Crivaro disse, “Tocou-lhe. E no telefone também. Nem dá para acreditar. As suas impressões estão por todo o lado.”
Riley gaguejou, “Eu… eu lamento.”
“Bem pode lamentar-se,” Disse Crivaro. “Vou tirá-la daqui antes que lixe mais alguma coisa.”
Levantou-se do chão e limpou as mãos.
Disse, “McCune, mantém a equipa de busca a trabalhar. Quando acabarem de verificar os compartimentos deste andar, continuem a procurar no sótão. Não me parece provável que encontremos mais alguma coisa, mas temos que ser exaustivos.”
“Assim farei,” Disse McCune.
Crivaro desceu as escadas com Riley e conduziu-a até ao carro.
À medida que se afastavam daquele cenário, Riley perguntou, “Vamos voltar para a sede?”
“Não hoje,” Disse Crivaro. “Talvez nunca mais. Onde é que vive? Vou levá-la a casa.”
Com a voz embargada pela emoção, Riley disse-lhe a morada.
Ao seguirem em silêncio, Riley deu por si a lembrar-se de como Crivaro ficara impressionada com ela em Lanton e lhe dissera…
“O FBI precisa de jovens como tu – sobretudo mulheres. Darias uma excelente agente da UAC.”
Como tudo se tinha alterado!
E ela sabia que não era apenas devido ao erro que cometera. Desde o início do dia que Crivaro fora frio consigo.
Naquele momento, Riley apenas desejava que ele dissesse alguma coisa – qualquer coisa.
Perguntou timidamente, “Encontrou alguma coisa no outro compartimento? Quero dizer, onde o elevador estivera?”
“Nada,” Respondeu Crivaro.
Seguiu-se mais um momento de silêncio. Agora Riley começava a se sentir confusa.
Sabia que cometera um tremendo erro, mas…
O que é que eu podia fazer?
Tivera um pressentimento de que algo estava escondido debaixo do chão.
Deveria simplesmente ter ignorado essa sensação?
Reuniu toda a sua coragem e disse…
“Senhor, eu sei que fiz asneira, mas não encontrei uma coisa importante? Quatro agentes revistaram aquele compartimento e não encontraram aquele esconderijo. Estavam à procura do dinheiro e eu o descobri. Será que outra pessoa o teria encontrado se não fosse eu?”
“Não é isso,” Disse Crivaro.
Riley conteve a necessidade de perguntar…
Então o que é?
Crivaro conduziu em silêncio durante vários minutos. Depois disse com um tom de voz baixo e amargo, “Puxei muitos cordelinhos para que entrasse neste programa.”
Seguiu-se outro momento de silêncio. Mas Riley detetou um mundo de significado naquelas palavras. Começou a compreender que Crivaro arriscara muito em seu benefício, não só para que entrasse no programa, mas também para ser seu mentor. E o mais certo era ter deixado alguns colegas zangados, talvez por excluir candidatos internos que eles considerariam mais aptos e promissores do que Riley.
Agora que via as coisas naquela perspetiva, o comportamento frio de Crivaro começou a fazer sentido. Ele não queria mostrar qualquer inclinação ou tratamento preferencial em relação a ela. Na verdade, comportava-se de forma oposta. Contava que ela se mostrasse digna sem qualquer encorajamento dele, apesar das dúvidas e ressentimento dos colegas.
E a julgar pelos olhares e sussurros dos outros estagiários no decorrer daquele dia, os colegas de Crivaro não eram os únicos a ter ressentimentos. Ela enfrentara uma subida árdua para apenas conseguir um sucesso modesto.
E estragara tudo numa única tarde graças a um erro estúpido. Crivaro tinha razão em estar desiludido e zangado.
Riley respirou fundo e disse…
“Peço desculpa. Não voltará a acontecer.”
Crivaro não respondeu de imediato.
Por fim disse, “Calculo que queira uma segunda oportunidade. Bem, deixe-me dizer-lhe que o FBI não é fértil em dar segundas oportunidades. O meu último parceiro foi despedido por cometer o mesmo tipo de erro – e sem dúvida que o mereceu. Um erro assim tem consequências. Por vezes é o suficiente para arruinar um caso e deixar um mau da fita escapar. Às vezes, custa a vida de alguém. Pode custar a sua própria vida.”
Crivaro fixou-a.
“O que acha que devo fazer?” Perguntou.
“Não sei,” Disse Riley.
Crivaro abanou a cabeça. “De certeza que eu também não sei. Talvez ambos devamos dormir sobre o assunto. Tenho que decidir se não julguei devidamente as suas capacidades. Você tem que decidir se tem o que é preciso para continuar neste programa.”
Riley sentiu um nó na garganta e uma vontade incontrolável de chorar.
Não chores, Disse a si mesma.
Chorar só tornaria tudo ainda pior.
Ainda a acusar a repreensão de Crivaro, Riley chegou a casa duas antes de Ryan. Quando Ryan apareceu, pareceu surpreendido por vê-la ali tão cedo, mas estava demasiado entusiasmado com o seu dia para reparar no aborrecimento de Riley.
Ryan sentou-se à mesa da cozinha com uma cerveja enquanto Riley aquecia o jantar. Ela percebeu que ele estava muito satisfeito com tudo o que estava a fazer na firma e ansioso por lhe contar. Ela tentou dar-lhe atenção.
Tinham-lhe sido atribuídas mais tarefas do que ele estava à espera – muita pesquisa e análise complexa, escrita de relatórios, preparação para litigação e outras tarefas que Riley mal entendia. Até se ia apresentar pela primeira vez num tribunal no dia seguinte. Apenas iria dar apoio aos advogados de proa é claro, mas já era um avanço para ele.
Ryan parecia nervoso, assustado, talvez um pouco amedrontado, mas acima de tudo radiante.
Riley tentou continuar a sorrir ao sentarem-se para jantar. Ela queria estar feliz por ele.
Então Ryan finalmente perguntou…
“Uau, olha só para mim a falar. E tu? Como correu o teu dia?”
Riley engoliu em seco.
“Podia ter corrido melhor,” Disse ela. “Na verdade, correu pessimamente.”
Ryan agarrou na mão de Riley com uma expressão de sincera preocupação.
“Lamento,” Disse ele. “Queres falar sobre isso?”
Riley interrogou-se se falar sobre aquilo a faria sentir-se melhor.
Não, só vou começar a chorar.
Para além disso, o Ryan podia não ficar muito satisfeito com o facto de ela ter realizado trabalho de campo naquele dia. Ambos tinham a certeza de que ela faria o treino de forma segura nas instalações do FBI. Não que ela tivesse estado em verdadeiro perigo…
“Preferia não entrar em pormenores,” Disse Riley. “Mas lembras-te do Agente Especial Crivaro, o homem do FBI que me salvou a vida em Lanton?”
Ryan anuiu.
Riley prosseguiu, “Bem, ele é o meu mentor, mas está com dúvidas se eu deveria estar no programa. E… acho que também eu tenho dúvidas. Talvez isto tudo não tenha passado de um erro.”
Ryan apertou-lhe a mão e não falou.
Riley gostava que ele dissesse alguma coisa. Mas o que é que queria que ele dissesse?
O que é que esperava que ele dissesse?
A verdade era que Ryan nunca se mostrara entusiasmado com a entrada de Riley no programa. Talvez ficasse satisfeito por ela desistir – ou até ser expulsa.
Por fim Ryan disse, “Ouve, talvez este não seja o momento ideal para fazeres isto. Quero dizer, estás grávida, acabámos de nos mudar e eu estou a começar na Parsons and Rittenhouse. Talvez devesses esperar até…”
“Esperar até quando?” Perguntou Riley. “Até ser mãe e ter um filho para criar? Como é que isso vai funcionar?”
Ryan mostrou perplexidade ante o tom amargo de Riley. Até Riley ficou alarmada com o som da sua própria voz.
“Peço desculpa,” Disse ela. “Não queria dizê-lo daquela forma.”
Ryan disse tranquilamente, “Riley, tu vais ser uma mãe a criar uma criança. Nós vamos ser pais. É uma realidade com a qual temos que lidar, quer continues o treino este verão ou não.”
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