou lodosos, desde o litoral aos mil metros de profundidade, um bicho de enorme cabeçorra, achatada e armada de fortíssimos dentes, com dois metros de comprimento e mais de quarenta quilos de peso, enfim, um animal pouco agradável de ver e que o paladar, o nariz e o estômago de Tertuliano Máximo Afonso nunca conseguiram suportar.

Toda esta informação a está ele a recolher neste momento de uma enciclopédia, movido finalmente pela curiosidade de saber alguma coisa acerca de um animal que desde o primeiro dia detestou. A curiosidade vinha de épocas atrasadas, de muito tempo atrás, mas só hoje, inexplicavelmente, é que estava a dar-lhe cabal satisfação. Inexplicavelmente, dizemos, e contudo deveríamos saber que não é assim, deveríamos saber que não há nenhuma explicação lógica, objectiva, para o facto de Tertuliano Máximo Afonso ter levado anos e anos sem conhecer mais do tamboril que o aspecto, o sabor e a consistência dos pedaços que lhe punham no prato, e de súbito, num certo momento de um certo dia, como se não tivesse nada mais urgente para fazer, eis que abre a enciclopédia e se informa. Estranha relação é a que temos com as palavras. Aprendemos de pequenos umas quantas, ao longo da existência vamos recolhendo outras que vêm até nós pela instrução, pela conversação, pelo trato com os livros, e, no entanto, em comparação, são pouquíssimas aquelas sobre cujas significações, acepções e sentidos não teríamos nenhumas dúvidas se algum dia nos perguntássemos seriamente se as temos. Assim afirmamos e negamos, assim convencemos e somos convencidos, assim argumentamos, deduzimos e concluímos, discorrendo impávidos à superfície de conceitos sobre os quais só temos ideias muito vagas, e, apesar da falsa segurança que em geral aparentamos enquanto tacteamos o caminho no meio da cerração verbal, melhor ou pior lá nos vamos entendendo, e às vezes, até encontrando. Se tivermos tempo e nos picar, impa ciente, a curiosidade, sempre acabaremos por saber o que é o tamboril. A partir de agora, quando o criado do restaurante tomar a sugerir-lhe o desgracioso lofídeo, o professor de História já saberá responder, Quê, esse horrendo bentónico que vive em fundos arenosos e lodosos, e acrescentará, definitivo, Nem pensar. A responsabilidade desta fastidiosa digressão piscícola e linguística tem-na toda Tertuliano Máximo Afonso por tardar tanto a meter Um Homem como Qualquer Outro no leitor de cassetes, como se estivesse estacado no sopé de uma montanha a deitar contas às forças de que vai precisar para lá chegar acima. Tal como parece que da natureza se diz, também a narrativa tem horror ao vazio, por isso, não tendo Tertuliano Máximo Afonso, neste intervalo, feito alguma coisa que valesse a pena relatar, não tivemos outro remédio que improvisar um chumaço de recheio que mais ou menos acomodasse o tempo à situação. Agora que ele se resolveu a tirar a cassete da caixa e a introduziu no leitor, poderemos descansar.

Passada uma hora, o actor ainda não havia aparecido, o mais certo era não ter entrado neste filme. Tertuliano Máximo Afonso fez correr a fita até ao fim, leu os nomes com toda a atenção e cortou na lista de participantes aqueles que se repetiam. Se lhe pedíssemos que nos explicasse por palavras suas o que tinha acabado de ver, o mais provável seria que nos atirasse com o olhar de enfado que se reserva aos impertinentes e nos respondesse com uma pergunta, Tenho eu cara de me interessar por semelhantes vulgaridades. Alguma razão haveríamos que reconhecer-lhe, porque, em realidade, os filmes que passou até agora pertencem à denominada série bê, produtos rápidos para consumo rápido que não aspiram a mais que entreter o tempo sem perturbar o espírito, como muito bem tinha expressado, embora por outros termos, o professor de Matemática. Já outra cassete foi metida no leitor, a esta chamam-lhe A Vida Alegre e vai fazer aparecer o sósia de Tertuliano Máximo Afonso num papel de porteiro de cabaré, ou de buate, não se chegará a perceber com clareza suficiente qual das duas definições assenta melhor ao estabelecimento de mundanais diversões em que decorrem jovialidades copiadas sem pudor das diversas versões de A Viúva Alegre. Tertuliano Máximo Afonso chegou a pensar que não valia a pena ver o filme todo, o que lhe importava, isto é se o seu outro eu entrava ou não na história, já o sabia, mas o enredo era tão gratuitamente intricado que se deixou levar até ao fim, surpreendendo-se ao começar a perceber no seu íntimo um sentimento de compaixão pelo pobre diabo que, além de abrir e fechar as portas dos automóveis, não fazia outra coisa que levantar e baixar o boné de pala para cumprimentar com um composto nem sempre subtil de respeito e cumplicidade os elegantes frequentadores que entravam e saíam. Eu, ao menos, sou professor de História, murmurou.

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