- Que estrela? – Holt respondeu.
- O corpo dela está virado de lado e para cima. Na luz do sol, isso cria a sombra de uma imagem com a forma dela. Muito raro. Parece quase como se fossem duas pessoas, de costas uma para a outra. Entre o corpo e a sombra, alguém desenhou uma estrela. Pode ser uma coincidência, mas o local é perfeito. Talvez podemos ter sorte se o assassino desenhou com saliva.
Holt virou-se para um de seus homens.
- Você viu uma estrela?
- Não, senhor. – Respondeu um homem magro, loiro e de olhos castanhos.
- E os peritos?
O detetive balançou a cabeça.
- Ridículo. – Holt murmurou. – Uma estrela desenhada? Uma criança poderia ter feito isso. Uma sombra? Sombras são feitas pela luz. Não tem nada de especial nisso, Detetive Black.
- Quem é o dono do iate? – Avery perguntou.
- Essa informação não nos ajuda. – O’Malley respondeu. – É um grande empresário do ramo imobiliário. Está no Brasil a negócios há pelo menos um mês.
- Se o barco foi limpo no último mês - Avery disse, - então a estrela foi colocada aqui pelo assassino. E já que está localizada perfeitamente entre o corpo e a sombra, tem que ter algum significado. Não tenho certeza do que, mas é algo.
O’Malley olhou para Holt.
Holt suspirou.
- Simms - ele falou para o agente loiro, - traga os peritos de volta. Investiguem a estrela e a sombra. Eu vou telefonar quando nós terminarmos.
Holt lançou um olhar miserável para Avery e balançou sua cabeça.
- Vamos ver o apartamento dela.
Avery caminhou vagarosamente pelo hall do prédio escuro, com Ramirez a seu lado e seu coração batendo mais forte, como sempre acontecia quando ela entrava na cena de um crime. Nesse momento, ela desejava estar em qualquer lugar que não fosse ali.
Ela fugiu daquela sensação. Fez sua expressão de trabalho e forçou-se a observar cada detalhe.
A porta do apartamento da vítima estava aberta. Um agente parado do lado de fora moveu-se para permitir que Avery e os outros entrassem na cena do crime.
Um corredor estreito levava à sala. A cozinha ficava ao lado do corredor. Nada parecia fora do comum ali; apenas um apartamento muito bacana. As paredes eram pintadas de cinza claro. Havia estantes de livros por todos os lados. Pilhas de livros estavam no chão. Plantas penduradas nas janelas. Um sofá verde de frente para uma televisão. No único quarto, a cama estava feita, com um edredom branco de renda.
O único fator obviamente estranho no apartamento estava na sala, onde claramente faltava um tapete central. Um contorno de poeira, em um espaço escuro, havia sido marcado com várias etiquetas amarelas de polícia.
- O que os peritos encontraram aqui? – Avery perguntou.
- Nada - disse O’Malley. – Nenhuma digital. Nenhuma câmera. Estamos no escuro.
- Algo foi tirado do apartamento?
- Não que eu saiba. O pote de moedas está cheio, as roupas estão arrumadas no cesto. Dinheiro e documentos ainda nos bolsos.
Avery começou a analisar o apartamento.
Como fazia habitualmente, moveu-se em pequenas seções e observou cada uma delas com cuidado—as paredes, o piso, os rodapés de madeira, as bugigangas nas prateleiras. Havia uma foto da vítima com duas amigas. Ela fez uma nota mental para lembrar-se de descobrir os nomes e o contato delas. As estantes e pilhas de livros foram analisadas. Havia muitos romances. O restante era, em sua maioria, sobre assuntos espirituais, como autoajuda e religião.
Religião, Avery pensou.
A vítima tinha uma estrela sobre a cabeça.
Seria a estrela de Davi?
Após observar o corpo morto no barco e o apartamento, Avery começou a formar uma imagem do assassino em sua mente. Ele havia atacado pela entrada. A morte foi rápida e ele não deixou marcas, não cometeu erros. As roupas e efeitos na vítima foram deixados em um local limpo, sem desarrumar o apartamento. Apenas o tapete foi movido, e havia poeira na área e nas bordas. Algo ali havia deixado o assassino com raiva. Se ele foi tão meticuloso em todos os outros detalhes, Avery imaginou, por que não limpar a poeira nas bordas do tapete? Por que não remover o tapete por completo? Por que não deixar tudo em condições perfeitas? Ele quebrou o pescoço dela, tirou suas roupas, colocou-as no cesto e deixou tudo em ordem, mas depois a enrolou em um tapete e a carregou como um selvagem.
Ela foi até a janela e olhou para a rua. Havia alguns poucos lugares onde alguém poderia esconder-se e observar o apartamento sem ser visto. Um local em particular chamou sua atenção: um beco estreito e escuro atrás de uma cerca. Você estava ali? Ela se perguntou. Olhando? Esperando o momento certo?
- Então? – O’Malley disse. – O que você acha?
- Temos um assassino em série em nossas mãos.
- O assassino é homem e é forte – Avery continuou. – Ele claramente destruiu a vítima e teve que carregá-la até a doca. Parece uma vingança pessoal.
- Como você sabe? – Holt perguntou.
- Por que se meter em tantos problemas com uma vítima qualquer? Nada parece ter sido roubado, então não foi um assalto. Ele foi preciso em tudo, menos no tapete. Se você gasta tanto tempo planejando um assassinato, tirando a roupa da vítima e colocando as roupas dela num cesto, por que levar qualquer item dela? Parece um gesto planejado. Ele queria algo. Talvez mostrar que ele era forte? Que ele poderia fazer isso? Não sei. E deixá-la num barco? Nua e à vista de todo o porto? Esse cara quer ser visto. Ele quer que todo mundo saiba que ele foi o assassino. Talvez nós temos outro assassino em série nas mãos. Qualquer que seja a decisão que você tome sobre quem vai cuidar desse caso - ela olhou para O’Malley, - você tem que decidir logo.
O’Malley virou-se para Holt.
- Will?
- Você sabe o que eu penso disso – Holt respondeu.
- Mas você vai fazer o chamado?
- Isso está errado.
- Mas?
- Como o prefeito quiser.
O’Malley virou-se para Avery.
- Você está pronta? – Ele perguntou. – Seja sincera comigo. Você acabou de sair de um caso de um assassino em série pesado. A imprensa te crucificou a cada passo. Os olhos vão estar em você de novo, mas dessa vez, o prefeito vai prestar uma atenção especial. Ele pediu especificamente por você.
O coração de Avery bateu mais rápido. Fazer a diferença como policial era o que ela realmente amava em seu trabalho, mas pegar assassinos em série e vingar mortes era o que ela ansiava.
- Nós temos vários casos em aberto - ela disse, - e um julgamento.
- Eu posso colocar Thompson e Jones nisso. Você pode supervisionar o trabalho deles. Se você pegar este caso, ele terá prioridade.
Avery virou-se para Ramirez.
- Você topa?
- Claro. – Ele assentiu.
- Estamos dentro - ela disse.
- Muito bem. – O’Malley suspirou. – Você está no caso. O Capitão Holt e seus homens vão cuidar do corpo e do apartamento. Você terá total acesso aos arquivos e total cooperação deles durante a investigação. Will, quem eles devem procurar se precisarem de informações?
- O Detetive Simms – ele respondeu.
- Simms é o detetive líder que você viu hoje de manhã, - O’Malley prosseguiu, - loiro, olhos escuros, durão. O barco e o apartamento serão cuidados pelo A7. Simms vai entrar em contato diretamente com você se encontrar qualquer pista. Talvez você deva falar com a família por agora. Veja o que você consegue descobrir. Se você estiver certa e isso for algo pessoal, eles podem estar envolvidos ou terem informações que podem ajudar.
- Estamos dentro – Avery disse.
*
Uma rápida ligação para o Detetive Simms e Avery soube que os pais da vítima moravam um pouco mais ao norte, fora de Boston, na cidade de Chelsea.
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