“Provavelmente é verdade” disse Kevin. Ele começou a avançar. “Mas ainda assim eu vou ajudá-la.”
Ele partiu em direção a Chloe e não ficou tão surpreendido por ver Luna correr ao seu lado.
“Eu estou a fazer isto por ti, não por ela” disse Luna.
“Claro” Kevin concordou, correndo mais rápido.
“E podes parar de sorrir” continuou Luna. “Eu só estou a fazer isto porque senão tu irás ficar alienado se eu não ajudar.”
“Alienado?”
“Vou pensar numa palavra melhor depois” disse Luna.
Eles estavam quase a chegar a Chloe agora. Uma das pessoas controladas tentou agarrá-la, mas Kevin e Luna foram mais rápidos, agarrando-a, puxando-a para fora do caminho e descendo para as árvores. A encosta tornava a descida traiçoeira, mas talvez isso fosse uma coisa boa quando uma das pessoas controladas passasse por eles a cair.
“Tu vieste atrás de mim” disse Chloe. “Tu...”
“Pára de falar e continua a correr” Luna retrucou. “O carro está mais à frente.”
E o caminhante restante estava logo atrás, movendo-se com toda a tenacidade de um lobo perseguindo um cervo. Kevin não queria pensar em como este tipo de coisa geralmente terminava, ele apenas continuava a correr, mudando de direção por entre as árvores.
O caminhante controlado por alienígenas agarrou-se a ele e Kevin conseguiu se esquivar. Para sua surpresa, Chloe estava lá, empurrando o homem de lado, fazendo com que ele caísse pela encosta abaixo enquanto lutava para parar a sua queda. Ela sorriu, embora Kevin estremecesse, porque mesmo que houvesse um alienígena a controlar aquele corpo, ele ainda pertencia a alguém, e se eles o recuperassem, provavelmente quereriam que ele não tivesse os ossos partidos.
“Entrem!” Luna gritou lá da frente. Ela estava no carro agora, tendo saltado para o lugar do motorista.
Kevin e Chloe correram para o carro e entraram enquanto Luna começou a girar a chave. Kevin ouviu-a a resmungar baixinho, e foi apenas preciso um momento para perceber o motivo: o carro não estava a pegar. Fazia uma espécie de zumbido, um som de tosse, mas fora isso, nada acontecia, não importando quantas vezes Luna tentasse que ele trabalhasse.
O medo cresceu em Kevin naquele momento, embora ele tivesse sempre estado com medo mais do que suficiente, por ter de fugir de pessoas controladas pelos alienígenas. Ele olhou em volta para as árvores, tentando detetar movimento, procurando por qualquer sinal das pessoas controladas. Não apenas daquelas que tinham caído pela encosta abaixo, porque haveria mais. Parecia sempre haver mais.
“Não está a funcionar” disse Luna.
“Não vai funcionar” disse Chloe. “Tu afogaste-o”
“Como se tu percebesses alguma coisa disso” Luna ripostou.
Parecia uma discussão que demoraria muito e seria demasiado barulhenta; isso iria fazer com que eles ainda estivessem ali sentados quando chegassem mais pessoas controladas Kevin achava que já conseguia ver a agitação das folhas das árvores.
“Temos que ir” disse Kevin. Ele achava que conseguia ver formas para lá dos troncos mais próximos. “Temos que ir agora.”
Ele saiu do carro novamente e elas seguiram-no com óbvia relutância. Pelo menos elas seguiram-no, deslizando para o meio das árvores mesmo a tempo. Kevin olhou para trás e viu os caminhantes, soldados, guardas florestais e famílias, a irem na direção do carro numa massa silenciosa e coordenada. Alguns deles olhavam ao redor, parecendo quase estarem a cheirar o ar. Kevin correu para longe o mais rápido que ousou.
“Eles não vão se distrair com o carro por muito tempo” Kevin supôs. “Precisamos de pensar em outra coisa.”
“Há imensos carros lá em cima no estacionamento” disse Chloe.
Luna bufou. “Para os quais não temos chaves.”
“Eu não preciso de uma chave. Era isso que eu estava a fazer lá em cima, até eles irem atrás de mim.” Ela ainda soava como se quisesse provocar uma discussão, mas naquele momento, se eles todos conseguissem sair dali, Kevin conseguiria viver com isso.
“Precisamos de ficar calados” disse Kevin, e elas olharam para ele como se ele tivesse acabado de dizer a coisa mais óbvia do mundo. Todos continuaram a andar para a frente rastejando, subindo a montanha até ao cume e ao parque de estacionamento que existia ali para os visitantes. Por enquanto, pelo menos, parecia estar vazio.
“Podias muito bem tirar essa máscara idiota” Chloe disse para Luna. “Eu disse-te, o que quer que tenha sido que eles colocaram no ar já desapareceu. Ou estás com medo?”
Esta última frase foi o suficiente para atingir Luna. De uma maneira contundente, ela tirou a máscara, pendurando-a no seu cinto.
“Eu não estou com medo” disse ela. “Simplesmente não sou estúpida.”
“Precisamos de encontrar um carro” disse Kevin, interrompendo antes que elas pudessem discutir novamente.
Havia muito por onde escolher, deixados onde quer que tivessem sido estacionados pelas pessoas que visitavam a montanha. Havia SUVs e minivans, carros modernos e antigos em todos os tipos de cores e...
“Aquele” Chloe disse, apontando para uma pick-up que parecia tão maltratada que Kevin estava surpreendido por restar ainda alguma coisa dela. A pintura estava a descascar e a ferrugem aparecia em alguns pontos. “Eu vou conseguir por aquele a funcionar.”
Eles foram até lá e viram que uma das janelas estava ligeiramente aberta. Chloe puxou-a ainda mais para baixo, depois pôs a mão lá dentro e abriu a porta.
“Não te preocupa que ela saiba como fazer tudo isto?” Luna perguntou a Kevin.
Chloe olhou para trás. “Nem todos nós temos pequenas vidas perfeitas, líder de claque.”
Kevin ficou quase grato pela visão de um grupo de pessoas controladas a avançarem lentamente, obviamente à procura.
“Rápido” ele disse “para a pick-up!”
Eles entraram, mantendo a cabeça baixa. Chloe estava no banco do condutor a trabalhar algo com a ignição. Parecia estar a demorar muito tempo.
“Eu pensei que tu tinhas dito que conseguias fazer isto” sussurrou Luna.
“Eu gostaria de te ver a tentar” Chloe retrucou.
“Desde que nos consigas levar para a NASA” disse Luna.
Chloe abanou a cabeça. “Nós vamos para Los Angeles.”
“São Francisco” insistiu Luna.
“Los Angeles” Chloe ripostou.
Kevin sabia que tinha de intervir, porque, se não o fizesse, provavelmente elas ainda estariam a discutir quando as pessoas controladas os alcançassem.
“Por favor, Chloe, nós precisamos ouvir esta mensagem. E... bem, se não der certo, então talvez pudéssemos ir para Los Angeles. Juntos.”
Chloe ficou calada por um minuto. Kevin ousou dar uma olhadela por cima do painel de instrumentos do carro. Ele esperava que ela tomasse uma decisão em breve, porque o grupo de pessoas controladas estava a aproximar-se.
“Eu acho que vocês basicamente salvaram-me a vida da outra vez” disse Chloe. “Ok.”
Ela continuou a fazer o que estava a fazer com a ignição. O motor tossiu. Kevin olhou para cima e viu cada uma das pessoas controladas pelos alienígenas a olhar fixamente para eles agora, com a intensidade de um gato que acabara de avistar um rato.
“Hum... Chloe?”
Eles começaram a correr para a frente.
“Consegues fazer isto ou não?” Luna perguntou.
Chloe não respondeu, limitando-se a continuar a trabalhar no que estava a fazer. O motor gaguejou novamente, e, depois, começou a trabalhar. Chloe olhou para cima triunfante.
“Veem! Eu disse-vos que...”
Ela parou logo a seguir quando uma figura bateu na pick-up, tentando agarrá-los.
“Tira-nos daqui” disse Kevin, e Chloe assentiu.
A pick-up foi aos solavancos para a frente enquanto ela conduzia, aparentemente não se importando se batia nas pessoas controladas ou não. Eles giraram em torno de um carro e um soldado atirou-se para a frente da pick-up. Chloe não diminuiu a velocidade nem por um momento, e o estrondo quando o atingiram foi horrível. Ele bateu no capô, rebolou e levantou-se, mas nessa altura eles já se tinham afastado.
Читать дальше