Estava agitada, nervosa.
A pulsação estava acelerada.
Respirava com dificuldade e aceleradamente.
Mas era da adrenalina ou da fúria da noite passada?
Lembrou-se outra vez…
“E se estiver a andar com alguém?” Dissera Ryan.
“Riley, nunca fizemos nenhum acordo de exclusividade.”
Dissera-lhe que o nome da mulher era Lina.
Riley perguntou-se que idade teria.
Provavelmente muito jovem.
As mulheres de Ryan eram sempre demasiado jovens.
Raios, para de pensar nele! Estava a reagir como uma novata estúpida.
Tinha que se lembrar de quem era. Ela era Riley Paige e era respeitada e admirada.
Tinha vários anos de treino e trabalho de campo.
Descera ao inferno e voltara vezes se conta. Tirara vidas e salvara vidas. Tinha sempre calma perante o perigo.
Então como podia ela deixar Ryan afetá-la daquela forma?
Abanou-se, tentando afastar as distrações da cabeça.
Dirigiu-se ao compartimento seguinte, disparou à entrada, depois entrou e disparou novamente.
Naquele momento a sua arma encravou-se.
“Raios,” Resmungou Riley audivelmente.
Por sorte, o atirador também não estava naquele compartimento. Mas ela sabia que a sua sorte podia acabar a qualquer momento. Pousou a M4 e sacou a sua pistola Glock.
Nessa altura, um movimento captou a sua atenção. Ele estava ali, naquela porta logo à frente, a espingarda apontada diretamente a ela. Instintivamente, Riley baixou-se e rebolou, evitando o disparo. Depois ficou ajoelhada e disparou três vezes, protegendo-se do recuo. As três balas atingiram o atirador que caiu no chão.
“Apanhei-o!” Gritou a Bill. Observou a figura cuidadosamente e não viu sinal de vida. Terminara.
Então Riley levantou-se e removeu o seu capacete de RV, fones e microfone. O atirador caído desaparecera, juntamente com o labirinto de corredores. Deu por si numa sala do tamanho de um campo de basquetebol. Bill estava próximo e Lucy levantava-se. Bill e Lucy também tiravam os seus capacetes. Tal como Riley usavam outros equipamentos, incluindo correias à volta dos pulsos, joelhos e tornozelos que detetavam os seus movimentos na simulação.
Agora que os seus companheiros já não eram fantoches simulados, Riley parou por um momento para apreciar a sua presença real. Pareciam um par estranho – um deles maduro e sólido, e outro jovem e impulsivo.
Mas ambos estavam entre as pessoas de quem mais gostava no mundo.
Riley já tinha trabalhado com Lucy mais do que uma vez no terreno e sabia que podia contar com ela. A jovem agente de pele e olhos escuros parecia sempre brilhar por dentro, irradiando energia e entusiasmo.
Por contraste, Bill tinha a idade de Riley e apesar dos seus quarenta anos o estarem a tornar um pouco mais lento, ainda era um excelente agente de campo.
Também ainda é um pão, Lembrou a si própria.
Durante alguns instantes pensou – agora que as coisas com Ryan não tinham dado certo, talvez ela e Bill pudessem…?
Mas não, ela sabia que era uma péssima ideia. No passado, ela e Bill tinham feito tentativas desastradas de iniciar algo sério e os resultados tinham sido desastrosos. Bill era um ótimo parceiro e um amigo ainda melhor. Seria uma estupidez estragar isso.
“Bom trabalho,” Disse Bill a Riley, sorrindo abertamente.
“Pois, salvou-me a vida, Agente Paige,” Disse Lucy a rir. “Nem acredito que me deixei atingir. Não o consegui abater quando estava mesmo à minha frente!”
“Isso faz parte do objetivo do sistema,” Disse Bill a Lucy, dando-lhe uma palmadinha nas costas. “Mesmo agentes muito experientes tendem a falhar os seus alvos a curta distância. A RV ajuda a lidar com esse tipo de problema.”
Lucy disse, “Bem, nada como ser atingida por uma bala virtual no ombro para nos ensinar essa lição.” Esfregou o ombro onde o equipamento a tinha atingido com uma ligeira ferroada para que soubesse que tinha sido atingida.
“É melhor do que se for uma real,” Disse Riley. “De qualquer das formas, desejo-te uma rápida recuperação.”
“Obrigada!” Disse Lucy, rindo novamente. “Já me sinto melhor.”
Riley guardou a pistola modelo e apanhou a falsa espingarda de assalto. Lembrou-se do recuo que sentira ao disparar ambas as armas. E o edifício abandonado não existente fora detalhado e realista.
Ainda assim, Riley sentiu-se estranhamente vazia e insatisfeita.
Mas era óbvio que tal não era culpa de Bill ou Lucy. E ela estava grata por eles se terem juntado a ela naquela manhã para aquele exercício.
“Obrigada por concordarem em fazerem isto comigo,” Disse ela. “Acho que precisava de libertar alguma tensão.”
“Sentes-te melhor?” Perguntou Lucy.
“Sim,” Disse Riley.
Não era verdade, mas pensou que uma pequena mentira não faria mal a ninguém.
“E se fôssemos buscar um café?” Perguntou Bill.
“Parece-me uma excelente ideia!” Disse Lucy.
Riley abanou a cabeça.
“Hoje não, obrigada. Fica para outro dia. Vão vocês.”
Bill e Lucy abandonaram a enorme sala de RV. Por um momento, Riley pensou se afinal deveria ir com eles.
Não, seria uma péssima companhia, Pensou.
As palavras de Ryan continuavam a ecoar na sua cabeça…
“Riley, a Jilly foi uma decisão tua.”
O Ryan tinha realmente uma lata monumental para virar as costas à Jilly.
Mas Riley agora não estava zangada. Estava dolorosamente triste.
Mas porquê?
Lentamente percebeu…
Nada é real.
Toda a minha vida, é tudo uma falsidade.
A sua esperança de ter novamente uma família com Ryan e as miúdas havia sido apenas uma ilusão.
Tal como esta maldita simulação.
Caiu de joelhos e começou a soluçar.
Demorou alguns minutos até Riley se recompor. Grata por ninguém a ter visto naquele estado, levantou-se e foi para o seu gabinete. Mal entrou, o telefone começou a tocar.
Ela sabia quem lhe ligava.
Ela esperava aquela chamada.
E sabia que a conversa não ia ser fácil.
“Olá Riley,” Disse uma voz de mulher quando Riley atendeu a chamada.
Era uma voz doce – trémula e débil com a idade, mas amigável.
“Olá Paula,” Disse Riley. “Como tem passado?”
Paula suspirou.
“Bem, já se sabe – o dia de hoje é sempre difícil.”
Riley compreendia. A filha de Paula, Tilda, tinha sido morta naquele dia há vinte e cinco anos.
“Espero que não se importe que eu ligue,” Disse Paula.
“Claro que não, Paula,” Garantiu-lhe Riley.
No final de contas, Riley tinha iniciado a sua bastante peculiar relação há vários anos. Riley nunca trabalhara no caso do homicídio de Tilda. Entrara em contacto com a mãe da vítima muito depois do caso ser arquivado.
Esta chamada anual entre elas já era um ritual há vários anos.
Riley ainda o considerava estranho, ter aquelas conversas com alguém que não conhecia. Nem sabia qual o aspeto de Paula. Sabia que tinha sessenta e oito anos. Tinha quarenta e três, só três anos mais nova do que Riley, quando a filha fora assassinada. Riley imaginava-a como uma figura de avó carinhosa de cabelo grisalho.
“Como está Justin?” Perguntou Riley.
Riley tinha falado com o marido de Paula algumas vezes, mas nunca o conhecera.
Paula suspirou novamente.
“Faleceu no verão passado.”
“Lamento,” Disse Riley. “Como aconteceu?”
“Foi súbito, repentino. Um aneurisma – ou talvez um ataque cardíaco. Propuseram fazer uma autópsia para determinar a causa. Eu disse, ‘Para quê darem-se ao trabalho?’ Não o ia trazer de volta.”
Riley sentiu pena da mulher. Ela sabia que Tilda fora a sua única filha. A perda do marido não podia ser fácil.
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