Riley sentiu um nó na garganta. Quantas vezes alguém lhe dizia coisas daquelas? Era muitas vezes elogiada no seu trabalho na UAC e até recebera uma Medalha de Perseverança recentemente. Mas não estava habituada a ser elogiada por coisas simples. Nem sabia como lidar com isso.
Então Blaine disse, “És uma boa mulher, Riley Paige.”
Riley sentiu lágrimas nos olhos. Riu-se nervosamenteao limpá-las.
“Oh, vê só o que fizeste,” Disse ela. “Fizeste-me chorar.”
Blaine encolheu os ombros e irradiou um sorriso delicado.
“Desculpa. Só estou a tentar ser brutalmente honesto. Acho que às vezes a verdade dói.”
Riram-se durante alguns momentos.
Por fim, Riley disse, “Mas não te perguntei pela tua filha. Como tem passado a Crystal?”
Blaine desviou o olhar com um sorriso agridoce.
“A Crystal está ótima – boas notas, feliz e alegre. Agora está na praia com os primos e a minha irmã.”
Blaine suspirou. “Só se passaram alguns dias, mas já estou cheio de saudades.”
Riley ficou novamente à beira de chorar. Sempre soubera que Blaine era um pai extraordinário. Como seria ter uma relação mais permanente com ele?
Calma, Disse a si própria. Não nos apressemos.
Entretanto, já quse tinha terminado o seu cheesecake de framboesa.
“Obrigada, Blaine,” Disse ela. “Foi uma noite maravilhosa.”
Fitando-o mais intensamente, acrescentou, “Odeio vê-la terminar.”
Olhando para ela com a mesma intensidade, Blaine apertou-lhe a mão.
“Quem diz que tem que acabar?” Perguntou ele.
Riley sorriu. Ela sabia que o seu sorrido era suficiente para responder à sua pergunta.
No final de contas, porque é que a sua noite deveria terminar? O FBI estava a guardar a sua família e nenhum assassino exigia a sua atenção.
Talvez tivesse chegado o momento de se divertir.
George Tully não gostava do aspeto de um pedaço de terreno na estrada. Não sabia exatamente porquê.
Não tens que te preocupar, Disse a si próprio. A luz da manhã estaria apenas a pregar-lhe partidas.
Inspirou o ar fresco. Depois inclinou-se e apanhou uma mão cheia de terra solta. Como sempre, era macia e rica. Também cheirava bem, rica com nutrientes de antigas colheitas de milho.
A boa terra do Iowa, Pensou enquanto pedaços dela lhe escapavam pelos dedos.
A terra estava na família de George há muitos anos, por isso conhecera aquele magnífico solo toda a vida. Mas nunca se canasava dele e o seu orgulho em lavrar a terra mais rica do mundo nunca se esgotava.
Olhou para os campos que se estendiam ao longo de uma imensa extensão. A terra fora lavrada há alguns dias. Estava pronta para receber os grãos de milho já pulverizados com insecticída.
Adiara a plantação até àquele dia devido às condições meteorológicas. É claro que não havia forma de saber se uma geada surgiria mesmo naquela altura do ano, arruinado assim a colheita. Lembrava-se de uma nevasca em abril nos anos 70 que apanhara o pai de surpresa. Mas quando George sentiu uma brisa de ar quente e olhou para as nuvens altas que atravessavam o céu, sentiu confiança para avançar.
Hoje é o dia, Pensou.
Enquanto George ali permaneceu, o seu ajudante Duke Russo chegou a conduzir um trator que transportava um plantador de doze metros. O plantador plantaria dezasseis filas de seguida, com uma distância de trinta polegadas, um grão de cada vez, depositando o fertilizante em cima de cada um, cobriria a semente e prosseguiria.
Os filhos de George, Roland e Jasper, estavam no campo à espera da chegada do trator e caminharam na sua direção. George sorriu para si próprio. Duke e os rapazes eram uma boa equipa. Não havia necessidade de George ficar para a sementeira. Acenou aos três homens, depois virou-se para regressar ao seu camião.
Mas aquele pedaço estranho de terra junto à estrada chamou a sua atenção mais uma vez. O que estava errado ali? A semeadora tinha falhado aquele pedaço? Não compreendia como é que aquilo podia ter acontecido.
Talvez uma marmota andasse por ali a escavar.
Mas ao aproximar-se do local, pode ver que não fora uma marmota a fazer aquilo. Não havia abertura e a terra estava achatada.
Parecia que algo tinha sido ali enterrado.
George rabujou. Os vândalos e os brincalhões às vezes davam-lhe trabalho. Hà alguns anos atrás, alguns rapazes de Angier roubaram um trator e usaram-no para demolir um barracão de armazenamento. Mais recentemente, outros tinham pontado obscenidades em vedaçoes e paredes e até em gado.
Era enfurecedor – e doloroso.
George não fazia ideia porque é que os miúdos lhe arranjavam problemas. Nunca lhes fizera mal que soubesse. Dera conhecimento dos incidentes a Joe Sinard, o chefe da policia de Angier, mas nunca nada fora feito.
“O que é que aqueles sacanas fizeram desta vez?” Disse em voz alta, calcando a terra com o pé.
Achou que o melhor era descobrir. O que quer que estivesse enterrado ali, poderia estragar o equipamento.
Virou-se para a sua equipa e acenou a Duke para parar o trator. Quando motor foi desligado, George gritou aos filhos.
“Jasper, Roland – tragam-me essa pá que está na cabina do trator.”
“O que é que se passa pai?” Indagou Jasper.
“Não sei. Traz-me a pá.”
Um momento mais tarde, Duke e os rapazes já caminhavam na sua direção. Jasper entregou a pá ao pai.
George manejou a pá contra a terra enquanto o grupo observava a operação com curiosidade. Ao enterrar a pá na terra, um cheiro estranho, azedo, inundou-lhe as narinas.
Sentiu uma onda de pavor instintivo.
Que raio está aqui em baixo?
Continuou a escavar até atingir algo sólido mas mole.
Escavou com mais cuidado, tentando desenterrar o que quer que fosse. De repente, avistaram algo pálido.
Demorou alguns segundos até George conseguir perceber de que se tratava.
“Oh, meu Deus!” Exclamou com horror.
Era uma mão – a mão de uma mulher jovem.
Na manhã seguinte, Riley deparou-se com Blaine a preparar um pequeno-almoço de ovos Benedict com sumo de laranja fresco e café escuro. Chegou à conclusão que fazer amor com paixão não se resumira aos ex-maridos. E percebeu que acordar confortavelmente ao lado de um homem era algo novo.
Sentiu-se grata por aquela manhã e gratidão para com Gabriela que se assegurou de tratar de tudo quando Riley lhe ligara na noite anterior. Mas não conseguia evitar pensar se uma relação daquele tipo sobreviveria devido às muitas outras complicações da sua vida.
Riley decidiu ignorar essa questão e concentrar-se na deliciosa refeição. Mas ao comerem, notou de imediato que a mente de Blaine parecia estar noutro lugar.
“O que é que se passa?” Perguntou-lhe.
Blaine não respondeu. Os seus olhos denotavam incómodo.
Riley ficou preocupada. O que é que se passava?
Estaria com dúvidas em relação à noite passada? Estaria menos satisfeito com a situação do que ela?
“Blaine, o que é que se passa?” Perguntou Riley com a voz a tremer ligeiramente.
Passados alguns instantes, Blaine disse, “Riley, eu não me sinto… seguro.”
Riley tentou compreender o que Blaine acabara de dizer. Teria todo o afeto partilhado na noite anterior subitamente desaparecido? O que se passara que alterara tudo?
“Eu… eu não compreendo,” Gaguejou Riley. “O que é que queres dizer quando dizes que não te sentes seguro?”
Blaine hesitou, depois disse, “Penso que tenho que comprar uma arma. Para proteção em casa.”
As suas palavras sacudiram Riley. Não estava à espera daquilo.
Mas talvez devesse, Pensou.
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